Notas internacionais (por Ana Prestes) 09/01/19
– Em telegrama emitido ontem (8) a todos os postos diplomáticos brasileiros no exterior, o Itamaraty pede a diplomatas que comuniquem à ONU que o Brasil saiu do Pacto Global para Migração. Negociado por quase dois anos, o pacto é uma resposta internacional à crise migratória que atinge vários países do mundo com um enorme fluxo migrante circulando no planeta. Em nenhum trecho o texto do acordo fere a soberania de qualquer país ou exige qualquer medida para recebimento de volumes pré-determinados de migrantes.
– Trump foi à TV americana ontem (8) a noite para falar do muro com o México e da consequente paralisação parcial do governo na queda de braços com o Congresso para a aprovação de recursos destinados à construção da estrutura na fronteira sul. Todas as TVs transmitiram. Durante o pronunciamento, disse que vai manter a administração estancada até que a Câmara de Representantes aceite pagar pelo muro. Alega crise demográfica e um país aberto a “imigrantes criminosos”.
– Pesquisa da Pew Research Center mostra que maioria dos americanos é contra a construção de um muro na fronteira com o México.
– Histórica votação do Brexit no parlamento britânico deve ocorrer em 15 de janeiro, segundo porta-voz de Theresa May disse ontem (8). Deve ocorrer a partir das 19h30 (hora local). A probabilidade de aprovação ainda é remota. A oposição aposta na rejeição da proposta de May e convocação de eleições legislativas antecipadas. Outros parlamentares defendem novo referendo. May aposta na tese do “fato consumado”, dada a exiguidade do tempo para a construção de novo acordo.
– Ainda no contexto do Brexit, o parlamento britânico votou ontem uma ação sobre a lei do orçamento, que dificulta a ação do governo no caso de um Brexit duro (sem acordo). A proposta foi aprovada por 303 votos contra 296. A medida impede o aumento de certos impostos e outras definições sem autorização do Parlamento. Uma espécie de vacina contra a tentativa de um Brexit sem acordo.
– Na Alemanha, foi preso o hacker que vazou os dados pessoais de mais de 400 políticos, inclusive de Angela Merkel. O rapaz, que tem 20 anos e cursa o ensino médio, vai responder em liberdade. Alega que se irritou com declarações dos políticos.
– Trump rebaixou o status da delegação diplomática da União Europeia (UE) nos EUA do nível de Estado para o de organização internacional. Segundo a imprensa europeia, a medida foi descoberta agora, apesar de ter sido tomada entre outubro e novembro de 2018. Diplomatas europeus deixaram de ser convidados para uma série de eventos em Washington e durante o funeral de Bush-pai se deram conta do rebaixamento.
– A Organização Mundial do Comércio (OMC) informou ontem (8) que diplomatas venezuelanos abriram processo na entidade contra as medidas de sanção econômica a produtos e serviços venezuelanos por parte dos EUA. As sanções servem ao intuito de isolamento e estrangulamento econômico da Venezuela. Dentro das regras da OMC, ambos países terão que colocar seus representantes para negociar e caso não haja acordo a controvérsia será arbitrada por especialistas.
– Como já se imaginava, deteriorou-se a sintonia entre Washington e Ankara com respeito a situação dos curdos. A princípio satisfeito com a saída das tropas americanas da Síria, pela oportunidade de lidar sozinho com os curdos, Erdogan se irritou com as condicionantes anunciadas por John Bolton para a saída dos EUA da Síria. Segundo Bolton, uma das condições é que o governo turco proteja os curdos na fronteira com a Síria.
– A Guatemala expulsou a comissão da ONU – Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala. A comissão tinha mandato até 3 de setembro de 2019. A medida tomada pelo presidente guatemalteco Jimmy Morales ocorre no mesmo momento em que aumenta a tensão entre governo e oposição no país. O convenio com a ONU que gerou a comissão foi aprovada pelo legislativo do país.
– Terminou hoje (9) em Pequim uma rodada de três dias de negociações comerciais entre EUA e China. Ainda não há documento oficial ou pronunciamento sobre os acordos a que chegaram.
– Popularidade de Macron voltou a subir, mesmo com a continuidade dos protestos dos coletes amarelos, segundo pesquisa do Instituto Ifop. Por outro lado, o partido de extrema direita Reunião Nacional (antigo Frente Nacional) liderado por Marine Le Pen também ganhou força nas pesquisas como o partido que mais representa a principal oposição a Macron, seguido do La France Insoumise, de Mélenchon.
– No Chile, a Igreja Católica enfrenta uma onda de denúncias de abusos sexuais. O Ministério Público atualizou ontem para 148 o número de investigações sobre abusos sexuais realizados por membros da Igreja contra 255 pessoas. O Papa Francisco tem aceitado as renúncias de vários bispos chilenos. A maior parte das acusações se refere a estupros realizados por padres ao longo de décadas em colégios da Congregação Marista.
– Em reunião com o assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu que reconheça a soberania israelense sobre as Colinas de Golán. Originalmente parte do território Sírio, as colinas de Golán foram conquistadas por Israel em 1967 (guerra dos seis dias) e anexadas por Israel em 1981. A anexação nunca foi reconhecida pela Síria e pela comunidade internacional.
– A taxa de emissão de dióxido de carbono nos EUA subiu 3,4% em 2018. A maior alta em 8 anos. O estudo divulgado ontem (8) pelo instituto Rhodium Group colocou os EUA em posição ainda mais distante do cumprimento dos Acordos de Paris (2015) de redução da emissão global de gases contaminantes.
– O Secretário Geral da OEA, Luis Almagro, junto a representantes da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, EUA, Guatemala, Paraguai e Peru, convocou para amanhã, no mesmo momento da posse de Maduro na Venezuela, uma reunião da entidade. Curiosamente o encontro ocorrerá na sala Simón Bolivar da entidade.
– O secretário geral da OPEP, o nigeriano Mohammed Barkindo, já está na Venezuela para a posse de Maduro.
– No México, o presidente López Obrador anunciou o inicio de um processo de avaliação sobre 368 casos de presos políticos na esfera federal. Há pessoas presas por participarem de protestos contra a reforma educacional de Peña Nieto, ambientalistas da zona de Puebla, mulheres que interromperam a gravidez.
Ana Maria Prestes
A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, é membro do Comitê Central e da Comissão de Política e Relações Internacionais.