Súmula Internacional 50 – El Salvador: Nayib Bukele realiza o sonho de Bolsonaro
Leia mais: Qual o perigo real de uma guerra nuclear entre Rússia e EUA/OTAN? / Líbano segue sem governo constituído depois de 7 meses de impasse / China – Foguete “Longa Marcha” põe em órbita 41 satélites em única decolagem / Argentina – Frente de todos agora é União pela Pátria / América Latina – Banco Mundial prevê crescimento “insuficiente” / Argélia declara que “sempre apoiará a Rússia” e pede entrada no Brics / Policiais robôs patrulharão ruas de Singapura
O presidente de El Salvador, personagem de extrema-direita, Nayib Bukele, tomou posse em 1º de junho de 2019. Vários ingredientes de sua ascensão ao poder são conhecidos pelos brasileiros: direita tradicional incentiva um ódio irracional contra a esquerda usando o discurso anticorrupção e insufla a sanha anticomunista da extrema-direita na qual emerge um personagem com discurso antipolítico e antissistema (apesar das evidências públicas de que sempre fez política e de que defende o que existe de pior no sistema). Este oportunista, sustentado por setores financeiros importantes, monta um vasto aparelho de comunicação tendo como foco as redes sociais, igrejas evangélicas neopentecostais ou católicas ultraconservadoras e parte da mídia hegemônica. Nayib foi eleito em 2019 com confortável maioria de extrema-direita na Assembleia Nacional e, de certa forma, realizou o sonho de Bolsonaro. Em 2021, a Assembleia, controlada por Nayib, destituiu os cinco membros da Câmara Constitucional (a corte suprema do país) e o presidente indicou cinco novos juízes, fiéis a ele, que tudo apoiam vindo do governo. Igualmente foi defenestrado o procurador-geral por um homem de confiança do presidente. Em março de 2022, o país viveu uma grave crise de segurança pública, quando uma guerra de quadrilhas (pandillas) matou 87 pessoas em apenas dois dias, número realmente alarmante que fez a cifra de homicídios no país chegar a 165 naquele mês. Na cidade do Rio de Janeiro, que tem praticamente o mesmo número de habitantes de El Salvador (por volta de 6 milhões), a estatística de homicídios mensais oscila entre 100 e 140 por mês, por vezes concentrados em poucos dias quando ocorre uma das trágicas e frequentes chacinas nos morros da cidade. A chacina de março de 2022 na nação centro-americana foi o pretexto para Nayib concretizar plenamente seu projeto autoritário: ele decretou estado de exceção.
El Salvador: Nayib Bukele realiza o sonho de Bolsonaro II
Nestes 48 meses de mandato, o presidente salvadorenho governou os últimos 15 sob estado de exceção e agora parte para o 16º mês. Nesta quarta-feira (14), o parlamento prorrogou a medida – com 67 votos a favor (em 84) – pela décima-quinta vez consecutiva. Governando com o estado de exceção, Nayib Bukele pode, entre outras coisas, mandar prender qualquer pessoa sem ordem judicial prévia, além disso ficam suspensas as liberdades de associação e de manifestação, o direito a ser representado por um advogado, bem como o sigilo de comunicações privadas. Com autorização do estado de exceção, o governo enviou ao parlamento leis (que foram aprovadas) demitindo e substituindo fiscais e juízes de vários níveis. Cerca de 70 mil pessoas foram presas sem ordem judicial, em prisões massivas que incluíam muitos menores de idade. Destes encarcerados, 142 (número admitido pelo governo e contestado pela oposição) foram assassinados dentro da cadeia. Nesta terça-feira (13), o procurador-geral da República nomeado em 2021, Rodolfo Delgado, declarou o seguinte: “até agora, registramos 142 casos (de mortes) que não constituem crime de acordo com nossas investigações”. Já os números dos mortos em função da ação policial nas ruas não são divulgados. As eleições gerais no país estão marcadas para 4 de fevereiro de 2024 e a Constituição de El Salvador proíbe explicitamente a reeleição presidencial. No entanto a nova Corte Constitucional já deu sinal verde para que Nayib Bukele concorra, baseada na sensacional explicação do vice-presidente Félix Ulloa: “ele (Nayib) não vai concorrer à reeleição, vai concorrer a um segundo mandato”. A Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN), maior força da esquerda salvadorenha e que estava no governo quando o atual presidente venceu na última eleição, atua sob constante pressão e criminalização dos seus dirigentes e militantes. Como no caso de outros neofascistas que durante determinado período conseguem o apoio popular, Nayib Bukele conta com índices muito altos de aprovação o que, sabemos, é um fenômeno, em geral, transitório, pois em algum momento o povo percebe quais são os verdadeiros interesses que a extrema-direita defende, mas até lá muita dor e destruição são causadas. Toda nossa solidariedade ao povo salvadorenho e à FMLN que saberão, como já fizeram antes, derrotar o ditador da vez e, o que é sempre aconselhável pedagogicamente, fazer com que ele e seus cúmplices paguem pelos crimes que cometeram.
Qual o perigo real de uma guerra nuclear entre Rússia e EUA/OTAN?
