Solidariedade

Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz reúne-se em Damasco; leia a declaração final e falas de Socorro Gomes e Antônio Barreto

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O Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz (CMP) reuniu-se na capital da Síria, Damasco, em 27 e 28 de outubro, para discutir a atual conjuntura e as lutas dos povos contra a ofensiva imperialista encabeçada pelos Estados Unidos e respaldada por seus aliados. Na declaração final, o órgão analisa a conjuntura, identifica ações prioritárias e afirma solidariedade aos povos na luta por libertação nacional, contra a ingerência estrangeira, as guerras de agressão e a ascensão do neofascismo.

Os delegados de entidades de cerca de 30 países encontraram-se na Síria no quadro do plano de ação do CMP que previa uma visita ao país. A reunião foi acolhida pelo membro do CMP, o Conselho Nacional do Movimento Sírio de Defensores da Paz, e realizou-se na Universidade de Damasco.

Entre as entidades participantes, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) foi representado pelo presidente Antônio Barreto, pela diretora executiva Moara Crivelente e pela diretora nacional e coordenadora do núcleo da Bahia, Maria Ivone Souza.

Após aprofundado debate, as entidades integrantes do Comitê Executivo aprovaram uma Declaração Final com o conjunto ampliado dos pontos levantados por seus membros durante a reunião e os compromissos assumidos de reforço da unidade em diversas frentes e campanhas, como a campanha pela eliminação das bases militares estrangeiras, a dissolução da Otan e a eliminação das armas nucleares e outras armas de destruição em massa, que são campanhas permanentes do CMP.

Também reafirmaram o apoio resoluto aos povos em luta por libertação nacional e em defesa da sua soberania contra o avanço conservador, neoliberal e neofascista e contra as agressões e ingerência estrangeira, a começar pelo povo sírio. Leia a íntegra da Declaração:

Resolução da Conferência Internacional de Solidariedade com o Povo e a Juventude Síria Damasco, 30 de outubro de 2018

Por iniciativa da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) e do Conselho Mundial da Paz (CMP), 92 representantes de membros e amigos do CMP e da FMJD reuniram-se na capital síria, Damasco, para uma missão de solidariedade com o povo e a juventude síria de 29 a 31 de outubro de 2018. Os participantes da missão, representando 55 organizações de 37 países, realizaram em 30 de outubro uma Conferência Internacional na Universidade de Damasco, com a participação de 400 jovens e estudantes sírios, concluída com a seguinte resolução:

Saudamos o valente povo, a juventude e os estudantes da Síria e expressamos nossa sincera solidariedade diante do sofrimento e das dificuldades dos mais de sete anos durante os quais a Síria enfrentou uma agressão imperialista coordenada inédita, levada a cabo pelos EUA, a OTAN, a União Europeia, a Turquia, o estado sionista de Israel e as monarquias reacionárias do Golfo, empregando milhares de mercenários armados e extremistas como ferramentas para a destruição e a devastação do país.

Expressamos nossas condolências às famílias de milhares de vítimas que perderam suas vidas e às muitas mais que foram feridas. Denunciamos a ingerência imperialista, as sanções e as manobras que visam sufocar o povo sírio com ações terroristas, usando falsos pretextos e notícias mentirosas para alcançar o objetivo de controlar fontes energéticas, oleodutos e mercados em prol dos lucros das corporações multinacionais. Em seu empenho por assegurar esferas de influência, os imperialistas e seus aliados usaram todos os tipos de maquinações e ações que levaram ao massivo deslocamento de pessoas no interior do país, assim como a todos os países vizinhos.

Expressamos nosso apoio ao povo sírio, sua liderança e seu exército e notamos, com revolta, que apesar das importantes vitórias alcançadas, milhares de terroristas fundamentalistas armados ainda estão em solo sírio, como é o caso da província síria de Idlib. Condenamos a invasão e ocupação do norte da Síria por tropas turcas, assim como a presença de tropas dos EUA e da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] a leste do Eufrates e sua base militar em Al-Tanaaf, próximo à fronteira entre a Síria, Jordânia e Iraque. Denunciamos os planos e ações dos imperialistas para desestabilizar e dividir o país, em violação, em todos os sentidos, do direito internacional.

