Congresso nega pedido de impeachment e paraguaios respondem com mais protestos
Após 10 dias de atos, 42 deputados votaram contra a abertura de um julgamento político do presidente Mario Abdo Benitez.
Por Michele de Mello
A câmara de deputados do Paraguai rejeitou, nesta quarta-feira (17), por 42 votos contrários e 36 favoráveis, a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Mario Abdo Benitez e seu vice Hugo Velázquez por crimes de responsabilidade.
Há cerca de 10 dias os paraguaios protagonizam manifestações nas principais cidades do país exigindo o fim do atual governo por sua má gestão durante a pandemia e denúncias de corrupção.
No entanto, a pressão das ruas não foi suficiente para mudar o voto dos partidários de Abdo Benitez. O partido Colorado, que governou o país durante os últimos 70 anos, com uma pequena interrupção durante a gestão de Fernando Lugo, possui a ampla maioria do congresso, com 22 parlamentares.
A oposição parlamentar denunciou que não houve debate, somente dois deputados se pronunciaram antes da votação. “Foi frustrante. Não tínhamos inimigos, não pudemos debater”, declarou a deputada Celeste Amarilla, do Partido Radical Liberal Autêntico.
Em repúdio à decisão dos deputados, o povo paraguaio ocupou novamente as ruas de Assunção, bloqueando o acesso às principais vias, incendiando carros e a sede do Partido Colorado. Um suboficial da Polícia Nacional, que fazia a segurança do prédio, disparou com uma escopeta contra os manifestantes.
Vídeos em redes sociais também revelam a presença de policiais à paisana fortemente armados, o que confirma as denúncias anteriores de que os militares estariam infiltrando agentes para gerar mais violência.
Ao todo, 27 pessoas foram detidas, incluindo dois menores de idade, e os atos fortemente reprimidos.
Membros do Mecanismo Nacional de Prevenção à Tortura denunciaram abuso policial. Muitos dos detidos foram capturados quando já estavam dispersando dos atos. “A maioria recebeu golpes na cabeça e muito mal trato psicológico”, declarou Sonia Von Lepel, que entrevistou 24 detidos.
A assessoria da Polícia Nacional declarou que irá esperar uma denúncia formal da Procuradoria, com provas, para se pronunciar.
Além da crise política, o país atravessa uma crise sanitária. São 186 mil contaminados com a covid-19 e 3.588 mortos, em meio ao colapso dos hospitais e às denúncias de desvios das vacinas para aplicação em pessoas que não pertencem a grupos prioritários.
Até o momento, o Paraguai possui 27 mil doses de distintas fórmulas, que seriam destinadas a imunizar os profissionais da saúde.
Fonte: Brasil de Fato