A escalada do conflito entre Rússia e EUA/Otan, tendo por palco a Ucrânia, aumenta as preocupações sobre o uso de armas nucleares. Os EUA já provaram que não têm pejo em usar a bomba atômica, como fizeram em Hiroshima e Nagasaki em 1945, apenas como demonstração de poderio, pois naquela altura da 2ª Guerra não havia qualquer necessidade militar real para o uso do artefato, contra um Japão já virtualmente derrotado. A Rússia está, atualmente, cercada por ogivas estadunidenses implantadas em países da Europa e ostensivamente apontadas para Moscou, mas igualmente possuí um grande e moderno arsenal. Repetidas vezes, o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, asseverou que, em defesa da existência da nação, ele usaria “todos os meios” à sua disposição. Irresponsavelmente, EUA/OTAN seguem cutucando a onça (no caso o urso) com a vara curta e apostam na continuidade e na escalada da guerra, usando a Ucrânia como bucha de canhão, esperando dividir e fragmentar a Rússia, porém, com isso, provocando uma situação que, a qualquer momento, pode fugir ao controle. A Rússia, recentemente, começou a transferência de armas nucleares táticas* para o território da sua aliada, Bielorrússia e, no dia 13 de agosto, na revista russa Relações Globais, Sergei Karaganov, doutor em História, Presidente Honorário do Presidium do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia, publicou um artigo intitulado: “Uma decisão difícil, mas necessária (o link remete para a página em russo, use uma ferramenta de tradução se for o caso)”, com o subtítulo: “O uso de armas nucleares pode salvar a humanidade de uma catástrofe global”. No artigo, o respeitado analista defende a tese de que o uso de armas nucleares pela Rússia “provavelmente forçaria o Ocidente a recuar, permitindo um fim mais rápido para a crise na Ucrânia e impedindo sua expansão para outros estados”. O texto causou tal repercussão, que nesta quinta-feira (15), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, veio a público declarar o seguinte: “A Rússia está totalmente comprometida com o princípio de que a guerra nuclear é inaceitável, nela não pode haver vencedores, ela nunca deve ser desencadeada […] A política de dissuasão nuclear da Rússia é puramente defensiva por natureza, e o uso hipotético de armas nucleares é claramente limitado a circunstâncias extraordinárias no âmbito de objetivos puramente defensivos“, disse Zakharova. Quando me perguntam se é grande ou pequena a chance de estourar um conflito nuclear, eu respondo que isto não é o mais importante na questão. Se eu considero que, por exemplo, a chance de uma conflagração nuclear acontecer é de 1%, meu dever é usar 100% da minha energia para denunciar o perigo, pois se este 1% se confirmar, boa parte ou até mesmo toda a humanidade estará 100% morta. A única porcentagem que interessa quando se trata da probabilidade de um conflito nuclear é a de 0% e, em torno disso, a mobilização planetária pela paz, contra a escalada da guerra e pela abolição das armas nucleares é urgente.
Líbano segue sem governo constituído depois de 7 meses de impasse
A agência Sputnik News informa que os legisladores libaneses falharam nesta quarta-feira em outra tentativa de eleger um presidente e quebrar o vácuo de poder de sete meses que assola o país mediterrâneo. A sessão desta quarta-feira foi a décima segunda tentativa de eleger um presidente, e o insucesso deveu-se ao fato de que o bloco liderado pelo partido político e grupo armado Hezbollah desistiu após o primeiro turno das votações, quebrando o quórum e inviabilizando a continuidade da sessão. O candidato preferido do Hezbollah, Sleiman Frangieh, conquistou 51 votos, ficando atrás de seu principal rival, Jihad Azour, ex-ministro das finanças e alto funcionário do Fundo Monetário Internacional, que recebeu 59 votos no primeiro turno, enquanto 18 legisladores votaram em branco, usaram cédulas de protesto ou votaram em candidatos minoritários. O complexo acordo de compartilhamento de poder do Líbano prevê que o presidente do país deve ser sempre um cristão maronita, o presidente do parlamento um muçulmano xiita e o primeiro-ministro um mulçumano sunita. O Partido Comunista Libanês denuncia que este modelo é um dos entraves políticos que impede o Líbano de superar uma crise econômica sem precedentes que assola o país desde 2019.
China: Foguete “Longa Marcha” põe em órbita 41 satélites em única decolagem
A agência Xinhua informa que a China lançou nesta quinta-feira um foguete transportador Longa Marcha-2D para colocar 41 satélites em órbita, estabelecendo um recorde nacional para uma única decolagem. O dispositivo decolou para o espaço às 13h30 (horário de Pequim) do Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan, no norte do país, e logo em seguida colocou satélites em órbita. Esta foi a 476ª missão de voo da série Longa Marcha de foguetes transportadores. De acordo com a empresa, os satélites recém-lançados serão usados para fornecer serviços comerciais de dados de sensoriamento remoto para setores como recursos terrestres, exploração mineral e construção de cidades inteligentes.
