Visão Global

O “partido americano” nas instituições da União Europeia

O Parlamento Europeu acaba de adotar uma resolução para que a UE cesse de considerar a Rússia como um parceiro estratégico, mas mais como uma inimiga da Humanidade.

Por Manlio Dinucci*

Ao mesmo tempo, a Comissão adverte contra a ameaça chinesa. Tudo se passa como se os Estados Unidos manobrassem a União para fazê-la entrar na sua estratégia supremacista.

“A Rússia já não pode ser considerada um parceiro estratégico e a União Europeia deve estar pronta para impor-lhe novas sanções se ela continuar a violar o Direito Internacional”: esta é a resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, em 12 de março, com 402 votos a favor, 163 contra e 89 abstenções [1].

A resolução, apresentada pela deputada letã, Sandra Kalniete, nega principalmente a legitimidade das eleições presidenciais na Rússia, definindo-as como “não democráticas”, apresentando assim o Presidente Putin como um usurpador.

Acusa a Rússia não só de “violar a integridade territorial da Ucrânia e da Geórgia”, mas de “intervir na Síria e interferir em países como a Líbia” e, na Europa, de “interferir com o objetivo de influenciar as eleições e aumentar as tensões”.

Acusa a Rússia de “violar acordos de controle de armas”, atribuindo-lhe a responsabilidade de ter prejudicado o Tratado INF.

Acusa-a, também, de “extensas violações dos Direitos Humanos dentro dela, incluindo tortura e execuções extrajudiciais”, e de “assassinatos cometidos pelos seus agentes, com armas químicas, em solo europeu”.

No final destas e de outras acusações, o Parlamento Europeu declara que o Nord Stream 2, o gasoduto destinado a duplicar o fornecimento de gás russo à Alemanha, através do Mar Báltico, “deve ser interrompido porque aumenta a dependência da UE do fornecimento de gás russo, ameaçando o seu mercado interno e os seus interesses estratégicos”.

A resolução do Parlamento Europeu repete fielmente, não apenas no conteúdo, mas usando as mesmas palavras, as acusações que EUA e Otan fazem à Rússia. E, o mais importante, repete fielmente o pedido para bloquear o Nord Stream 2: objetivo da estratégia de Washington visando reduzir o fornecimento de energia da Rússia à União Europeia e substituí-la com o proveniente dos Estados Unidos ou mesmo, de empresas americanas.

No mesmo âmbito, enquadra-se a comunicação da Comissão Europeia aos países membros [2], entre os quais, a Itália, com a intenção de aderir à iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda:

A Comissão adverte que a China é um parceiro, mas também um concorrente econômico e, mais importante, “um rival metódico que promove modelos alternativos de governação”, por outras palavras, modelos alternativos à governação dominada até agora pelas potências ocidentais.

A Comissão adverte que é necessário antes de tudo “salvaguardar as infraestruturas digitais críticas, de ameaças potencialmente perigosas para a segurança”, derivadas das redes 5G fornecidas por empresas chinesas como a Huawei, banida nos Estados Unidos.

A Comissão Europeia repete fielmente o aviso dos Estados Unidos aos Aliados.

O Comandante Supremo Aliado na Europa, o General americano, Scaparrotti, alertou que as redes móveis ultra-rápidas da quinta geração desempenharão um papel cada vez mais importante nas capacidades bélicas da Otan, de modo que não se admitem “ligeirezas” da parte dos aliados. Tudo isto confirma qual é a influência que o “partido americano” exerce, um poderoso alinhamento transversal que orienta as políticas da União em simultâneo, com as linhas estratégicas EUA/Otan.

Ao construir a imagem falsa de uma Rússia e China ameaçadoras, as instituições da UE preparam a opinião pública para aceitar o que os EUA estão a preparar para “defender” a Europa:

Os Estados Unidos – declarou à CNN um porta-voz do Pentágono – estão a preparar-se para testar mísseis balísticos com base em terra (proibidos pelo tratado INF destruído por Washington), isto é, novos mísseis europeus que farão novamente da Europa, a base e ao mesmo tempo, o alvo de uma guerra nuclear.

* Geógrafo, geopolítico e escritor

Fonte: Il Manifesto (Itália) via Rede Voltaire / Tradução: Maria Luísa de Vasconcellos

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