Notas internacionais (por Ana Prestes) – 16/06/20
– O mundo já possui 8 milhões de infectados registrados pelo novo coronavírus, destes, 25% estão nos EUA, o Brasil vem em segundo lugar. O número de mortes está próximo de 450 mil. A China, que sofreu o primeiro surto de infecções pelo vírus, volta a registrar casos. Na capital Pequim já são pelo menos 30 áreas residenciais em quarentena e os casos de contaminados estão aumentando gradativamente nos últimos dias. Foram mais de 100 infectados nos últimos 5 dias, alguns vieram do exterior. Ontem comentei aqui nas notas sobre o mercado Xinfadi, um dos maiores de toda a Ásia, que precisou ser fechado. Hoje há notícias de que outros também foram fechados. Vários tipos de transporte foram suspensos. Até mesmo um dos países de maior sucesso de combate ao vírus, a Nova Zelândia, voltou a registrar casos. Duas mulheres que voaram de Londres para ver o pai que estava morrendo e deram positivo para o coronavirus. Para poder ver o pai, elas foram autorizadas a viajarem internamente no país, antes de cumprir a quarentena obrigatória para todos que chegam de fora. A Nova Zelândia não registrava nenhum caso há três semanas e todos os contaminados estavam curados.
– O presidente Putin, da Rússia, criticou ontem (15) a forma como Trump vem enfrentando a pandemia nos EUA. Com mais de 500 mil casos de infectados, a Rússia é o terceiro país hoje no ranking da pandemia, atrás dos EUA e do Brasil. Morreram quase 7 mil pessoas de Covid-19 no país até o momento. Nas palavras de Putin, em entrevista à TV Estatal, “estamos trabalhando com tranquilidade e nos recuperando dessa situação do coronavírus com confiança e com perdas mínimas… Mas nos Estados Unidos isso não está acontecendo”. O presidente russo ainda disse: “não consigo imaginar alguém do governo (russo) ou das administrações regionais dizendo que não fará o que o governo ou o presidente dizem para fazer (…) Parece-me que o problema (nos EUA) é que os interesses político-partidários são colocados acima dos interesses da sociedade como um todo, acima dos interesses do povo”.
– As últimas horas foram de tensão entre as duas Coreias. Um escritório de conversações, estabelecido nas últimas tentativas de reaproximação dos dois países em 2018, localizado em região de fronteira, na cidade de Kaesong, foi implodido. Há notícias de que um grupo provocador espalhou panfletos apócrifos como se a Coreia do Sul estivesse ofendendo a Coreia do Norte.
– A fronteira da Índia com a China também está sob tensão nos últimos dias. É o primeiro conflito armado entre os dois países desde 1975. Aconteceu na região do Himalaya, em Ladakh. Há semanas a tensão está aumentando na região, que possui uma fronteira de 3500 quilômetros e nunca foi demarcada com precisão. Soldados de ambos os lados, mas especialmente indianos, reportam desrespeito das linhas demarcadas pelos oficiais dos dois países.
– O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse ontem (15) que a organização vai discutir essa semana se prossegue com os estudos clínicos sobre os efeitos da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. O anúncio foi feito no mesmo dia em que os EUA, via FDA (Anvisa deles), anunciaram a suspensão da autorização emergencial do uso do medicamento para pacientes infectados com o coronavírus. Segundo a agência governamental, com base nas evidências científicas disponíveis, não é razoável acreditar que o produto possa ser efetivo para tratar ou prevenir a Covid-19. O vai e vem com os testes da cloroquina é uma verdadeira novela dentro da pandemia. Foi nesse contexto que também ontem (15), perguntado por uma jornalista brasileira, Raquel Krahenbuhl, se continuaria enviando milhões de cápsulas dos medicamentos para o Brasil, que Trump respondeu: “sim, eu não posso reclamar, eu tomei por duas semanas e ainda estou aqui”. E ainda completou, “muita gente me diz que isso pode salvar vidas”, mostrando desconhecer a decisão da FDA.