Os participantes da missão de solidariedade tomam conhecimento, com satisfação, em grande medida, do retorno à vida normal para o povo e a juventude síria após a derrota do EIIL [Estado Islâmico do Iraque e do Levante] e outros grupos terroristas, e sublinham a exigência de que o povo sírio seja o único responsável e com direito a decidir sobre o seu futuro e destino, com soberania e integridade territorial.

Expressamos nosso profundo respeito à resiliência e à firme resistência do povo e do exército sírio, através das quais várias cidades e áreas foram liberadas; ansiamos pela liberação completa do país, inclusive das Colinas do Golã. O plano de uma “mudança de regime” violenta fracassou graças à unidade do povo sírio, mas os planos subversivos não acabaram. Denunciamos o projeto por novas provocações planejadas sob o pretexto do uso de armas químicas e outras armas de destruição em massa, que nunca foi comprovado.

As organizações da juventude, dos estudantes e da paz de todos os cantos do mundo, com as milhões de pessoas que representamos em nossos países, declaramos nosso apoio irredutível à União Nacional de Estudantes Sírios e ao Movimento Sírio de Defensores da Paz e o nosso compromisso com a luta do povo sírio, até sua vitória final e completa.

O exemplo do heroico povo sírio mostra claramente que não importa quão forte e poderoso possa parecer e agir o inimigo imperialista, ele não é invencível. O povo sírio e sua luta constituem um exemplo e fonte de inspiração para os povos lutando por suas justas causas, por um mundo de paz e justiça social, livre da dominação imperialista e da exploração.

Reunião do Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz

Damasco, Síria | 27-28 de outubro de 2018

 

Discurso da Presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes

Estimados companheiros e companheiras de luta,

É com enorme satisfação que me dirijo a vocês nesta resistente capital da Síria. Agradeço imensamente, em meu nome e em nome do Conselho Mundial da Paz, aos companheiros do Conselho Nacional do Movimento de Defensores da Paz na Síria, ao povo sírio e às autoridades que possibilitaram o nosso encontro aqui.

Há muito, como sabem, temos programado a nossa visita a este país de aguerrida resistência, país de um valente povo que luta por sua soberania e pela paz. Poderemos finalmente cumprir este objetivo com a Missão de Solidariedade Internacional que realizaremos em parceria com a Federação Mundial da Juventude Democrática a seguir à nossa reunião. Gostaria de reforçar que estamos honrados pela acolhida e temos certeza de que nossos encontros reforçarão nossa luta e ampliarão nossas ações em prol da resistência anti-imperialista, em apoio resoluto ao empenho do povo sírio na superação de um período assombroso, mas de vitórias acumuladas.

Não há palavras suficientes para descrever a ignomínia da agressão imperialista contra a Síria e seu povo durante sete longos anos, a devastação e o sofrimento causados pelas potências imperialistas, como em outras tragédias lideradas pelos Estados Unidos da América e seus aliados.

Ao longo destes anos, o Conselho Mundial de Paz esteve ao lado do povo sírio e afirmou a enfática e irredutível condenação à agressão, à tentativa de isolamento diplomático, à ingerência e à guerra militar e midiática contra o país.

Ao reiterar nossa solidariedade, é também com esperança que nos reunimos aqui, onde podemos observar os avanços significativos conquistados pelo povo sírio, seu governo e seu exército no combate ao terrorismo que foi insuflado e se propagou com a ajuda dos EUA e seus aliados regionais. Congratulamo-nos com o povo sírio e sua liderança pelos esforços que fazem para recuperar o país após a destruição e a desestabilização e para derrotar a ofensiva terrorista e imperialista que vitimou tantos milhões de pessoas inocentes. A estas e às suas famílias, assim como a todo o povo sírio, prestamos nossa sincera homenagem.

