Súmula Internacional 113 – Crise na Coreia do Sul: Quando a maquiagem derrete com o calor
Leia mais: Síria sob grave ameaça / Acordo estratégico entre Rússia e RPDC entra em vigor / Primeiro-Ministro da Geórgia: “Fracassou o novo Maidan”
De tudo que se diz e escreve sobre a tentativa frustrada de golpe de Estado na Coreia do Sul, país apontado como “democrático” pela mídia hegemônica (o jornal O Globo, desta quinta-feira, dia 5, fala em “democracia vibrante”) um aspecto é pouco salientado: o presidente golpista, Yoon Suk-yeol, alegou, para a implementação da lei marcial, a necessidade de “erradicar forças pró-Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional livre”. Agora, me expliquem o seguinte: segundo a mídia atlantista (subordinada aos EUA e à OTAN), a Coreia do Norte seria o inferno na terra e a Coreia do Sul praticamente um paraíso da liberdade. Como é possível, neste cenário, que existam “forças pró-Coreia do Norte” tão poderosas assim na “democracia vibrante” de O Globo?
Forçoso reconhecer, mesmo para aqueles que deixaram teias de aranha crescerem em seus cérebros, que esse aparente contrassenso só revela uma coisa: essa mídia hegemônica mente tanto acerca da realidade da República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) quanto em relação à realidade da República da Coreia (Coreia do Sul). A respeito da Coreia do Sul, não dizem, por exemplo, que o “tigre asiático” ganhou seus dentes em boa parte porque foi abastecido, na época da guerra fria, com bilhões de dólares vindos dos EUA, interessados em “conter o comunismo” e que durante anos os sul-coreanos foram governados por ditaduras abertas, sendo que na atual “democracia vibrante” está até hoje em vigor uma “Lei de Segurança Nacional” que proíbe a existência de partidos socialistas e comunistas e reprime fortemente qualquer expressão de esquerda.
Recentemente, no dia 30 de agosto, agentes da Divisão de Investigação de Segurança Nacional invadiram as sedes e escritórios do Partido da Democracia Popular (PDP), organização de esquerda fundada em 2016 e prenderam diversos militantes e dirigentes, acusados de ligação com a Coreia Popular. Realmente, é o tipo de “democracia vibrante” que O Globo e seus congêneres gostam.
Uma pesquisa realizada em 2020 pelo jornal The Hankyoreh, revelou que três em cada quatro jovens sul-coreanos entre 19 e 34 anos querem deixar o país, sendo que um dos motivos mais relevantes é a estratificação social. A mesma pesquisa revela que 85% dos jovens concordam com a frase: “Pessoas que nasceram pobres nunca serão capazes de competir com pessoas que nasceram ricas“.
Além de ser socialmente estratificada e pouco democrática, a Coreia do Sul é uma nação ocupada por uma potência estrangeira, sendo no mínimo duvidoso considerá-la um país plenamente independente. Os EUA têm, segundo diversas fontes, no mínimo 30 mil soldados estacionados permanentemente no país asiático, para defender o “paraíso” capitalista, enquanto que a Coreia do Norte conta apenas com seu próprio povo para sua defesa. Só este fato já seria o bastante para fazer mentes enferrujadas começarem a questionar se não existe algo de estranho na “narrativa” da mídia hegemônica.
De qualquer maneira, é auspiciosa a reação popular contra o presidente golpista, pois sob o calor dos protestos derrete-se a maquiagem cuidadosamente feita pela propaganda imperialista ao abordar os acontecimentos na Península Coreana.
Os próximos desdobramentos apontam para uma forte possibilidade de que o golpista sofra um impeachment e, fora do cargo, enfrente graves consequências penais, tornando premonitória a nota que o Partido da Democracia Popular emitiu quatro meses antes, durante o episódio da invasão de suas sedes e a prisão de dirigentes e militantes: “Fascistas anteriores na República da Coreia encontraram seu fim por meio de assassinato, impeachment ou prisão. Sem dúvida, Yoon Suk-yeol encontrará o fim mais terrível e miserável de qualquer fascista, e nosso povo fará com que isso aconteça (…) Onde há opressão, há resistência.”
