Luta dos povos

Colômbia: A ditadura mais sangrenta

Afirma a filósofa argentina Luciana Cadahia, que também é professora na Universidade Javeriana: “Para os amigos latino-americanos que postam sobre a Venezuela, por favor postem com a mesma veemência sobre a Colômbia. Ali está o nó cego e a ditadura mais sangrenta. Caso contrário, torna-se suspeito que nos apeguemos e se torne visível apenas parte do drama latino-americano. Sério, digo sem sarcasmo, vamos começar a mostrar a tragédia colombiana entre todos nós e pedir a ajuda de organizações internacionais se não quisermos repetir o pior dos massacres do uribismo.”

Por Beatriz Vanegas Athías

Aqui na Colômbia, o coral escuta confortavelmente por 13 minutos, diante da televisão acolhedora e fraudulenta, como o presidente Duque define os destinos de milhões de colombianos e condena-os à guerra. O coral parece estar exausto para cantar quem está por trás do ator que oficia como presidente e escreve as falas de seus papéis. A atuação de um roteiro escrito com o sangue de massacres como El Salado, o El Aro, falsos positivos, Barrancabermeja, Tierralta, Chengue, Montes de Maria, Tame, Saravena, Soacha, Ituango, a Operação Orion; a de milhões de mortos vivos nos hospitais; a de centenas de líderes e camponeses que caem baleados ou devido à fumigação indiscriminada do glifosato ou por pertencer aos partidos da oposição; o de campos devastados para que entre o gado, deixando milhões de deslocados para morrer nas cidades e vilas; a de mais de 2.000 mulheres assassinadas até agora este ano porque é o país dos patriarcas que amam o status quo, que escolhem o mais macho das mulheres como seu vice-presidente. Um roteiro escrito por um personagem que se apega ao poder para se proteger de seu registro criminal e cobre um erro (Operação Orion) com outro erro: um projeto que destrói o corpo do rio Cauca para a construção da hidrelétrica de Hidroituango.

A da Colômbia é a tragédia da ditadura mais sangrenta porque foi gestada desde a guerra que respalda uma Carta Constitucional tão vanguardista quanto vilipendiada. É a tragédia da ditadura que começou muito antes de 2002 e hoje foi revitalizada porque um pequeno ator de repente ganhou o papel principal. E se o coro ou os heróis não avisarem, eles o cumprirão à risca. Essa é a nossa tragédia, uma verdadeira ditadura apoiada por leis reescritas pela intimidação e por um coro abafado.

Fonte: El Espectador, tradução da redação do i21

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