O povo sírio, sob a liderança do governo do presidente Bashar Al-Assad, resistiu heroicamente e alcançou importantes conquistas, concertando importantes alianças internacionais. Auguramos que a vitória seja definitiva e que o país obtenha a paz e a estabilidade.

A agressão à nação árabe-síria enquadra-se no contexto mais abrangente da política imperialista de reconfiguração do Oriente Médio e do mundo para cumprir os objetivos e a agenda das potências, propiciar o saque dos recursos dos povos e o controle geoestratégico de importantes rotas. As potências imperialistas não medem custos e esforços para assegurar esses objetivos. Para organizar esse “novo” Oriente Médio, contam com sua poderosa máquina de guerra, a OTAN, sob o comando dos EUA, e com fiéis aliados regionais que promovem também seus próprios interesses geoestratégicos, como os sucessivos governos sionistas e guerreiristas de Israel, as monarquias reacionárias do Golfo e uma parte da oposição doméstica antipatriótica e ambiciosa pelo poder.

É nesse mesmo contexto que ocorre a devastação do Iêmen promovida pela coalizão de oito países da região e liderada pela Arábia Saudita, com o respaldo e o suprimento militar estadunidense, britânico e de outras potências. Neste caso específico, com o objetivo de “conter o Irã”, a Arábia Saudita e seus aliados bombardeiam covardemente um dos países mais empobrecidos do mundo, perpetrando crimes de guerra e contra a humanidade, alegando combater “rebeldes respaldados pelo governo iraniano”. De acordo com a ONU, desde 2015, cerca de 10 mil pessoas já foram mortas, das quais cerca de dois terços eram civis. Apenas em um episódio, em agosto, um bombardeio da coalizão matou 40 crianças! Mas sobre este massacre as potências que se dizem paladinas da moral humanitária têm pouco a fazer! Por isso, devemos repudiar nos mais contundentes termos mais este crime e exigir o fim imediato da agressão, para que o povo iemenita possa resolver o seu conflito.

Seguimos acompanhando de perto a luta do povo cipriota, que há mais de quatro décadas enfrenta a criminosa ocupação turca de parte do seu país, mantendo-o dividido. Apoiamos inteiramente a luta dos grego-cipriotas e turco-cipriotas pelo fim da ocupação e pela reunificação soberana e pacífica. Expressamos ainda nosso apoio resoluto às forças da paz no Chipre na exigência pela retirada da base militar britânica do país, de onde EUA-Reino Unido-França lançam ataques criminosos em sua agressão contra a Síria, e na contundente campanha contra a OTAN.

Acompanhamos também de perto a luta do povo turco e a resistência determinada às arbitrariedades persecutórias do governo Erdogan. Manifestamos nosso apoio à oposição valente que as forças democráticas e progressistas, notadamente o Comitê da Paz da Turquia, fazem ao envolvimento do seu país na agressão a outros povos, como o sírio, uma oposição que enfrenta duras consequências, mas segue resoluta.

Companheiros e companheiras,

Para a derrubada de governos que não se curvam à agenda imperialista, a fórmula em grande parte é reaplicada em diversas regiões. Os povos em todo o mundo têm reforçado sua resistência às agressões e às aventuras antidemocráticas manipuladas pelas potências imperialistas, especialmente os EUA, para promover seus planos de saque e dominação.

A militarização do planeta segue a passos acelerados e penetra todos os aspectos da vida, através do complexo industrial-militar e da dita indústria da segurança que, através da aterrorização das populações em tantos países, buscam submeter os povos ao controle completo. Por isso, reforçamos nossa denúncia à disseminação de bases militares por todo o planeta, num histórico movimento mundial que vem crescendo e se fortalecendo, desde as grandes manifestações em países como Argentina e Japão (em Okinawa), passando pelos sucessivos e exitosos Seminários Internacionais pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras realizados regularmente em Guantánamo, sob a direção do Movimento Cubano pela Paz e a Soberania (MovPaz), em parceria com o Conselho Mundial da Paz. Tem o mesmo sentido e importância a criação de uma coalizão nos EUA que reuniu entidades nacionais nesta frente comum de luta, coordenada também pelo Conselho da Paz dos EUA.

