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Diálogo EUA-OTAN e Rússia: Graves ameaças à paz continuam no ar

Soldados ucranianos usam um lançador de mísseis Javelin, dos EUA, durante exercícios militares em dezembro de 2021

Com ameaças no ar e divergências não resolvidas sobre as crescentes tensões na Ucrânia, as últimas conversações entre os Estados Unidos-OTAN e Rússia terminaram sem avanços.

Foram duas reuniões distintas propostas pelo presidente russo Vladimir Putin no contexto do Diálogo de Estabilidade Estratégica, acordado em junho do ano passado com o presidente estadunidense Joe Biden.

No final de 2021, a Rússia divulgou os projetos de acordos com os Estados Unidos e com a OTAN sobre garantias de segurança. Em particular, Moscou exige que EUA/OTAN garantam juridicamente o fim da expansão da OTAN para Leste, a não integração da Ucrânia na OTAN e a retirada das bases militares nos países da ex-URSS.

O primeiro encontro foi realizado em Genebra (Suíça) no dia 10/01, envolvendo apenas EUA e Rússia e o segundo em Bruxelas (Bélgica), no dia 12/01, reunindo a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e representantes de Moscou.

A primeira reunião contou com a subsecretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Riabkov e durou mais de oito horas.

Embora a número dois da diplomacia americana tenha afirmado que tanto seu país quanto a Rússia entenderam melhor as preocupações e prioridades da outra parte, ela não descartou novas sanções contra Moscou no futuro, se Washington assim o considerar.

Os EUA condicionam um possível progresso diplomático a “medidas concretas (por parte da Rússia) para diminuir as tensões”, disse Sherman.

As ameaças de punição dos Estados Unidos e seus aliados se materializariam se a nação eurasiana lançasse uma invasão contra a Ucrânia.

Sherman também comentou que os Estados Unidos estão abertos a discutir o futuro de certos sistemas de mísseis no Velho Continente relacionados ao antigo Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, do qual o ex-presidente Donald Trump (2012-2021) se retirou em 2018.

Para a Rússia, as principais questões sobre as propostas de garantias de segurança foram deixadas de lado, segundo as avaliações do vice-chanceler Sergey Ryabkov.

“A conversa foi difícil”, disse ele, especificando que “não conseguimos melhorar a situação”.

Dois dias depois ocorreu a segunda reunião, entre a Federação Russa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, valorizou a reunião como positiva, referindo-se à importância de retomar o diálogo com Moscou, mas destacando as divergências entre as partes.

Nesta oportunidade, quem representou a Federação Russa foi o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros Alexander Grushko (a Rússia tem onze vice-ministros de Relações Exteriores, sendo o titular Sergey Lavrov). Para Grushko,  a reunião com a Otan foi “franca, direta e intensa”, mas destacou as divergências existentes e a necessidade de “alterar o perigoso curso dos acontecimentos”. Grushko avalia que existe uma “viragem” da aliança atlântica para “esquemas de segurança da Guerra Fria”, dando prioridade ao objetivo da dissuasão da Rússia.

Uma política desse gênero terá uma resposta semelhante da parte de Moscou: “Se a Otan passa à política de dissuasão, da nossa parte haverá uma política de contra-dissuasão. Se houver intimidação, haverá contra-intimidação. […] Não é a nossa opção, mas não haverá outro caminho se não conseguirmos […] mudar hoje o perigoso curso dos acontecimentos”, disse o diplomata, citado pela RT.

Rússia exige fim do avanço para o Leste

A parte russa, referiu Grushko, indicou que uma maior deterioração da situação conduziria a “consequências mais imprevisíveis e nefastas para a segurança europeia”, e propôs medidas que “permitam voltar a construir uma segurança europeia baseada em princípios comuns, no interesse de todos”, o que irá “melhorar não apenas a segurança militar da Federação Russa, mas também a dos países-membros da Otan”.

Neste sentido, acrescentou que Moscou não pode aceitar a abordagem da OTAN ao princípio da segurança indivisível, uma vez que é “seletiva”: “os olhos da OTAN só existem para os membros da aliança”, ignorando os interesses de outros países.

Em declarações à imprensa, Grushko afirmou que uma das principais exigências da Rússia à OTAN é a do fim da expansão para Leste, nomeadamente para países que integravam a União Soviética, e sublinhou os riscos associados a “uma nova expansão”.

Numa reunião que durou quatro horas, o tema da Ucrânia ocupou uma hora e meia, disse o diplomata, para dar uma ideia da importância da questão.

A “situação é crítica”, diz Moscou

Moscou defende que a “desescalada no país vizinho (Ucrânia) é possível” e que, para alcançar esse objetivo, é necessário que Kiev implemente de forma incondicional os acordos de Minsk, no âmbito da resolução 2052 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Sendo aplicados os acordos de Minsk, “não haverá ameaças à segurança e à integridade territorial da Ucrânia”, frisou Grushko, acrescentando que, se a OTAN estiver interessada na “desescalada”, deve cessar “toda a ajuda militar à Ucrânia”, incluindo fornecimento de armas, bem como retirar do país inspectores, instrutores, oficiais e soldados.

No entanto, “nós precisamos de garantias jurídicas, garantias legais de não expansão da OTAN, a eliminação de tudo o que a aliança tem criado, mobilizada por fobias antirrussas e pelos vários tipos de falsas impressões da essência da política russa no período desde 1997“, notou o alto diplomata.

Nesta segunda-feira (17), o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, informa que enviará a Kiev novo pacote de ajuda militar com sistemas de armas leves, antiblindagem e defensivos, enquanto o Canadá anuncia o envio de 200 militares das forças especiais à Ucrânia.

No mesmo dia, em declaração à agência Sptunik News, Aleksandr Grushko declarou que a atual “situação crítica” é resultado da expansão da Aliança Atlântica, e que medidas proporcionais devem ser tomadas.

Segundo Grushko, o “alargamento e aproveitamento militar dos territórios dos novos países (surgidos com o fim da URSS)” é a maior prova de que “a infraestrutura militar [da OTAN] se aproximou demasiado das fronteiras russas“.

Na OTAN sabem perfeitamente que medidas técnico-militares russas estão em causa. Nós não escondemos nossas possibilidades, agimos de forma muito transparente“, enfatizou.

Da redação do i21 com Prensa Latina, AbrilAbril e Sputnik News

 

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