Argélia rompe relações com Marrocos e rejeita ameaças de Israel
A Argélia rompeu as relações diplomáticas com Marrocos e acusou Rabat de fomentar, com apoio de Israel, “uma potência militar estrangeira”, ações hostis que ameaçam a segurança no Magrebe.
Por Carlos Lopes Pereira
Culminando tensões crescentes entre os dois países norte-africanos, o ministro argelino dos Negócios Estrangeiros, Ramtane Lamamra, anunciou a 24 de agosto o rompimento de laços diplomáticos com Marrocos. Acusou os serviços secretos do reino de levarem a cabo uma “guerra ignóbil” contra a Argélia, o seu povo e os seus dirigentes, propagandeando boatos e informações “maldosas e incendiárias”. E deplorou o comportamento de Marrocos ao procurar “o conflito em vez da integração regional”.
As relações entre Argel e Rabat, historicamente complexas – desde 1994 a fronteira argelino-marroquina mantém-se encerrada –, agravaram-se irremediavelmente quando, em 1975, Marrocos invadiu o Saara Ocidental. A Argélia condenou a ocupação, reconheceu a República Árabe Saarauí Democrática (RASD) proclamada pelos patriotas saarauís e apoia a Frente Polisário, que luta pelo direito do seu povo à autodeterminação e independência.
Em finais de 2020, a tensão entre Argel e Rabat aumentou quando o governo de Marrocos, apadrinhado por Washington, “normalizou” as relações com Israel em troca do reconhecimento norte-americano da “soberania” marroquina sobre o Saara Ocidental. Já nessa altura a Argélia denunciava “manobras estrangeiras” visando desestabilizar o país. Agravadas em junho passado, quando os EUA levaram a cabo os exercícios militares “African Lion 21” em território marroquino, junto ao Saara Ocidental.
Nas últimas semanas, a “provocação marroquina” atingiu o auge quando o embaixador de Marrocos nas Nações Unidas apelou à independência do povo da região argelina da Cabília, segundo revelou Lamamra. O ministro argelino, que qualificou esta iniciativa de “perigosa e irresponsável”, explicou que o apelo foi feito numa nota distribuída pela delegação marroquina na ONU aos países membros do Movimento dos Não Alinhados, em que Rabat “apoia pública e explicitamente um pretenso direito à autodeterminação do povo cabila”.
Além de se insurgir contra a “provocação” marroquina, a Argélia acusa um movimento ilegal que reivindica a autodeterminação da Cabília – baseado no estrangeiro, apoiado por Marrocos, Israel e certos países ocidentais, considerado pelas autoridades argelinas uma organização terrorista – de ter provocado, com fins criminosos, os gigantescos incêndios florestais ocorridos neste verão no nordeste do país, causando pelo menos 90 mortos e prejuízos.
Agravando as tensões argelino-marroquinas, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, numa recente visita oficial inédita a Marrocos, manifestou “inquietação” pelo papel desempenhado pela Argélia na região, pela sua “reaproximação ao Irã” e pela sua “campanha” contra a admissão de Israel como observador da União Africana.
Lamamra rejeitou as “ameaças veladas” israelitas e afirmou que, no plano da segurança regional, o fato de as autoridades marroquinas abrirem as portas do Magrebe a uma “potência militar estrangeira” e de incitarem um seu representante a fazer declarações “falaciosas e malévolas” contra a Argélia “constituem um ato grave e irresponsável”.
Fonte: Avante!