Luta dos povos

A pandemia intensificou contradições internacionais, diz Walter Sorrentino

Walter Sorretino é vice-presidente e secretário de relações internacionais do PCdoB

A situação brasileira é muito grave e quando a gente traça uma orientação política, estratégica e tática, precisa contextualizar essa orientação na ordem internacional. E isso é mais necessário do que nunca hoje”, afirmou Walter Sorretino, vice-presidente e secretário de relações internacionais do PCdoB.

Entrevista a Priscila Lobregatte

Ele acrescenta que “as contradições se acumulam e precisamos atualizar o exame dessas contradições”. Com esse o objetivo o PCdoB realiza, nos dias 8 e 9 de abril, o Encontro Nacional sobre Questões Internacionais. “Num ano em que teremos congresso, que a gente atualize o nosso programa e faça um grande enfrentamento ao Bolsonaro por meio de uma frente ampla em defesa da vida e da democracia. De modo que o encontro se soma a esse panorama dos nossos desafios deste ano”.

Contradições no cenário internacional

Com relação a essas contradições em âmbito internacional, Walter salienta que a pandemia as intensificou enormemente, “mas suas origens estão situadas, em primeiro lugar, na profunda crise econômica que o mundo ainda não superou devido à orientação neoliberal senil que predomina, sobretudo, aqui no Brasil. Uma orientação que cria um polo de concentração de riqueza e outro de pobreza, praticamente a maior da história, superando até mesmo a liberalização dos anos 1910, 1920, que, aliás, levou às duas guerras mundiais”.

Conforme lembra, “houve também uma crise da globalização neoliberal imperialista e neste contexto, o papel do imperialismo norte-americano em particular e sua agressividade aumentaram muito porque é um país que vive um declínio relativo na economia e a contestação crescente ao seu papel hegemônico”.

O vice-presidente do PCdoB aponta ainda as contradições resultantes das grandes transformações das forças produtivas. “É uma época de muitos avanços científicos e tecnológicos que passam a se integrar à produção e vão tendo um efeito de poupadores de mão de obra, de modo que você tem uma massa de deserdados no mundo capitalista que nem sequer vai ter o direito de ser explorada por um salário. Então, nosso sistema de análise precisa ser atualizado”.

Walter Sorrentino destaca duas contradições que sempre estiveram presentes, mas que hoje apresentam nova conformação e agudeza. “Uma delas se dá entre as grandes potências e diz respeito à transição de hegemonia, onde a China cresce e se transforma num polo mundial, que disputa com os EUA, em declínio relativo. E isso marca e vai marcar ainda mais a nossa época”.

O dirigente enfatiza que “o Brasil é um dos cinco países que têm maior território, maior população e maior PIB; tem um entorno estratégico formidável que é a América Latina, está no Mercosul, no Brics. O Brasil já mostrou que pode ter um papel altivo e soberano na ordem internacional, com uma política exterior ajustada, como foi no governo Lula. Além disso, é um país vocacionado para a paz, para a solução negociada de conflitos, por ter um caráter multilateralista nas relações internacionais”.

Um novo projeto hoje

Do ponto de vista da luta para que o Brasil tenha um novo projeto nacional de desenvolvimento, Walter Sorrentino diz que para o país trilhar este caminho, como etapa de construção do socialismo, “a ordem internacional é parte direta da formulação estratégica e tática das nossas lutas”. Por isso, aponta, “acho muito oportuno que os quadros políticos da esquerda brasileira de todos os matizes deem bastante atenção a isso. E o PCdoB faz disso um ponto muito elevado da sua formulação”.

Momento dramático

Walter salienta que o encontro se realiza num momento muito dramático e particular da história do Brasil. “Estamos vivendo um governo da infâmia nacional em todos os sentidos”, pontua.

O dirigente lembra que que “não por acaso, o atual governo, além de boicotar o enfrentamento à pandemia, fez um alinhamento nacional notório, uma relação visceral com os EUA de Trump. Felizmente, Trump foi derrotado e nós estamos perseguindo o mesmo objetivo: derrotar, dar um basta ao governo Bolsonaro”.

Ao mesmo tempo, Walter destaca que o encontro ocorre no momento “em que conseguimos, de algum modo, atingir esse núcleo ideológico que estava entranhado no Ministério de Relações Exteriores e que levava o Brasil à desmoralização”. O dirigente salienta que “não é uma completa reversão, mas isso representou uma vitória contra Bolsonaro. A pressão da sociedade — inclusive de setores liberais embora conservadores, como o agronegócio, a indústria, o setor financeiro, a grande mídia — se voltou contra Bolsonaro neste tema em particular. Uma ampla frente de diferentes entre si, mas conseguimos tirar e plantar um novo ministro”.

A melhor contribuição que a gente pode dar na luta pelo desenvolvimento soberano dos povos, para o socialismo, é fazer nosso trabalho aqui. Se fizermos nosso trabalho aqui, vamos dar uma grande contribuição para o mundo”, disse Walter Sorrentino.

 

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