Mais recentemente, este avanço na mobilização internacional propiciou o lançamento de uma campanha global contra as bases militares dos EUA e da OTAN, com uma declaração de unidade proposta pela coalizão estadunidense e que também o Conselho Mundial da Paz promove. Por esta razão, devemos enfatizar o compromisso com a participação e a realização exitosa da conferência internacional desta campanha, que terá lugar em Dublin, na Irlanda, de 16 a 18 de novembro, tendo como anfitrião a Aliança pela Paz e a Neutralidade (PANA), entidade membro do Conselho Mundial da Paz.

Em todas essas atividades, é tarefa prioritária do CMP reforçar a denúncia da militarização e das crescentes ameaças ao planeta e à humanidade, os crescentes gastos militares e a dita modernização dos arsenais de armas nucleares que acarretariam a aniquilação do planeta se empregadas em uma guerra de grandes proporções. Recebemos com extrema preocupação e repúdio a declaração de 20 de outubro de Donald Trump de que os EUA devem deixar o histórico Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1986 entre os Estados Unidos e a União Soviética, que bane mísseis nucleares de alcance entre 500 e 5.000 km. Moscou, acusada de estar violando o tratado, considera a declaração uma chantagem.

As forças da paz não podem se deixar intimidar diante do que alguns já descrevem como “histeria pré-guerra”. Devemos por isso reforçar nossas campanhas e nossa denúncia contundente de tal escalada, exigindo o aprofundamento, ampliação e cumprimento dos tratados de desarmamento nuclear, e não seu abandono, sob qualquer pretexto!

O relatório do Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri) divulgado em maio deste ano aponta que os gastos militares mundiais subiram para 1,7 trilhão de dólares em 2017, um aumento de 1,1% em relação a 2016. A tendência é de aumento desde 1999, com uma pausa em que os gastos se mantiveram constantes entre 2012 e 2016, para voltarem a crescer em 2017, consumindo 2,2% do PIB global, segundo o Sipri. Enquanto os gastos da Rússia diminuíram em 20%, para 66,3 bilhões de dólares, os dos EUA mantiveram-se constantes pelo segundo ano consecutivo, em 610 bilhões de dólares, um orçamento superior ao dos próximos sete maiores orçamentos militares somados.

Com o pretexto já conhecido de buscar “conter a Rússia” em seu alegado avanço em direção ao restante da Europa (ainda que o “avanço” real seja de fato o da OTAN em direção às fronteiras da Rússia), os países da Europa Central e Ocidental também elevaram seus gastos militares em 2017. Muitos deles são membros da OTAN comprometidos com o gasto de ao menos 2% dos seus PIBs no setor. Ainda segundo o Sipri, o gasto total dos 29 membros da organização foi de 900 bilhões de dólares, representando a metade do gasto mundial, o que confirma a nossa denúncia de que este bloco militar é uma grande ameaça à paz.

A política de militarização planetária é um entrave à construção de um sistema internacional constituído por instituições multilaterais que propiciem a solução pacífica dos conflitos, a cooperação e o progresso compartilhado em prol da paz. A militarização é funcional à manutenção de uma ordem de dominação e exploração, ameaças e agressões pelas potências imperialistas que visam manter sua hegemonia.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais uma vez deu provas da sua agressividade chauvinista durante a última Assembleia Geral da ONU, em setembro. Na contramão das forças progressistas e da paz nos EUA e em todo o mundo, ele reafirmou o caráter unilateral e hegemonista de sua política externa. Trump não perde uma oportunidade para buscar minar conquistas diplomáticas como o acordo nuclear com o Irã e o reatamento de relações diplomáticas com Cuba, ou sabotar fóruns multilaterais de grande relevo para os povos, como o Conselho de Direitos Humanos e a própria ONU.

