Súmula Internacional 62 – As tensões da Cúpula CELAC-UE
Leia mais: Reuters – “Baixa da inflação nos EUA acelera queda do dólar” / Confirmado segundo turno na Guatemala / Extrema-direita avança na Europa
O presidente Lula estará presente na 3ª Cúpula de Chefes de Estado CELAC-UE, nos dias 17 e 18/7, em Bruxelas (Bélgica). Na pauta oficial do encontro, segundo informação do Itamaraty, questões como mudança do clima; comércio e desenvolvimento sustentável; inclusão social; recuperação econômica pós-pandemia; transição energética, transformação digital justa e inclusiva; migrações; reforma da arquitetura financeira internacional; luta contra o crime organizado; e cooperação para o desenvolvimento. “Serão abordadas diferentes iniciativas e projetos de cooperação, com vistas ao fortalecimento das relações birregionais”, informa ainda a chancelaria brasileira. A União Europeia tem cerca de 440 milhões de habitantes e um PIB que gira em torno de US$ 16 trilhões. Nos países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos vivem 652 milhões de pessoas e o PIB é quase três vezes menor, US$ 5,4 trilhões. As duas entidades não se reúnem há oito anos. A UE tenta estreitar seus laços com os latino-americanos e caribenhos e, de quebra, reforçar a campanha – inspirada pelos EUA – que visa mitigar uma suposta “influência chinesa” na região. Por conta disso, nos últimos meses foram muitas as declarações europeias sobre as boas expectativas que cercavam a realização da Cúpula. Porém, a velha mentalidade colonial persiste, e a União Europeia continua achando que os latinos precisam de sua “paternal” orientação e, muitas vezes, admoestação.
As tensões da Cúpula CELAC-UE II
Assim, apenas 5 dias antes do início da Cúpula, o Parlamento Europeu aprovou, por maioria, uma resolução atacando fortemente um dos países fundadores da CELAC, Cuba. A Resolução, eivada de mentiras e provocações, é tão absurda que exige sanções aos líderes cubanos e nomeia expressamente o presidente Miguel Díaz-Canel. O mesmo parlamento aprovou resolução contra o país que tomou a iniciativa de propor a criação da CELAC, a Venezuela. O Parlamento Europeu chegou a defender que não deveriam participar da Cúpula países que, segundo eles, reprimem opositores. Não, eles não estavam se referindo à França, que prendeu recentemente quatro mil pessoas por protestarem contra o governo, sendo boa parte delas menores de idade. Referiam-se apenas à países da CELAC. Não foi só. Todos reconhecem o fato de que os países da América Latina e Caribe têm, em geral, sobre o conflito que se desenrola na Ucrânia, uma visão diferente da União Europeia. No entanto, mesmo perfeitamente ciente deste fato, a UE apresenta um rascunho de declaração conjunta onde expressa tão somente seu ponto de vista, ignorando soberanamente que a declaração é conjunta. É evidente que este tipo de postura tem como objetivo a defesa de interesses concretos. Por exemplo, para os dirigentes europeus (e estadunidenses), é a coisa mais normal do mundo que eles subsidiem fortemente a agricultura de seus países, mas quando africanos, asiáticos ou latino-americanos têm a mesma ideia é um escândalo e a palavra “protecionismo” é usada como insulto. Contudo, passou o tempo em que a mentalidade colonial europeia intimidava o mundo.
As tensões da Cúpula CELAC-UE III
Em comunicado divulgado nesta segunda-feira (10) o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, denunciou que o comportamento da UE denota falta de respeito e postura de superioridade em relação ao bloco de integração da região e garantiu: “Nossa região mudou. A CELAC é a voz sólida e unida da América Latina e do Caribe e deve ser respeitada. Quem tentar impor uma visão enviesada e europeísta à relação birregional, fingindo ignorar as prioridades e os interesses da nossa região, não terá chances de sucesso em Bruxelas”. O presidente cubano Miguel Diáz-Canel já está na Europa, aonde chegou nesta sexta-feira (14), em visita oficial a Portugal. Diáz-Canel foi recebido pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa e agradeceu “ao presidente a clara posição da UE e em particular de Portugal contra o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba, o qual constitui o principal obstáculo para o desenvolvimento do nosso país”. Quanto à participação na Cúpula, Diáz-Canel disse que “Cuba participará de forma ativa e muito construtiva nas relações entre a UE e a América Latina”. Lula chegará à Bélgica no domingo e a nota de imprensa do Itamaraty, ao falar da participação do presidente, aponta em primeiro lugar que ela se dará “no contexto da renovação do compromisso do Brasil com o fortalecimento da integração regional e da CELAC”. Ou seja, a tática de “dividir para reinar” não funcionará no que depender do Brasil e do presidente Lula que certamente fará, como tem feito, a defesa hábil mas firme, de um mundo multipolar, democrático, onde cada nação é livre para escolher seu modelo de desenvolvimento e de democracia, com total respeito à soberania nacional e sem qualquer concessão à falsa noção de superioridade que habita o subconsciente de alguns europeus.
