Boletim i21 / 01 a 10 de janeiro-2021 – Análises e informações sobre a conjuntura internacional
A INVASÃO DO CAPITÓLIO
Walter Sorrentino: 2021 quente (link)
“Mas a história não se repete, embora as catástrofes possam ocorrer. Hoje, é resultado do neoliberalismo cuja agenda econômica é senil, correlacionado à crise da globalização e do liberalismo político, em meio a grandes transformações nas forças produtivas, potencialmente emancipadoras do trabalho assalariado. Isso leva à crise das identidades de classe e de suas representações políticas. A pandemia acelerou e aprofundou todas essas tendências. Caso mais recente e marcante é o dos acontecimentos nos EUA quando seria a proclamação oficial da vitória de Biden. Foi um verdadeiro ataque à democracia e às instituições do país. Isso indica que o ovo da serpente foi chocado.”. Artigo de Walter Sorrentino.
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A cada dez dias, análises e notícias da conjuntura internacional pela ótica dos comunistas e seus aliados.
Um dia inusitado
O 6/1 foi um dia inusitado nos EUA e que chamou a atenção de todo o mundo. No longo processo que envolve os ritos de transição do poder presidencial, os olhos estavam voltados para a sessão conjunta do Congresso americano (câmara e senado) que certificaria a vitória de Biden, através da “contagem oficial” dos votos dados pelos cidadãos em todo o país durante a votação que culminou em 3 de novembro passado e sua validação pelo colégio eleitoral de 14 de dezembro. A sessão era presidida pelo vice-presidente do país, Mike Pence, que também preside o Senado pelas regras constitucionais americanas, e uma moção de objeção aos resultados eleitorais do Arizona havia sido apresentada quando um grupo de pessoas pró-Trump, defensores da tese de que as eleições foram fraudadas, invadiram o Capitólio, edifício onde estão abrigadas as duas casas legislativas, com o intuito de impedir o prosseguimento da sessão. O contexto pré-invasão foi de uma sistemática recusa por parte de Donald Trump em reconhecer sua derrota eleitoral. E esse não reconhecimento não tem sido passivo, mas bastante ativo. Isso ficou demonstrado nos últimos meses com o incitamento a seus apoiadores com a tese de que as eleições foram roubadas e no assédio a autoridades dos Estados. No dia 03/01, uma carta assinada por todos os ex-ministros da Defesa ainda vivos afirmava não haver bases sólidas para nenhum questionamento quanto aos resultados eleitorais. Era um sinal de que o presidente prosseguiria com as iniciativas de questionamento e fustigando as autoridades. Nesses mesmos dias também aconteceu o segundo turno eleitoral das duas vagas ao Senado na Geórgia, com vitória dos democratas e garantia das duas vagas, impedindo uma maioria republicana no Senado a partir de 2021. Também nos dias anteriores à invasão do Capitólio, aqueles mesmos personagens que apareceram muito nos dias seguintes às eleições de novembro, como o filho do presidente, Trump Jr., e seu advogado, Rudy Giuliani, foram para as ruas e as redes animar os manifestantes e encorajá-los a “agirem em nome da verdade”. Eles agiram de fato e produziram cenas absolutamente bizarras, pelas roupas caricaturadas que usavam, a forca e a cruz que ergueram nos jardins do prédio, e perigosas também, provocando inclusive a morte de uma das invasoras após ser alvejada por tiros das forças de segurança dentro do Capitólio. Os relatos iniciais falavam de um total de quatro mortes, mas o número de vítimas fatais foi de 5 pessoas. Uma pergunta que certamente veio à cabeça de todos que acompanham o que acontece nos EUA foi a de como os invasores tiveram tanta facilidade para entrar no prédio e ocupar tantos espaços no seu interior, inclusive para sentar na cadeira do presidente do Senado e vandalizar o gabinete da presidente da Câmara. É inevitável comparar com o aparato de segurança armado no mesmo edifício na época dos protestos do Black Lives Matter. Parecem dois países distintos, aquele do cenário das manifestações antirracistas e o de ontem com a invasão do capitólio pelos pró-Trump. Some-se a isso a recusa inicial da Defesa Nacional em atender ao chamado da prefeita de Washington para cooperar com a segurança do local. Por fim, controlada a situação e esvaziado o prédio, os congressistas voltaram com a sessão e Mike Pence fez a declaração oficial de vitória de Biden por 306 votos a 232 de Trump (colégio eleitoral). Ana Prestes, em Notas Internacionais.
Twitter, Facebook e Instagram bloqueiam contas de Trump (link)
Empresas reagiram a postagens em que o presidente se dirige a apoiadores que atacaram o Capitólio.