Ademais, as relações entre a China e os EUA atravessam uma fase difícil.  Os Estados Unidos moveram a chamada guerra comercial, ao tempo em que elaboram planos para “conter a China”, o que implica a interferência em suas questões domésticas como a questão de Taiwan, ou regionais, como a crise no Mar do Sul da China.

Tais comportamentos reforçam o papel que os EUA buscam desempenhar, o de polícia mundial. Em suma, o momento é de gravíssimas ameaças para a humanidade, mas também de muita resistência.

Companheiros e companheiras,

Em nossa luta pela paz e no exercício da solidariedade com os povos em luta por sua autodeterminação, valorizamos os avanços da reaproximação diplomática na Coreia. Têm importante significado na luta pela paz os compromissos assumidos em prol da reunificação pacífica da Península Coreana. Há décadas separados e antagonizados especialmente através da ingerência constante dos EUA após a guerra de 1950-1953, os coreanos almejam a reconciliação. São profundamente promissores os encontros já realizados entre os líderes nacionais, não apenas para a Coreia como para toda a região e o mundo. É indispensável o fim da ingerência imperialista e das ameaças militares, políticas e financeiras à RPDC.

Recentemente, comemoramos também a ansiada libertação do independentista portorriquenho Óscar Lopez Rivera. Mas Porto Rico segue sob o jugo colonialista dos Estados Unidos. O Conselho Mundial da Paz reitera sua indeclinável solidariedade ao povo porto-riquenho e a luta contra o colonialismo, assim como apoiamos a persistente luta do povo argentino pela recuperação das Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul, que seguem sob o domínio britânico.

Ademais, precisamos enfatizar que o povo saarauí foi há quatro décadas obrigado a se refugiar no deserto durante a brutal invasão marroquina, a seguir à irresponsável retirada espanhola. A luta do povo saarauí na última colônia da África é, contudo, silenciada e invisibilizada. O compromisso assumido pelas Nações Unidas de assegurar a autodeterminação do povo saarauí e a descolonização do Saara Ocidental ainda não foi cumprido. Este povo continua desprotegido, vítima das mais graves violações dos seus direitos humanos, com repressão brutal de protestos, torturas, prisão e desaparições forçadas, que fazem parte das políticas cotidianas da ocupação marroquina do Saara Ocidental. O Conselho Mundial da Paz é inteiramente solidário com a justa causa do povo saarauí.

O CMP tem dedicado o máximo dos seus esforços e continuará dedicado à solidariedade com o povo palestino, um povo mártir, que há sete décadas vive a catástrofe da ocupação e dominação israelense. Os sionistas israelenses seguem cometendo impunemente crimes contra a humanidade e, em conluio com os Estados Unidos, obstaculizando os esforços diplomáticos pelo estabelecimento soberano e a integração do Estado da Palestina como membro pleno da ONU. Apesar da crescente solidariedade internacional ao povo palestino, a liderança chauvinista e racista de Israel sente-se à vontade, contando com a bilionária ajuda dos Estados Unidos, para massacrar os palestinos com ofensivas militares e a repressão brutal de protestos como a valente Grande Marcha de Retorno lançada desde Gaza. O bloqueio a este território costeiro, que já dura 11 anos, condena os seus residentes, maioritariamente refugiados de outros massacres, a uma crise humanitária persistente que tornará Gaza praticamente inabitável em poucos anos, segundo a ONU. Também é passada a hora de pôr fim ao regime de apartheid israelense recém-tornado constitucional através da Lei Básica do Estado-Nação Judaico pelo Parlamento para consolidar o que já existia na prática, o tratamento como cidadãos de segunda categoria a todos os não-judeus. É passada a hora, também, de acabar com a ocupação criminosa da Palestina e a colonização a que ela serve!

Já na América Latina, companheiros e companheiras, as forças democráticas estão no alvo de ameaças de golpes e retrocessos históricos. A Argentina e o Brasil encontram-se sob governos reacionários.

