Egito preparado para intervir na Líbia
A interminável guerra na Líbia, desencadeada há quase uma década pela agressão imperialista de 2011 e continuada ao longo de anos por diversas ingerências estrangeiras, pode agravar-se ainda mais com a intervenção militar do Egito.
Por Carlos Lopes Pereira
Reunidos no Cairo, no início desta semana, os deputados egípcios autorizaram uma possível intervenção militar na Líbia se as forças do governo de Trípoli, apoiadas pela Turquia, prosseguirem o seu avanço para Leste. O parlamento aprovou por unanimidade o envio “de elementos do exército do Egito em missões de combate no exterior das fronteiras do Estado egípcio, para defender a segurança nacional egípcia”.
A votação, à porta fechada, teve lugar uns dias depois do presidente Abdel Fatah al-Sisi ter declarado que o Egito não permaneceria “passivo” no conflito líbio face a uma “ameaça direta” à sua segurança nacional. E especificou que protegeria a “soberania líbia” em caso de um novo ataque do Governo de Acordo Nacional (GAN) e seus aliados turcos contra a cidade portuária de Syrte, considerada a porta de entrada para os principais terminais petrolíferos líbios.
O mais importante jornal egípcio, Ahram, na sua edição on line, informou que os parlamentares reclamaram ações conjuntas “entre as duas pátrias irmãs” (Egito e Líbia) para derrotar o “ocupante” (Turquia).
Na semana passada, num contexto de escalada das ingerências externas na Líbia, o parlamento líbio, com sede em Tobruk, no Leste do país, apelou ao Egito, país vizinho, a intervir em solo líbio para contrariar o auxílio militar da Turquia ao GAN, com base em Trípoli e reconhecido pelas Nações Unidas, auxílio esse que os parlamentares líbios qualificam de “invasão” e “ocupação turca”.
Em outra iniciativa aparentemente visando justificar uma possível intervenção do Egito na Líbia, chefes de tribos líbias viajaram ao Cairo e “autorizaram” al-Sisi e o exército egípcio a entrar na Líbia. Nessa ocasião, o presidente egípcio afirmou que o seu país está interessado em apoiar a “livre vontade” do povo líbio, a fim de lograr “um futuro melhor para as gerações futuras”.
Na véspera, al-Sisi e o presidente francês, Emmanuel Macron, mantiveram uma conversa telefónica em que coincidiram na necessidade de parar “as intervenções estrangeiras que utilizam milícias armadas e organizações terroristas para conseguir os seus propósitos à custa da estabilidade na Líbia e da segurança regional”.
A reação de Ancara a estas movimentações surgiu do presidente turco Recep Erdogan, que voltou a acusar o Egito e os Emirados Árabes Unidos de já estarem a intervir em solo líbio ao lado das forças armadas do Leste. O dirigente turco reafirmou o seu apoio ao GAN e classificou de “ilegais” as medidas adotadas pelo Egito.
No seguimento da destruição da Líbia como Estado unitário, pela intervenção militar dos Estados Unidos e de outros países da Otan, o país norte-africano está dividido em dois – a região do Oeste, “governada” pelo GAN, de Fayez al-Sarraj, e a zona Leste, dirigida pelo Parlamento de Tobruk, ligado às forças de Khalifa Haftar, que controlam a maior parte dos campos petrolíferos líbios.
O Egito, com 100 milhões de habitantes, possui um dos mais poderosos exércitos do mundo árabe e da África, pelo que uma sua intervenção militar direta na Líbia poderia agravar a situação em toda a região norte-africana e no Sahel.
Fonte: Avante!