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Dois modelos antagônicos vão disputar a presidência no Chile – PC sai fortalecido

Dois candidatos com programas de governo diametralmente opostos, José Antonio Kast e Gabriel Boric, venceram o primeiro turno das eleições presidenciais no Chile e irão às urnas em 19 de dezembro. O Partido Comunista volta ao Senado com dois integrantes depois de 48 anos e aumenta a bancada na Câmara Baixa (correspondente à Câmara de Deputados no Brasil) passando de 09 para 12 deputados.

Com quase todos os votos apurados nesta segunda-feira (22), Kast, do Partido Republicano de extrema direita, obteve 27,9%, seguido de perto por Boric, da coalizão de esquerda Apruebo Dignidad, com 25,8%.

Nenhum dos dois faz parte dos partidos que governaram o país nas últimas três décadas, o que se deve ao descrédito das formações políticas tradicionais, principalmente após a eclosão social de 2019.

Kast, um advogado de 55 anos, é um ferrenho defensor do neoliberalismo, planeja diminuir os gastos públicos, diminuir os impostos sobre as grandes empresas e promover o mercado livre.

Boric, um ex-líder estudantil de 35 anos, promete, ao contrário, fortalecer o Estado, arrecadar mais impostos dos mais ricos e caminhar para um novo projeto econômico justo e sustentável.

O caminho de mudança que propomos ao país é o único que garante uma saída da crise a que nos conduziram irresponsavelmente aqueles que governaram nos últimos anos”, afirmou.

Em ato perante seus apoiadores, o também deputado pela região de Magalhães prometeu garantir salários e pensões dignas para todos, promover um sistema de saúde universal e reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais.

Kast – Um perigo para a democracia

O jornal comunista El Siglo adverte, em matéria publicada nesta segunda-feira, que o candidato de ultradireita é um perigo para a “nossa já debilitada democracia”. O periódico comunista relata que a campanha de Kast foi uma “campanha de terror pela instabilidade, usando de forma insistente o fetiche de Venezuela e Cuba. Assim que foi confirmada sua vantagem no primeiro turno, Kast declarou o seguinte: ‘Vamos escolher entre a liberdade e o comunismo. Não queremos seguir a rota de Cuba e da Venezuela’, disse ele em meio a aplausos de seus adeptos”.

Kast apóia a militarização da região sul onde vive o povo Mapuche e pretende cavar uma vala na fronteira para impedir a entrada de migrantes.

Ainda segundo El Siglo: “José Antonio Kast, apesar de ter um tom suave ao falar, com a grossura de seu conteúdo ameaça abalar a já debilitada democracia chilena. Seus recursos autoritários, sua posição fiel a favor da ditadura e suas constantes visitas aos violadores de direitos humanos, integram-se a um programa presidencial que se compromete a perseguir lideranças políticas e sociais de esquerda, até mesmo invadindo casas se necessário, para evitar a disseminação de manifestações. Essas posturas se somam às propostas também polêmicas como a eliminação do Ministério da Mulher e da Equidade de Gênero”.

Kast votou contra a substituição da Carta Magna, nega as violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura e afirma que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele.

Unidade do campo democrático

Diante da ida de Kast ao segundo turno, vários representantes de outros partidos vieram a público declarar apoio a Gabriel Boric.

A democracia está ameaçada, por isso é importante apoiar a candidatura de Gabriel Boric desde o início, sem condições nem negociações, não há espaço para atrasos ou cálculos”, disse o senador do PPD, Ricardo Lagos Weber.

Enquanto isso, o senador Álvaro Elizalde destacou que “queremos convocar formalmente todas as mulheres e homens chilenos para votarem no candidato Gabriel Boric. Fazemos este apelo sem ambigüidades, sem cálculos, por uma profunda convicção sobre o que está em jogo em nosso país”.

Já Marco Enríquez Ominami afirmou que “nada é impossível, só depende de ti, deputado (Boric). Una a oposição. Obviamente eu pedi aos líderes do partido progressista que participassem da coalizão mais ampla para colocar uma barragem no retrocesso, uma barragem nas ideias da extrema direita”.

O Partido Democracia Cristã (DC), cuja candidata alcançou 11,66% dos votos, embora não tenha declarado voto em Boric, deixou a porta aberta neste sentido. Segundo Carmen Frei, presidenta do DC, “não vamos apoiar a direita, mas também não vamos dar um cheque em branco (a Boric)”. “Vamos ver as propostas do deputado Boric e no Conselho Nacional da DC vamos deliberar para ver o que é melhor para o Chile”.

Para El Siglo, “o resultado do primeiro turno eleitoral presidencial abre o desafio a Gabriel Boric e aos setores progressistas, democráticos e transformadores, de colocar todas as energias na vitória do segundo turno, em 19 de dezembro. Trata-se de acumular e convocar o eleitorado para derrotar o candidato da extrema direita e dar continuidade ao projeto transformador no Chile. ‘A esperança vencerá o medo. Para ganhar este segundo turno temos de ser humildes e receptivos, nunca arrogantes e altivos’, enfatizou Boric”.

Partido Comunista do Chile alcança vitória contundente

Após 48 anos o PC rompeu a exclusão no Senado e elege dois representantes: Claudia Pascual e Daniel Núñez. A primeira pela Região Metropolitana e o segundo pela Região de Coquimbo. Pascual foi Ministra da Mulher e da Equidade de Gênero do Governo de Michelle Bachelet, e Núñez é atualmente deputado.

Com o golpe de 1973 o Senado foi fechado e começou a ditadura cívico-militar que perseguia o PC, junto com outros partidos de esquerda e democráticos, e então no período pós-ditatorial se impôs um sistema eleitoral binominal que excluía os comunistas.

Agora os comunista alcançam uma vitória significativa ao retornar à Câmara Alta.

Deputados e deputadas comunistas

Ainda sem os resultados definitivos, o PC elegeu como deputados Karol Cariola, Carmen Hertz, Boris Barrera, Daniela Serrano, Lorena Pizarro, Marisela Santibañez, Alejandra Placencia, Matías Ramírez, Nathali Castillo, Carolina Tello, Luis Cuello, María Candelaria Acevedo, ou seja, confirmando-se os prognósticos, a bancada comunista passaria de nove para doze membros.

É preciso lembrar que Camila Vallejo e Rubén Moraga não se candidataram à reeleição, e Guillermo Teillier e Daniel Núñez se candidataram ao Senado.

Com Prensa Latina e El Siglo

 

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