No Brasil, o golpe segue em curso para além da derrubada ilegítima da presidenta Dilma Rousseff em 2016, com a perseguição odiosa ao Partido dos Trabalhadores, a todas as forças de esquerda e movimentos sociais comprometidos com um projeto nacional de justiça social, desenvolvimento soberano e integração regional independente. A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de abril deste ano foi mais uma afronta ao Estado Democrático de Direito e tem propósito puramente político, o de evitar o seu retorno à Presidência. As eleições presidenciais, cujo segundo turno tem lugar este domingo, 28, realizam-se em um ambiente de extremada perseguição e crise social, econômica e institucional, em que as forças reacionárias e conservadoras e de cunho fascista têm prosperado. Mas o povo brasileiro também resiste e tem se empenhado por construir uma ampla frente para a luta pela democracia e a recuperação de direitos.

Embora há apenas quatro anos o contexto regional tenha possibilitado a adoção de um compromisso esperançoso como o da consolidação de uma Zona de Paz na América Latina e no Caribe, hoje nos defrontamos com a propagação das forças neoliberais, reacionárias, golpistas, e crescentemente fascistas, a ingerência e as ameaças de intervenção militar em países soberanos fomentadas no seio da Organização dos Estados Americanos.

Recentemente, a receita do golpe repete-se na Nicarágua, onde manifestações violentas têm sido insufladas em prol de um ambiente de antagonismo artificial e desestabilizador também com vistas a derrubar o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e Daniel Ortega.

Foi também com profunda indignação que denunciamos as ameaças de golpe militar e até de intervenção estrangeira promovidas pelo presidente dos Estados Unidos e pelo secretário-geral da OEA contra a Venezuela bolivariana. Há anos resistindo bravamente aos intentos de derrubar seu governo legítimo e vulnerar a sua soberania nacional, o povo venezuelano demonstra profunda consciência das ameaças postas à sua nação. Saudamos a valente resistência do povo da Venezuela e nos comprometemos com o reforço do nosso apoio à sua brava luta.

Da mesma forma, repudiamos o retrocesso da reaproximação entre EUA e Cuba sob o governo de Donald Trump. Neste quadro, adquirem urgência as tarefas relacionadas com a luta contra o bloqueio à ilha revolucionária imposto pelos EUA há quase seis décadas, com um cerco financeiro, comercial e diplomático projetado para fazer ruir a Revolução Cubana. Esta política ofensiva claramente fracassou, como reconheceu o próprio ex-presidente Barack Obama. Apoiamos também a justa demanda de Cuba da retirada imediata da base militar estadunidense ilegalmente encravada no território de Guantánamo, onde os EUA ainda mantêm uma prisão ilegal, uma vergonha para a humanidade, para aprisionar e torturar suspeitos trazidos de todo o mundo, à margem da lei. Apesar da ofensiva constante, Cuba segue na consolidação do socialismo e no fortalecimento da solidariedade com todos os povos em luta contra a dominação estrangeira e pelo progresso social em todo o planeta, uma inspiração constante para os povos amantes da paz, honrados pelo legado histórico de José Martí e do Comandante Fidel Castro.

Por fim, mas não menos importante, companheiros e companheiras, o Conselho Mundial da Paz está prestes a completar 70 anos. Sua história nos traz um legado de bravura e dedicação dos combatentes e defensores da paz, que há sete décadas buscavam reconstruir o mundo com democracia, soberania nacional, progresso social e paz após a catástrofe da guerra e a ignomínia da devastação e do sofrimento inaudito imposto a tantos povos.

Ao invocar a nossa história, pensamos nos desafios que temos pela frente. Resistir e lutar contra os desígnios belicistas das potências imperialistas, defender a paz, a justiça e os direitos dos povos, com amplitude e espírito unitário a fim de mobilizar o máximo de forças pelo êxito da nossa causa.