– A Suécia ficou mesmo como o patinho feio entre os países nórdicos quando se trata de coronavírus. Dinamarca, Finlândia e Noruega se recusaram a autorizar a entrada de viajantes vindos do país vizinho onde a taxa de contaminação pelo vírus é bastante superior à desses países. Ao longo da pandemia, desde março, a Suécia não fechou suas fronteiras e optou por não estabelecer quarentena para sua população. A estratégia era deixar o vírus circular até este perder força naturalmente. Mas rapidamente o país passou a liderar o ranking de número de mortos e chegou a registrar até 48 óbitos a cada 100 mil habitantes.
– A Suprema Corte dos EUA decidiu ontem (15), por seis votos a três, que homossexuais e transgêneros não podem sofrer discriminação no ambiente de trabalho por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A decisão é a mais importante para a comunidade LGBT dos EUA desde a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015.
– Na Colômbia, um escândalo envolvendo a vice-presidente fez com que o presidente Ivan Duque e o ex-presidente Alvaro Uribe tivessem que se pronunciar. Ambos a defenderam. Foi revelado que a vice-presidente do país, Marta Lucía Ramírez, esteve envolvida e acobertou o irmão, Bernardo Ramírez Blanco, condenado por narcotráfico nos EUA. Em uma entrevista publicada ontem (15) no jornal El Tiempo, Marta disse que o presidente Ivan Duque “não sabia de nada”. A vice-presidente já foi Ministra da Defesa na gestão de Álvaro Uribe e responsável por zonas francas em várias regiões do país. Senadores da oposição, como Gustavo Petro, que rivalizou com Duque nas últimas eleições presidenciais, estão pedindo a renúncia da vice-presidente. Há rumores inclusive de que ela possa ser enviada para ser embaixadora do país nos EUA (providencial, não?).
– O Mercosul, que está sob presidência paraguaia, vai realizar pela primeira vez em sua história uma cúpula presidencial a distância. A Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum (CMC) e a Cúpula dos Presidentes do MERCOSUL e Estados Associados, assim como as reuniões dos órgãos decisórios do bloco vão ocorrer entre 29 de junho e 2 de julho por vídeo conferências. O encontro marcará o fim da presidência do Paraguai. O Alto Representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Josep Borrell, também está convidado.
– Na Bolívia, no último domingo, cerca de 200 policiais foram mobilizados para cercar e invadir a residência do Embaixador do México em La Paz. Os policiais, segundo o jornalista Freddy Morales, da TeleSur, foram posicionados de forma provocadora, armados, acompanhados de cachorros e portando equipamentos de dispersão anti-motim. Após uma tentativa de entrada no prédio, foram demovidos quando as autoridades mexicanas reagiram e fizeram contato direto com a presidente de fato Añez. Dentro do edifício encontram-se dirigentes do MAS que estão exilados e sem autorização do governo golpista para deixar o país.
– O chanceler uruguaio, Ernesto Talvi, deixará o cargo que ocupa há apenas três meses, desde a posse de Lacalle Pou. A diferença entre ele e o governo de Pou é quanto à designação da Venezuela como uma “ditadura”. Segundo ele, deveria ser usada uma “linguagem respeitosa” em relação ao país. Seus comentários sobre a Venezuela geraram tensão no interior da coalizão de direita pela qual Lacalle Pou se elegeu.
– No México, quase 100 milhões de pessoas podem ficar na faixa da pobreza como efeito da pandemia pelo novo coronavírus. Os dados são da EQUIDE (Instituto de Investigaciones para el Desarrollo con Equidad) da Universidade Iberoamericana da Cidade do México. Cerca de 76,2% dos lares podem ser afetados com desemprego, perda de renda e insegurança alimentar. Segundo a pesquisa, 1 a cada 3 lares teve uma redução de mais de 50% de sua renda.
– O presidente mexicano, López Obrador, anunciou ontem (15) em uma conferência de imprensa em Xalapa, no estado de Veracruz, que no caso de receber uma solicitação formal por parte da Venezuela para compra de combustível do México, o fará sem levar em consideração o embargo econômico imposto ao país por parte dos EUA. “México é um país independente, soberano, tomamos nossas próprias decisões e não nos metemos com as políticas de outros países”, disse AMLO.
Ana Maria Prestes
A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, é membro do Comitê Central e da Comissão de Política e Relações Internacionais.