PC Sudanês exige transferência imediata do poder aos civis
O Partido Comunista Sudanês (PCS) foi um dos principais atores políticos na organização dos massivos protestos populares que culminaram com a deposição, no dia 11 de abril, do presidente do Sudão, Omar Al-Bachir, que estava há trinta anos no poder. Duramente perseguido antes da queda de Omar Al-Bachir, o PCS chegou a ter vários membros do CC presos, inclusive seu secretário-político, Mohamed Mokhtar al-Khatib. Os comunistas fazem parte de uma ampla aliança denominada Liberdade e Mudança (LM). Os protestos continuam, enquanto os militares do Conselho Militar de Transição usam de subterfúgios para adiar a entrega do comando do país aos civis da LM. Nesta quinta-feira (16) o Secretariado do PC Sudanês emitiu uma nota onde relata o desenvolvimento da situação no país. Leia os principais trechos.
Durante a semana passada ocorreram acontecimentos importantes no Sudão, especialmente no que diz respeito às negociações entre a Aliança para a Liberdade e Mudança e o Conselho Militar Transição (CMT). Depois de um começo turbulento, os dois lados concordaram com as questões menos controversas, como os três níveis de governança e de que 75% do corpo legislativo seria composto pela Aliança, e o conselho de ministros seria principalmente civil. No entanto, a questão controversa da composição do Conselho Presidencial ainda não foi abordada. Isso tem sido criticado pelo Partido Comunista Sudanês já que a composição e o estabelecimento do conselho presidencial é o primeiro passo para a transferência de poder para o governo civil. Adiar significa dar ao CMT mais tempo para consolidar seu poder.
A noite de 13 de maio testemunhou um brutal ataque armado contra as massas que ocupam a praça em frente ao QG do exército e tenta remover as barricadas. Este ato criminoso resultou na morte de seis pessoas. Vale a pena mencionar que, graças à firmeza das massas, a tentativa criminosa foi derrotada e a concentração ainda continua em frente ao QG do exército.
Apesar do fato de que o CMT condenou o ataque, seu presidente fez uma declaração ontem suspendendo as conversações com a Aliança e declarando que as forças de segurança vão remover as barricadas. Ele não mencionou sua intenção ou plano contra a manifestação pacífica.
O PC Sudanês realizou uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 15 de maio. O seu secretário político, camarada Al-Khatib, dirigiu a conferência e apresentou a posição do PC Sudanês sobre os últimos acontecimentos.
Al-Khatib salientou que a atual revolta é a continuação das lutas do povo sudanês desde a independência para a libertação nacional e social, para a democracia, a justiça social e a paz. Ele destacou que o objetivo principal da revolta é conseguir soluções radicais para as questões candentes enfrentadas pelo povo sudanês.
No massacre de 13 de maio, o PC Sudanês afirmou que o CMT tem total responsabilidade pelos ataques criminosos, uma vez que é o verdadeiro beneficiário do término do protesto. O partido exigiu o estabelecimento de uma comissão de inquérito conjunta com poderes judiciais para levar os culpados à justiça. Além disso, pediu a detenção do alto escalão do regime de Al-Bachir.
O Secretário Político do PC Sudanês exigiu a transferência de Al-Bachir e todos os acusados de cometer crimes de guerra ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Ele prosseguiu afirmando que o atual CMT é na verdade o Comitê de Segurança estabelecido por Al-Bachir, mas foi forçado a agir, sacrificando Al-Bachir, em uma tentativa vã de abortar a insurreição e salvar o regime. Além disso, o CMT está tentando preservar as antigas políticas, continua sendo tolerante com aqueles que cometeram crimes contra o povo e vem tentando chegar a acordos com as forças que apoiaram Al-Bachir.
Nas conversações entre a LM e o CTM, o camarada Al-Khatib apreciou o progresso limitado alcançado, mas afirmou que a liderança do partido está estudando e avaliando os resultados. No entanto, ele deixou claro que o PC Sudanês é contra a ideia de que um militar seja apontado como chefe do conselho presidencial, bem como dar aos militares uma maioria no conselho.
A posição do PC sudanês é que, se o poder real é transferido para o governo civil, então um grande passo adiante é alcançado. Caso contrário, a revolta continuará, preparando-se para o lançamento da greve política geral e da campanha de desobediência civil.