Tenho a convicção de que trabalharemos para que a nossa reunião possa nos fazer avançar na realização dos compromissos que todos já assumimos desde a última Assembleia realizada em São Luís, Brasil, em 2016.

Bom trabalho para todos nós!

Obrigada

 

REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO DO CONSELHO MUNDIAL DA PAZ

Damasco, Síria | 27 e 28 de outubro de 2018

Contributo de Antônio Barreto, Presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)

Queridas companheiras e queridos companheiros do Conselho Nacional do Movimento de Defensores da Paz na Síria

Amigos e amigas do Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz.

É uma honra saudá-los em nome do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), na ocasião em que se reúne, na heroica Síria, o Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz.

A realização desta reunião em Damasco é carregada de simbolismo, num momento em que a Síria, graças ao heroísmo de seu povo e a firmeza de seu governo, colhe vitória após vitória sobre inimigos internos e externos poderosos, que tentam há sete anos, ininterruptamente, desestabilizar o país.

Os inimigos da Síria fizeram de tudo para destruí-la. A ação dos Estados Unidos e seus aliados regionais fala de maneira eloquente sobre o caráter dessa potência imperialista e dessas forças aliadas e revela o quanto ameaçam a paz mundial e a soberania dos povos.

Durante estes sete anos, o Cebrapaz, como os demais membros do Conselho Mundial da Paz, manifestou sua incondicional solidariedade ao povo sírio e à sua liderança. Neste momento em que se preparam para alcançar a vitória final, reiteramos o nosso apoio à vossa resistência e vossa luta.

Queridos companheiros e companheiras,

Como o CMP tem notado, uma espécie de crise civilizatória percorre todos os rincões do planeta, reflexo das contradições do iníquo sistema internacional. Neste momento, está em curso uma ofensiva conservadora, com a ascensão de tendências ultradireitistas nos Estados Unidos, Europa e América Latina.

Vivemos uma época em que a chamada ordem mundial passa por complicada transição. A superpotência dominante, o imperialismo estadunidense se vê confrontado com a emergência de novos polos de poder econômico e geopolítico. Ao mesmo tempo, intensificam-se as contradições inter-imperialistas, principalmente entre os EUA e a União Europeia.

Faz parte da onda conservadora a manifestação de uma crescente agressividade dos EUA e, em decorrência disso, uma intensa militarização que se expressa na existência de centenas de bases militares, no aumento dos gastos militares e no fortalecimento da OTAN como aliança belicista.

Os povos se encontram sob permanente ameaça, e são vitimados por intervenções, golpes e guerras, o que invariavelmente resulta na violação da sua soberania. Nesse quadro, o imperialismo estadunidense ignora os organismos multilaterais, a não ser quando se colocam inteiramente a seu serviço e atropelam o direito internacional.

Por isso, saudamos as lutas dos povos em todo o mundo por sua libertação nacional e social e por sua soberania. Valorizamos, neste contexto, o diálogo intercorerano e as novas possibilidades que surgem para a paz na Península da Coreia. Expressamos nossa resoluta solidariedade como os povos resistentes do Oriente Médio, Ásia, América Latina, Europa e África. Saudamos os povos em luta anticolonial, como os porto-riquenhos, os palestinos e os saarauís, e os que resistem ao neocolonialismo, ao neoliberalismo e ao imperialismo em tantos países.

Companheiros e companheiras,

Como sabem, a onda conservadora e direitista atinge em cheio a América Latina. Governos progressistas mudaram a face da América Latina e o Caribe, com importantes transformações políticas e socioeconômicas, em países como Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Nicarágua, Equador, Paraguai, Honduras, El Salvador e República Dominicana, entre outros.

A luta contra o neoliberalismo e pela integração latino-americana avançou. Milhões de pessoas saíram da pobreza e foram criados valiosos instrumentos de integração regional. Esses governos promoveram direitos sociais, fortaleceram a soberania econômica e política de seus países e nacionalizaram recursos energéticos. Alguns deles, sobretudo a Venezuela e a Bolívia, avançaram na realização de transformações revolucionárias.

