China: Mídia ocidental tendenciosa ignora a importância dos debates das “duas sessões”
A reunião dos órgãos legislativos da China, a Assembleia Popular Nacional (APN) e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), realizada de 4 e 11 de março, deveria ter atraído uma atenção muito mais séria do resto do mundo este ano. Mais de 10.000 propostas sobre uma miríade de questões sociais, políticas e culturais foram colocadas na mesa por membros da APN e da CCPPC.
Por William Jones*
Enquanto o mundo está apenas começando a controlar a pandemia de COVID-19, a China realmente conseguiu superar o vírus, e o fez com uma taxa de crescimento positiva para o ano de 2020. Isso significa que a China pode decolar economicamente enquanto a maior parte do mundo ainda deve primeiro introduzir um regime de controle para evitar a propagação da epidemia.
Para a China, este é um ano particularmente importante, além da vitória sobre o COVID-19. É o ano em que a campanha de redução da pobreza triunfou. É também o início do 14º Plano Quinquenal (2021-25), que determinará os contornos deste país nas próximas décadas. Inclui um programa muito ambicioso para a criação de uma economia orientada para a inovação. E, ao colocar a inovação científica no centro do desenvolvimento da China, o 14º Plano Quinquenal garantirá um crescimento econômico sustentável. Não haverá uma “armadilha de renda média (1)” para a República Popular da China.
E 2021 marca também o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista da China, o instrumento político que elevou o país de uma nação empobrecida e predominantemente agrícola à segunda maior economia do mundo. A China tornou-se o centro da manufatura mundial e, em diversos setores, líder na produção de produtos de alta tecnologia.
Por esse motivo, a retomada do crescimento econômico da China pode impulsionar a economia mundial, que ainda vive os efeitos da pandemia. Uma das principais mensagens das “Duas Sessões” é que a China se abrirá ainda mais ao investimento estrangeiro. Embora esteja colocando mais ênfase na economia doméstica como o verdadeiro motor de crescimento, em grande parte por causa das incertezas geradas pela campanha negativa de propaganda que está sendo travada no Ocidente contra a China, ela não se fechará, mas sim abrirá mais as portas. E, a julgar pelo aumento do investimento estrangeiro direto na China, muitas empresas estrangeiras estão fazendo exatamente isso – para seu grande benefício.
Embora a mídia ocidental tendenciosa retrate as duas sessões como um “show político” ou uma “operação de caixa preta” política, as duas sessões são na verdade muito públicas e muito transparentes e envolvem discussões bastante intensas e, às vezes, acaloradas entre os participantes. Na verdade, grande parte da discussão e deliberação foi iniciada muito antes de os membros chegarem a Pequim para seu “pow-wow (2)” de uma semana. De fato, com a proliferação de novas comunicações nesta era COVID-19, os membros tiveram até muito mais discussões on-line sobre as muitas questões que estarão sobre a mesa durante as sessões.
E enquanto o público em geral só toma nota das coletivas de imprensa formais em que os resultados finais são relatados, há uma infinidade de oportunidades para a imprensa que cobre as sessões entrevistar os membros de maneira eficaz. Mesmo agora, com as restrições do COVID-19, eles podem entrevistá-los com o distanciamento social adequado ou pela internet. Mais de 10.000 propostas sobre uma miríade de questões sociais, políticas e culturais foram colocadas na mesa por membros da APN e da CCPPC.
Todos elas são então divulgadas e discutidas antes de serem tomadas decisões com relação à sua implementação ou rejeição. Longe de ser um “parlamento carimbado”, como alguns meios de comunicação ocidentais consideram, as duas sessões abrangem uma ampla discussão de quase todas as principais questões que afetam a sociedade e as pessoas – e são feitas literalmente por milhares de pessoas.
Aqui estão algumas decisões das duas sessões deste ano. De acordo com o Relatório de Trabalho do Governo, a China deve ter uma taxa de crescimento superior a 6% no próximo ano e criar 11 milhões de empregos urbanos, proporcionando um raio de esperança para os países que ainda precisam reverter a recessão negativa do ano anterior. O sucesso da China na redução da pobreza será seguido por um ambicioso programa de revitalização rural para garantir que a pobreza nunca retorne. Esta será uma lição com grande apelo na África, Ásia e América Latina, onde os países ainda lutam com taxas extremamente altas de pobreza. E a China continuará a exercer seus esforços para fornecer desenvolvimento de alta qualidade com a Iniciativa Um Cinturão e Uma Rota (3), trazendo mais oportunidades de desenvolvimento para o mundo.
E o programa de ciências do novo plano de cinco anos é muito mais ambicioso do que qualquer um já apresentado. Com sua implementação, toda a nação se tornará uma verdadeira “estufa” de inovação, na qual muitos dos problemas que a humanidade agora enfrenta nas áreas de medicina, energia, preservação de alimentos e longevidade podem ser prontamente resolvidos com novas soluções. Isso não será apenas um benefício para a China. Será em benefício de toda a humanidade.
* Analista político de Washington e membro não residente do Chongyang Institute for Financial Studies
1 – “Geralmente usada por economistas neoliberais para justificar privatização e desemprego, a ‘Armadilha da Renda Média’ é, bastante resumidamente, uma construção teórica que defende a tese de que o aumento da renda média de um determinado país têm como consequência a diminuição da competitividade das empresas colocando o país em um cenário de baixo crescimento econômico” (explicação do professor Marcelo Fernandes, Doutor em economia pela UFRJ, NR).
2 – Reunião dos povos nativos da América do Norte (NR).
3 – Também chamada de Nova Rota da Seda (NR).
Fonte: Global Times