Notas internacionais (por Ana Prestes) 20/03/19
– A visita de Bolsonaro aos EUA foi um show à parte dos últimos dias. Houve fala contra cidadãos brasileiros imigrantes, jantar com Olavo de Carvalho, chilique de chanceler preterido pelo filho do presidente em audiência com Trump, mas o principal é que houve concessões a perder de vista: com abertura de vistos livres para turistas americanos, com renúncia ao tratamento diferenciado que o Brasil recebe hoje na OMC por ser um país em desenvolvimento, teve fala presidencial de ir “até as últimas consequências” para “ajudar” a Venezuela, teve sabe-se lá que acordo e abertura de dados para CIA e FBI, teve abertura da base de Alcântara, teve aumento da cota de compra de trigo norte-americano (prejudicando produtores brasileiros), e por aí vai…
– Do lado de lá, dos EUA, houve pouca ou praticamente nenhuma contrapartida. Promessas de “ajudar” no ingresso na OCDE, de talvez voltar a comprar carne bovina brasileira após visitas de inspeção, de talvez inserir o Brasil em um programa de viajantes “confiáveis” (com liberação mais rápida de visto por serem de “baixo-risco”) e algumas outras promessas vagas.
– Foi divulgada nota oficial conjunta sobre o encontro entre Trump e Bolsonaro. Temas citados: apoio de ambos ao “autoproclamado” presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó; reforço do Fórum Permanente de Segurança Brasil-EUA; a isenção de visto de turista para cidadãos dos EUA que entrarem no Brasil; dar início aos “passos necessários” para a participação do Brasil no Programa de Viajantes Confiáveis “Global Entry” dos EUA; a designação do Brasil como “aliado prioritário extra-OTAN” (outros 17 países também são); acordo de salvaguardas tecnológicas que permitirá os EUA utilizarem a base de Alcântara; estabelecimento de cota tarifária para importação pelo Brasil de 750 mil toneladas de trigo norte-americano com tarifa zero; busca de condições para importação de carne de porco dos EUA; agendamento de visita de representantes dos EUA ao sistema de inspeção de carne de vaca “in natura” do Brasil (para retomar exportação brasileira); negociação de um ARM (acordo de reconhecimento mútuo) para reduzir custos para empresas norte-americanas e brasileiras; criação de um fundo de investimento de 100 milhões para preservação da biodiversidade da Amazônia; criação do Fórum de Energia Brasil-EUA para facilitar comércio e investimentos no setor energético; apoio norte-americano para que o Brasil inicie processo com vistas a tornar-se membro pleno da OCDE (em contrapartida o Brasil se adequará à política norte-americana em relação à OMC).
– Bolsonaro nem chegou ao Chile e já causa polêmica por lá. A visita está prevista para ocorrer amanhã (21) e sexta (22). O presidente do Senado chileno, Jaime Quintana, anunciou que não aceitou convite do presidente Sebastián Píñera para almoço que será oferecido para o presidente brasileiro. Ele disse ainda que não estará em nenhum evento da programação de Bolsonaro no Chile. O vice-presidente do Senado chileno também recusou o convite e um parlamentar, Vlado Mirosevic, do Partido Liberal que também recusou convites disse no twitter: “Bolsonaro como um líder perigoso para os valores republicanos”, por “ter feito da discriminação e o ódio sua política”.
– Bolsonaro e Ivan Duque, presidente da Colômbia, se reunirão na sexta-feira com o anfitrião chileno Sebastián Piñera para tratar do Prosul, um mecanismo de integração da América do Sul com o qual pretendem substituir a Unasul.
– Uma nota conjunta dos Ministérios da Economia e das Relações Exteriores do Brasil informou ontem (19) que está em vigor o livre comércio para automóveis entre Brasil e México, sem a cobrança de tarifas ou limitação quantitativa.
– O Brasil estará representado na Segunda Conferência de Alto Nível das Nações Unidas sobre Cooperação Sul-Sul, que será realizada em Buenos Aires a partir de hoje (20) até o dia 22. O tema da conferência será: “O papel da cooperação Sul-Sul na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável: desafios e oportunidades”. O Brasil herdou dos governos Lula e Dilma mais de 380 projetos de cooperação Sul-Sul com 63 países em desenvolvimento.
– China e EUA retomarão as negociações comerciais na próxima semana. As negociações estão caminhando para a etapa final, visto que a deadline estabelecida foi o final de abril.
– Rússia e EUA mantiveram ontem (19) um encontro em que trataram sobre a situação da Venezuela. A reunião foi em Roma, entre o representante especial do governo Trump para a Venezuela, Elliiott Abrams, e o vice-ministro de relações exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov. De acordo com as declarações dadas à imprensa por ambos, pouco se avançou no sentido dos EUA convencerem a Rússia a apoiar Guaidó. Abrams está na Europa percorrendo governos, agências e autoridades, buscando apoio para o intervencionismo norte-americano na Venezuela.
– A França teve um dia de manifestações gigantes no dia de ontem (19), em mobilização por aumentos salariais convocadas por centrais sindicais. Os protestos ocorreram poucos dias após enfrentamento nas ruas entre coletes amarelos e policiais franceses.
– Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia estabeleceu para o dia 20 de outubro o dia das eleições presidenciais de 2019.
– O primeiro ministro do Haiti, Jean Henry Céant, caiu nesta segunda (18) com a aprovação de uma moção de censura no parlamento por 93 votos a favor, 6 contrários e 3 abstenções.
– Presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, que estava há 30 anos no poder, renunciou ao cargo nesta terça 19.
Ana Maria Prestes
A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, é membro do Comitê Central e da Comissão de Política e Relações Internacionais.