Agora, sob o comando do imperialismo estadunidense, as oligarquias nacionais em diversos países estão promovendo, seja por meio de golpes ou de eleições manipuladas, a reversão dessas conquistas. Hoje, é necessário que em todo o mundo se desenvolva um amplo movimento de solidariedade com os povos da América Latina e Caribe, em defesa da democracia, da independência nacional e do progresso social.

Esta solidariedade deve ser a mais assertiva possível na defesa da Revolução Cubana, no combate ao bloqueio e no apoio aos esforços do povo cubano e de sua liderança no momento em que se empenham no aperfeiçoamento de seu modelo econômico e social e no fortalecimento de suas instituições com a redação de uma nova Constituição.

Igualmente, na defesa da Venezuela, alvo de uma brutal ofensiva imperialista que inclui sanções econômicas, a guerra midiática, a desestabilização interna e repulsivas ameaças de intervenção de militar, com o objetivo estratégico de deter a Revolução Bolivariana.

Neste quadro, permitam-me destacar a gravíssima situação que neste momento vive o Brasil. A democracia e a soberania do país encontram-se ameaçadas com a possibilidade de eleição de um presidente da República fascista.

A perspectiva é de agravamento da crise política, econômica e social do país, entreguismo e ofensiva contra os direitos do povo. Em torno do candidato Jair Bolsonaro se agruparam as forças mais obscurantistas, com um programa antidemocrático, antissocial e antinacional, feito de acordo com o figurino desenhado pelo imperialismo estadunidense.

Bolsonaro representa o prolongamento ulterior do golpe de estado de 2016 e fomenta a brutal ofensiva das classes dominantes reacionárias contra as aspirações e conquistas do povo brasileiro. O seu seria um governo fascista, pró-estadunidense e pró-sionista no Brasil constituiria um fator a mais de instabilidade regional e uma ameaça a mais à paz mundial. Mais do que nunca o povo brasileiro precisa se unir e lutar, contando também com a solidariedade internacionalista, contra a ameaça fascista e em defesa da democracia.

Em suma, amigos e amigas, neste momento de graves desafios e de luta redobrada contra o retrocesso civilizacional que se anuncia, mas a que os brasileiros e as brasileiras resistem, o Cebrapaz reforça seu compromisso com as campanhas do CMP contra as bases militares estrangeiras, as armas nucleares e a máquina de guerra imperialista, a OTAN, pelo que promovemos e participaremos também da Conferência de Dublin em novembro.

Reforçamos também nossa resoluta solidariedade com o povo martirizado da Palestina em sua brava luta por libertação, contra o regime de apartheid sionista e a colonização israelense, saudando a valente Grande Marcha pelo Retorno, que, apesar da brutalidade da repressão assassina de Israel, mostrou ao mundo a determinação do guerreiro povo palestino. Também reforçamos nossa posição irredutível ao lado do povo cubano na exigência pelo fim do bloqueio estadunidense criminoso e a devolução do território de Guantánamo, ao lado do povo argentino pela recuperação da sua soberania sobre as Ilhas Malvinas e outras ilhas sob o controle colonial britânico, do povo porto-riquenho na justa luta pela independência dos EUA, e do povo saaráui, que luta pela libertação da última colônia da África, enfrentando a brutal ocupação marroquina ou sobrevivendo ao refúgio de quatro décadas no deserto, diante do silêncio e da negligência internacional, do espólio dos seus recursos, da separação e da colonização do seu território.

Aproveitamos para fazer um apelo para que se adote o dia 27 de fevereiro como um Dia Internacional de Solidariedade ao Povo do Saara Ocidental, conforme discutimos na Reunião Regional da América em setembro, na República Dominicana. Tal manifestação contribuiria para o reforço da nossa ação em apoio à justa causa do povo saarauí.

Novamente, agradecemos a acolhida e saudamos os companheiros aqui presentes.

Fonte: Cebrapaz

 

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