GEOPOLÍTICA
Assange – Extradição negada
A juíza britânica, Vanessa Baraitser, impediu a extradição de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, para os EUA após uma decisão tomada na manhã do dia 4/01. Assange se encontra na prisão de alta segurança de Belmarsh, arredores de Londres. Ele esteve por muitos anos refugiado na embaixada do Equador na Grã Bretanha, até ser preso em 2019. Nos EUA ele poderia pegar até 175 anos de prisão por ter divulgado, há dez anos, entre 2006 e 2010, mais de 700 mil documentos sobre atividades militares e diplomáticas do país, especialmente no Iraque e no Afeganistão. No último período, cresceu muito a pressão popular com abaixo-assinados e manifestações para que a saúde e a vida de Assange sejam preservadas. Segundo familiares e jornalistas, o estado geral de saúde dele está se deteriorando e em seu veredito, a juíza Baraitser se refere a risco iminente de suicídio. A comissária de direitos humanos da Alemanha, Barbel Kofler, é uma das autoridades europeias que pediu aos britânicos que tenham em conta aspectos humanitários e de saúde física e psíquica de Assange. Também o relator da ONU sobre tortura, Niels Melzer, enviou uma carta aberta ao presidente Trump para que perdoe Assange por “não ser um inimigo do povo estadunidense”. Segundo publicou o jornalista Glenn Greenwald no twitter, a decisão pela não extradição não foi uma vitória da liberdade de imprensa, pois a juíza deixou claro que acredita que há fundamentos para processar Assange pelas publicações do WikiLeaks. Ela não permitiu a extradição por considerar que os EUA possuem um sistema prisional desumano. No dia 06/01 a mesma juíza negou o pedido de liberdade condicional feito pela defesa de Assange. Ana Prestes, em Notas Internacionais.
Passagem de um ano de assassinato de Qasen Soleimani
No dia 3 de janeiro, foi relembrada a passagem de um ano do assassinato do general iraniano Qasen Soleimani em solo iraquiano, Bagdá, por drones dos EUA. Passado um ano, o Iraque continua sendo palco dos ataques dos EUA ao Irã e ao próprio Iraque por tabela. É bom lembrar que junto com Soleimani foi morto também Abu Mahdi al Mohandes, uma liderança pró-iraniana que tinha muito papel no enfrentamento aos americanos em solo iraquiano. Na madrugada de sábado para domingo (3) foi realizada uma marcha com milhares de pessoas no Iraque no trajeto que vai até o aeroporto da capital Bagdá, onde foi realizado o assassinato. No centro da cidade também houve manifestações. Um dos pedidos dos manifestantes é para que o governo iraquiano pressione os EUA para a total retirada de militares estadunidenses do país. Por sua vez, o chanceler iraniano, Mohamad Yavad Zarif emitiu uma mensagem via sua conta no twitter na véspera do aniversário de um ano do assassinato: “a medida que nossa região celebra solenemente o primeiro aniversário, fica a lembrança de que o único beneficiário de seu assassinato foi o Daesch (ISIS), que aumentou sua atividade desde então”. Ele está se referindo ao grupo terrorista armado conhecido como Estado Islâmico. Ana Prestes, em Notas Internacionais.
AMÉRICA LATINA E CARIBE
Venezuela: Nova Assembleia Nacional toma posse
Ocorreu de forma tranquila, no dia 5/1, a posse dos novos membros da Assembleia Nacional da Venezuela eleitos em 6 de dezembro passado. Junto com os novos parlamentares voltaram os quadros de Chávez e Bolívar que haviam sido retirados do edifício pelos anteriores legisladores. O novo período legislativo começa para 277 deputadas e deputados que serão dirigidos por Jorge Rodríguez (ex-ministro da Comunicação). A maior bancada, vinculada ao Gran Polo Patriótico (GPP), será dirigida por Diosdado Cabello. Mas como não poderia faltar, o Grupo de Lima se deu mais uma vez o direito de “não reconhecer a legitimidade ou a legalidade da Assembleia Nacional instalada em 5 de janeiro…”. Segundo os países congregados neste grupo (Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Paraguai e Peru), continua valendo a Assembleia do Juan Guaidó. Já a União Europeia deixou de reconhecer Guaidó como presidente. Em um comunicado pra lá de estranho, o chefe da Política Exterior do bloco, Josep Borrell, diz que “lamenta profundamente” que tenha surgido uma nova Assembleia a partir de eleições “não democráticas” e que a UE continuará dialogando com todos os atores políticos e da sociedade civil que se esforçam para restabelecer a democracia na Venezuela, em particular, Guaidó e outros da Assembleia Nacional “cessante” eleitos em 2015. Segundo ele, as eleições de 2015 constituem a “última expressão livre dos venezuelanos em um processo eleitoral”. Só é democrático quando seus aliados vencem? Ana Prestes, em Notas Internacionais.
EUROPA
Covid-19: Premiê britânico anuncia novo lockdown na Inglaterra (link)
Decisão vem após a descoberta de uma nova variante da covid-19 no território britânico, que é entre ‘50% e 70% mais contagiosa’ do que a versão atual.