Visão Global

Biden, longe de Cuba, perto da Flórida

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está mais ligado à Flórida do que ao seu compromisso, assumido durante a disputa eleitoral, de mudar a política em relação a Cuba, revelando uma retórica ligada às campanhas contra a ilha.

Por Deisy Francis Mexidor*

Biden “parece apoiar outra revolução” colorida, “liderada e financiada pelos Estados Unidos em Cuba” para tentar derrubar seu governo legítimo, advertiu a pacifista Cindy Sheehan em declarações recentes à Prensa Latina.

Até agora, quase seis meses após a posse, o presidente havia delegado a funcionários de seu governo a fala sobre a revisão da política em relação a Cuba, o que demoraria devido a outras questões urgentes para a Casa Branca.

Mas os tumultos de 11 de julho no território nacional foram suficientes para que o presidente expressasse imediatamente seu apoio aos “milhares de cubanos” que tomaram as ruas da nação caribenha imediatamente, um dia depois, contra o “regime autoritário”.

Biden culpou o governo cubano pelas agruras que atravessa o país em vez de se referir a mais de seis décadas de cerco unilateral destinado a causar fome e desespero, em um contexto agravado pela pandemia de Covid-19.

A partir daí, seguiram suas opiniões sobre “direitos humanos”, “liberdades”, “direitos universais”, supostamente violados em Cuba.

Em entrevista coletiva, após encontro ontem com a chanceler alemã, Angela Merkel, o democrata disse que irá fornecer Internet a Cuba e falou em entregar vacinas anti-Covid-19 por meio de terceiros.

Porém – que lapso – ignorou as cinco vacinas candidatas desenvolvidas em tempo recorde pela ciência cubana, uma delas, Abdala, recebeu aprovação para uso emergencial e já é imunizante com eficácia de 92,28%, uma das mais altas do mundo.

Entretanto, deixou claro que não eliminará as restrições às remessas, uma das principais reivindicações de vários parlamentares, personalidades, grupos e organizações que rejeitam o bloqueio e pedem para aliviar o sofrimento da família cubana.

Para Biden, a “falta de liberdade” alimentou os protestos “espontâneos” que, como denunciou Havana, fazem parte de um plano mais amplo e contínuo, semelhante aos descritos nos manuais do “golpe brando”.

Ativistas como a advogada e escritora Rosemari Mealy, afirmaram que é hora de cobrar contas do presidente.

Estamos muito ocupados com discussões e reuniões para definir estratégias que nos permitam confrontar diretamente Biden sobre como ele mentiu durante a campanha eleitoral”, disse ela a esta agência de notícias via WhatsApp.

Sentimento de frustração e decepção compartilhado por todos nós que organizamos o apoio à campanha do então candidato, destacou a integrante da rede de solidariedade com Cuba nos Estados Unidos.

Alguns parlamentares querem respostas, é o caso de Barbara Lee, que renovou sua exortação ao governo Biden para “tomar medidas urgentes para reverter as políticas erradas e fracassadas” de Trump, que só serviram para prejudicar o povo cubano.

Mas as 243 medidas coercitivas do republicano ainda estão em vigor, enquanto o discurso de Biden se atém ao coro anticubano em Miami.

Dessa cidade do sul da Flórida, apelam à intervenção e à reaproximação zero com Havana, ao contrário do que procuram os cubano-americanos, que promovem a criação de pontes de amor entre os povos dos dois países.

É uma reminiscência do que expressou o advogado cubano-americano José Pertierra em entrevista à Prensa Latina no ano passado: Trump cedeu o poder da política externa para Cuba a parlamentares de extrema direita da Flórida, como Marcos Rubio.

Aparentemente, essa é a aposta de Biden.

* Jornalista da Agência Prensa Latina

Fonte: Prensa Latina

 

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