Reuters: “Baixa da inflação nos EUA acelera queda do dólar”
O título acima foi escolhido pela Reuters como chamada do artigo de Saqib Iqbal Ahmed publicado no Briefing da agência de notícias nesta sexta-feira. Segundo Saquib, “o arrefecimento da inflação nos Estados Unidos está acelerando a queda do dólar, e os ativos de risco em todo o mundo devem se beneficiar”. O artigo informa que o dólar está em seu nível mais baixo em 15 meses. Seu declínio acelerou depois que os EUA divulgaram dados de inflação mais suaves do que o esperado na quarta-feira (12), apoiando a visão de que o Federal Reserve está chegando ao fim de seu ciclo de alta de juros. Para o articulista “como o dólar é um eixo do sistema financeiro global, uma ampla gama de ativos se beneficiará se continuar caindo. A desvalorização do dólar pode ser uma benção para algumas empresas dos EUA, já que uma moeda mais fraca torna as exportações mais competitivas no exterior e torna mais barato para as multinacionais converter lucros estrangeiros de volta em dólares”. O articulista da Reuters argumenta que as matérias-primas, que são cotadas em dólares, tornam-se mais acessíveis aos compradores estrangeiros quando o dólar cai. Os mercados emergentes também se beneficiam, porque uma moeda americana em queda torna a dívida denominada em dólares mais fácil de pagar. “Para os mercados, o dólar mais fraco e seu fator subjacente, a inflação mais fraca, é um bálsamo para tudo, especialmente para ativos fora dos EUA“, disse Alvise Marino, estrategista de câmbio do Credit Suisse, ouvido por Saqib Iqbal, que acrescenta: “a queda do dólar ocorreu quando os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA diminuíram nos últimos dias, enfraquecendo o fascínio do dólar e impulsionando uma ampla gama de outras moedas, do iene japonês ao peso mexicano”. A matéria registra a declaração de um dos entrevistados, Paresh Upadhyaya, diretor de renda fixa e estratégia cambial da Amundi US, para o qual “Quando você olha para o que está acontecendo agora, as perspectivas para o dólar permanecem bastante sombrias“.
Confirmado segundo turno na Guatemala
Como informamos na Súmula do dia 07/07, o resultado do primeiro-turno na Guatemala (em 25/6) surpreendeu a todos com a ida ao segundo-turno de um representante progressista, Bernardo Arévalo que desbancou o candidato do atual presidente, Manuel Conde, e disputará o segundo-turno com a ex-primeira-dama, Sandra Torres Casano. As pesquisas apontavam Bernardo em oitavo lugar. Em uma eleição muito fragmentada, Sandra Torres obteve 15,85% dos votos, Bernardo Arévalo, 11,77% e candidato do governo ficou em terceiro lugar, com 7,84%. Com o segundo turno marcado para o dia 20 de agosto, vários partidos de direita tentaram mudar o resultado no tapetão, alegando fraude. Primeiro, conseguiram uma decisão, mais tarde revogada, suspendendo os resultados do primeiro turno. Depois um procurador direitista acusou o “Movimiento Semilla” (Movimento Semente) de Bernardo, de fraude. Um juiz criminal (ou seja, sem competência para a matéria) acolheu a acusação e cancelou o registro do partido. Porém, nesta quinta-feira (13), a Corte Constitucional anulou o cancelamento e confirmou a eleição para 20 de agosto. A Guatemala é a maior economia da América Central.
Extrema-direita avança na Europa
A jornalista Anabela Fino, em artigo publicado na edição desta quinta-feira do Avante!, traça um quadro preocupante sobre o avanço da extrema-direita na Europa. Principais trechos: “As eleições gerais antecipadas em Espanha, no próximo dia 23 de julho, podem levar ao poder, se as sondagens derem certo, o partido de extrema-direita Vox, com quem o Partido Popular, de direita, tem vindo a estabelecer acordos após a derrota do PSOE nas eleições locais de maio. Na Bélgica, que vai às urnas em 2024, a extrema-direita flamenga representada pelo partido Vlamms Belang aparece nas sondagens como possível vencedora, com 25% dos votos, enquanto a Aliança neo-flamenga, direita conservadora, surge em segundo lugar com 22% das intenções de votos. Na Alemanha, o AfD (Alternativa para a Alemanha) surge nas sondagens com 20% das intenções de voto, percentagem que sobe para 30% no Leste do país, onde pela primeira vez o partido elegeu um governador, em Sonneberg, na região da Turíngia. A tendência confirmou-se na Grécia, a Nova Democracia saiu das urnas com 40,5% dos votos, o que com o bônus ao partido mais votado, agora em vigor, lhe dá a maioria absoluta, e o partido Espartanos, herdeiro do neonazi Aurora Dourada, rompeu a barreira dos 3% e recolheu 4,6% dos votos. Já em Itália governa o partido Fratelli d’Italia, de Giorgia Meloni, a primeira-ministra que tem como lema ‘Deus, Pátria e Família’, homofóbica, antiaborto, feminacionalista, contra o multiculturalismo, anti-imigração, racista e xenófoba. Na Suécia, os neo-nazis que apoiam o governo dão pelo nome de Democratas da Suécia, enquanto em Helsínquia os Verdadeiros Finlandeses se juntaram aos conservadores para o executivo mais à direita da história do país dos últimos 70 anos. Enquanto isso, na Dinamarca, a convergência entre conservadores e extrema-direita abriu as portas do poder ao Partido do Povo dinamarquês (Dansk Folkpati, FD), nacionalista, anti-imigrante e islamofóbico. Na Áustria, a aliança entre conservadores e extrema-direita deixou de provocar pruridos no final dos anos 90, com o Partido Popular Austríaco (ÖVP), democrata-cristão, a juntar-se ao Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), nacionalista. Assim vai a UE, onde o ascenso da extrema-direita, camuflado por palavras como liberdade, democracia, povo, se traduz num crescente desequilíbrio de forças e estimula o retrocesso, que já se verifica, dos valores humanistas e dos direitos sociais tão duramente conquistados na Europa”.
Por Wevergton Brito Lima
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