Argentina: Frente de todos agora é União pela Pátria
A agência EFE informa que a coalizão governante da Argentina, liderada pela vice-presidente do país, Cristina Fernández Kirchner, decidiu nesta quarta-feira, mudar seu nome em vista do processo eleitoral deste ano, que será concluído com as eleições presidenciais de outubro próximo. A coalizão, que até agora se chamava Frente de Todos e é formada principalmente por várias correntes do peronismo, passou a se chamar Unión por la Patria (UP). De acordo com um comunicado divulgado nas redes sociais pela frente governista, a mudança de nome se deve ao fato de a Argentina enfrentar uma “encruzilhada histórica” que pode levar o país a um grave retrocesso e que “diante desse dilema, temos a responsabilidade histórica de expandir nosso espaço político: não apenas para deter essa ameaça, mas também para defender nossa pátria”, acrescentou o comunicado. No dia anterior a este anúncio, a justiça argentina anulou uma causa contra Cristina Kirchner onde ela era investigada por suposto uso irregular da frota de aviões presidenciais durante seus mandatos na Casa Rosada, entre 2007 e 2015. O juiz Claudio Bonadio, já falecido, foi considerado suspeito pois foi o denunciante e ao mesmo tempo o magistrado do caso. Como este juiz foi o responsável por todos os demais processos contra Cristina, tudo indica que esta nulidade alcançará as demais acusações. Ainda não está claro se isso irá mudar o anúncio da ex-presidenta que havia declarado que não concorreria ao mandato presidencial.
América Latina: Banco Mundial prevê crescimento “insuficiente”
O Banco Mundial prevê que a América Latina deve crescer 5% somando-se 2023 e 2024. Segundo a entidade, este crescimento não é suficiente para aliviar a pobreza ou as tensões sociais na região. O economista-chefe do banco, William Maloney, destaca que em 2020 cerca de 19 milhões de latino-americanos entraram na pobreza. As piores perspectivas são do Chile, com contração econômica de 0,7% em 2023, e da Argentina, para a qual se estima estagnação. Informações da agência EFE.
Argélia declara que “sempre apoiará a Rússia” e pede entrada no Brics
A Argélia sempre apoiará a Rússia, apesar das pressões de terceiros países, declarou nesta quinta-feira o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, durante um encontro com seu homólogo russo, Vladimir Putin. “A Argélia sempre apoia a Rússia. Atualmente pode haver alguma pressão de alguns países, mas isso nunca influenciará nossas relações”, afirmou o presidente argelino. Tebboune, que foi recebido com todas as honras pelo presidente russo na Sala São Jorge do Grande Palácio do Kremlin, lembrou que os dois países celebraram no ano passado 60 anos de relações diplomáticas durante as quais “nada mudou”. “Devemos manter nossa independência. Graças ao apoio da Rússia que nos fornece armas para poder defender nossa soberania nas difíceis condições atuais”, disse ele. Tebboune – que viajou à Rússia para participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (que começou na quarta e termina neste sábado, 17) – referiu-se aos principais temas de interesse a serem discutidos com a parte russa, entre os quais priorizou a possibilidade de acelerar a entrada de seu país no grupo BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para evitar o comércio de dólares e euros, o que será “muito benéfico para a Argélia“. Por seu lado, Putin anunciou a assinatura de uma declaração sobre o aprofundamento das relações para fortalecer os laços entre os dois países. “A interação russo-argelina no momento é verdadeiramente multilateral e tem um potencial significativo para um maior desenvolvimento“, disse ele. “Como culminação de nossas conversações, assinaremos uma declaração sobre o aprofundamento da associação estratégica entre a Rússia e a Argélia, que marcará uma nova etapa mais avançada de nossas relações bilaterais“, afirmou. Com informações da Agência EFE.
Policiais robôs patrulharão ruas de Singapura
A agência AFP reporta que após mais de cinco anos de testes, Singapura vai “instalar gradualmente” robôs para patrulhar as ruas desta cidade-estado do Sudeste Asiático, anunciou a polícia nesta quinta-feira. Esses robôs entraram em serviço de avaliação final em um terminal do aeroporto de Changi em abril “para aumentar o número de policiais no terreno conduzindo patrulhas“, disse a polícia de Cingapura em um comunicado. Os robôs de patrulha são equipados com câmeras, sensores, alto-falantes, display e podem emitir luzes ou sirenes. Eles são equipados com uma câmera de 360 graus que fornece imagens aos policiais em uma sala de controle e que podem se dirigir ao público por meio de alto-falantes. Usando luzes, sirenes e alto-falantes, os robôs conseguem, entre outras coisas, “estabelecer um cordão policial, alertar os transeuntes durante um incidente” antes da chegada dos policiais, disse o comunicado.
* As armas nucleares táticas seriam – em comparação com as estratégicas – menos potentes e teriam alcance mais reduzido, menos de 500 km. De acordo com a definição usual, armas nucleares táticas encerram batalhas, enquanto armas nucleares estratégicas acabam com a guerra, definição com a qual eu não concordo pois todo eventual uso de armas nucleares terá efeito estratégico.
Por Wevergton Brito Lima
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