Luta dos povos

Uma festa marcada pela história

La Fête de l’Humanité é um festival anual organizado pelo jornal francês L’Humanité, fundado por Jean Jaurès em 1904. O evento ocorre desde 1930 e tem raízes profundamente ligadas à esquerda francesa, especialmente ao Partido Comunista Francês (PCF). Tradicionalmente realizada em setembro, a Fête já aconteceu em diversos locais ao redor de Paris e reúne milhares de pessoas. Hoje é o maior festival realizado na França e estima-se receber quase meio milhão de pessoas.

por Alexandre Santini, Ana Prestes, Tiago Alves Ferreira

Origem e significado histórico

A primeira edição da Fête de l’Humanité aconteceu em 1930. Inicialmente, o evento tinha como objetivo angariar fundos para sustentar o jornal L’Humanité, órgão oficial de comunicação do PCF. No entanto, ao longo dos anos, o evento ganhou proporções culturais, políticas e sociais mais amplas, tornando-se um símbolo de resistência e solidariedade entre a classe trabalhadora e a esquerda francesa em geral.

Conferência de Tours. Dezembro de 1920 | Foto: Biblioteca Nacional da França

Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, a festa foi suspensa, mas retornou em 1945, com a libertação da França. Desde então, ela se consolidou como um dos maiores eventos de celebração política e cultural do país, recebendo não apenas figuras políticas, mas também artistas, músicos e intelectuais.

Estrutura e programação

La Fête de l’Humanité é conhecida por sua variada programação. Isso inclui os debates políticos que são uma parte fundamental da festa, onde temas como trabalho, justiça social, igualdade de gênero, ecologia e direitos humanos são discutidos entre figuras de destaque da esquerda francesa e internacional.

Concertos e performances artísticas também são muito concorridos na Festa. Ao longo dos anos, La Fête de l’Humanité se tornou famosa por seus shows com a presença de grandes nomes da música francesa e internacional. Já passaram pelos palcos da festa, artistas e bandas como Manu Chao, The Clash, Renaud, James Brown, Pink Floyd, Joan Baez, The Who, Chuck Berry, entre outros.

James Brown (1982) | Crédito: Memórias da humanidade

A festa, para além da música e da política, também é um espaço para a arte. Diversas exposições fotográficas, de cinema, teatro, artes plásticas e visuais são montadas, abordando temas sociais e políticos.

Há ainda a Village du Monde é o espaço que abriga as delegações internacionais presentes. Um local da solidariedade entre os povos por abrigar estandes e pavilhões dedicados a países em luta contra o imperialismo, o colonialismo e em busca de libertação nacional, como Palestina, Cuba, Vietnã, Saara Ocidental, Portugal, Líbano e muitos outros.

Transformações ao longo do tempo

Nas últimas décadas, La Fête de l’Humanité passou por diversas transformações. Enquanto nos primeiros anos o evento era mais fortemente associado ao Partido Comunista Francês, com o tempo ele passou a incorporar uma gama mais ampla de movimentos sociais, refletindo as mudanças dentro da própria esquerda francesa. Isso permitiu à Fête de l’Humanité se manter relevante em um contexto político em evolução.

Além disso, o festival cresceu significativamente em termos de tamanho e diversidade de público. Atualmente, ele atrai centenas de milhares de participantes, incluindo jovens, sindicalistas, ambientalistas e militantes de diversas causas.

Importância na atualidade

A Fête de l’Humanité continua a desempenhar um papel importante na paisagem política e cultural da França e é a festa da solidariedade e da esperança na construção de dias melhores e felizes. O lema do PCF na edição de 2024 foi: “Inventando a França dos dias felizes”.  Em uma era de desafios políticos, como a ascensão do populismo de extrema direita e a crise do capitalismo global, o festival é um espaço onde as forças progressistas podem se reunir, debater e se mobilizar.

A Fête de l’Humanité é também uma celebração de resistência cultural. No seu âmago, ela simboliza a capacidade de resistência e a luta por um mundo mais justo e igualitário, mantendo-se fiel às suas raízes no movimento operário e no jornalismo progressista. Desde 2023, a Festa se realiza durante três dias em um local completamente novo: na antiga base aérea 217 em Plessis-Pâté, no coração de Essonne. Ao atravessar os portões da Festa, vivem se horas e dias de confraternização, arte, literatura, música, boa comida e muita solidariedade.

 

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