Síria sob grave ameaça
O articulista do jornal comunista português Avante!, Jorge Cadima, define bem, na edição desta quinta-feira, o que está acontecendo na Síria: “O imperialismo espalha o caos e a guerra. Explodiu de novo a guerra na Síria. Os acontecimentos evoluem rapidamente. Mas o fundamental está já claro. Israel aceitou um ‘cessar-fogo’ com o governo libanês, patrocinado por EUA e França porque, apesar do massacre de civis, foi incapaz de avançar no terreno. Mas é apenas uma manobra dilatória. O ex-embaixador britânico Craig Murray (craigmurray.org.uk, 30.11.24) diz: ‘Israel passou 72 horas a violar flagrantemente o cessar-fogo sem uma palavra de protesto das potências ocidentais. Logo que alguém ripostar com um único tiro, os EUA e seus satélites dir-se-ão escandalizados, recomeçarão os ferozes bombardeamentos sobre Beirute e Israel avançará’. O cessar-fogo também serviu para outra coisa: logo após ser assinado, foi lançado o ataque contra a Síria. Um ataque com bombardeamentos israelenses, uma enorme campanha de desinformação midiática, ligações e apoios regionais ainda não totalmente esclarecidos e gangues terroristas fundamentalistas como tropa de choque”.
A agência Reuters informou que os terroristas sírios conquistaram a cidade de Hama nesta quinta-feira, em mais uma vitória de vulto contra o governo de Assad e seus aliados russos e iranianos, depois da conquista de Aleppo. O Exército sírio confirmou a saída da cidade, justificando que a retirada foi para “preservar a vida dos civis” e que “continuará a cumprir seu dever nacional de recuperar as áreas ocupadas por organizações terroristas”, segundo informa a RT.
A situação é grave e exige reforçar a solidariedade com a República Árabe Síria.
Acordo estratégico entre Rússia e RPDC entra em vigor
Entrou em vigor nesta quarta-feira (4) o Tratado de Parceria Estratégica Abrangente, entre a República Popular Democrática da Coreia e a Federação Russa. O vice-ministro das Relações Exteriores da RPDC, Kim Jong-gyu, e o vice-ministro das Relações Exteriores da Federação da Rússia, Andrei Rudenko, assinaram o protocolo sobre a troca de instrumentos de ratificação.
“As fortes relações Coreia do Norte-Rússia, baseadas no Tratado de Parceria Estratégica Abrangente, serão um poderoso mecanismo de segurança que promove o bem-estar dos povos dos dois países, alivia a situação regional, garante a estabilidade estratégica internacional e servirá como uma importante força motriz acelerando o estabelecimento de uma ordem mundial multipolar independente e justa, sem dominação, subjugação e hegemonia“, informou a KCNA, citada pela Sputnik.
O tratado prevê, entre outros pontos, “que um dos países ajudará o outro país em caso de ataque armado por meio de um imediato apoio militar”.
Primeiro-Ministro da Geórgia: “Fracassou o novo Maidan”
A agência Prensa Latina informa que o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobajidze, qualificou como um fracasso a tentativa da oposição georgiana de realizar um cenário semelhante ao Maidan ucraniano de 2013. “O Maidan nacional na Geórgia fracassou, apesar das tentativas orquestradas“, declarou o primeiro-ministro nesta terça-feira (3) em coletiva de imprensa, acrescentando que os organizadores dos protestos em Tbilisi são políticos da oposição e organizações não governamentais, que não poderão fugir de suas responsabilidades.
Desde 28 de novembro, após o primeiro-ministro suspender até 2028 as negociações com a União Europeia quanto ao processo de adesão, os opositores ao governo atual continuam protestando em frente à sede do Parlamento.
Os manifestantes, aos quais se juntou a presidente da Geórgia, Salomé Zurabishvili, lançam objetos contundentes e artefatos pirotécnicos contra as forças de segurança, que, por sua vez, tentam dispersar a multidão com canhões de água e gás lacrimogêneo.
No domingo, Kobajidze descartou a possibilidade de repetir as eleições legislativas, conforme exigido pela oposição, e afirmou que Zurabishvili, decidida a permanecer na presidência da Geórgia “até que haja um novo parlamento“, terá que abandonar sua residência e cedê-la a um sucessor legitimamente eleito no final de dezembro.
“Ao expor o princípio do direito dos povos à autodeterminação, elevamos a luta contra a opressão nacional ao nível da luta contra o imperialismo, nosso inimigo comum. Deixando de fazê-lo, podemos encontrar-nos na situação de quem leva água ao moinho dos imperialistas.”
Stálin, Informe Sobre o Problema Nacional, 1917
Por Wevergton Brito Lima