Visão Global

União Europeia faz soar os tambores de guerra

Os arautos do euro-atlantismo encontram-se numa “azáfama”. Ambições militaristas, uma vez mais proclamadas, e os interesses em jogo, são o que a motivam.

Por Pedro Guerreiro*

Anuncia-se para novembro a divulgação da dita Bússola Estratégica da União Europeia, isto é, da proposta de um conceito estratégico com que esta pretende relançar a sua, tantas vezes proferida, e por alguns tão ansiada, capacidade estratégica autônoma – ou seja, de intervenção militar, lá onde os interesses das grandes potências da UE estejam em causa.

Há que ter presente que a denominada capacidade estratégica autônoma da UE se concebe, em primeiro lugar, face à sua relação com os EUA, ou seja, à potência imperialista que, perante o seu declínio relativo, procura a todo o custo salvaguardar seu domínio hegemônico, procurando assegurar o alinhamento e a subordinação dos seus aliados.

Por isso mesmo, não vá o diabo tecê-las…, a Bússola com que alguns apontam para a autonomia estratégica da UE – mesmo que esta não venha a ser concebida de igual forma pelos países que a integram – é, desde logo, acompanhada do anúncio de uma nova Declaração Conjunta sobre a Cooperação UE-OTAN, em dezembro – cooperação formalmente estabelecida na sequência da agressão da OTAN à Iugoslávia, em 1999.

Não será surpreendente que na nova declaração conjunta se reafirme que a “OTAN continuará a desempenhar o seu papel único e essencial como pedra angular da defesa coletiva de todos os Aliados” ou que “as capacidades desenvolvidas através das iniciativas (…) da UE e da OTAN devem permanecer coerentes, complementares e interoperáveis” e que “devem estar disponíveis para ambas as organizações”.

Solícito, Jens Stoltenberg, Secretário-geral da OTAN, lança avisos aos incautos: “não devemos ter uma competição, mas, na realidade, a certeza de que o que a UE faz é complementar aos esforços da OTAN”; ”temos que garantir que o nosso conceito de segurança permanece uniforme”; “o que é necessário são mais recursos, não novas estruturas”.

Em jeito de resposta, a ministra francesa, Florence Parly, garante aos EUA que estes também beneficiarão com a militarização da UE e afirma: “quando ouço algumas declarações na defensiva quanto à defesa europeia e quando observo certas ameaças, incluindo dentro desta organização [a OTAN], digo não tenham medo, a defesa europeia não está a ser construída em oposição à OTAN, muito pelo contrário (…).” Garantias que terão sido secundadas pela ministra alemã Annegret Kramp-Karrenbauer.

É anunciado que o ambicionado conceito estratégico da UE, agora em discussão, possa ser adotado no Conselho Europeu que se realizará em março de 2022, durante a Presidência francesa, antecedendo, assim, a definição do próximo conceito estratégico da OTAN, que deverá ser adotado durante a Cimeira deste bloco político-militar que se realizará em Madrid, nos dias 29 e 30 de junho.

Para além de contradições entre os EUA e as grandes potências capitalistas europeias, os EUA, a OTAN – com a UE como seu pilar europeu, mais ou menos autônomo… – confirmam-se como a mais séria ameaça à paz com que os povos se confrontam.

Pelo que, só pode ser motivo de firme oposição a política externa do Governo português que coloca Portugal ao serviço da estratégia militarista e de confrontação dos EUA, da OTAN e da UE, que é contrária aos interesses e aspirações do povo português, que estão consagrados na Constituição da República Portuguesa.

 Membro do Secretariado do Comitê Central do Partido Comunista Português (PCP)

Fonte: Avante!

 

Leia também: