Em Guantánamo, seminário internacional emite declaração contra bases militares e pela paz
Decorreu entre 4 e 6 de maio, na província cubana de Guantánamo, o VI Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras, realizado pelo Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos (MovPaz) e outras entidades, em parceria com o Conselho Mundial da Paz (CMP). Noventa pessoas de 35 países participaram. A presidenta do CMP Socorro Gomes e o presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) Antônio Barreto lideraram as delegações das respectivas entidades e deram seus contributos. A diretora do Cebrapaz Maria Ivone de Souza também participou.
Em entrevista à Prensa Latina, Socorro Gomes alertou que o mundo está à beira da guerra, o que preocupa sobremaneira as entidades que integram o CMP. Entre as táticas preocupantes estão a política de acosso e cerco imposta pelo governo Trump aos países da região, com sanções ilegais e unilaterais. Os EUA, por exemplo, apropriam-se dos recursos da Venezuela para financiar um autoproclamado presidente golpista respaldado pelo império para colocar em prática seus planos. Também ameaçam Cuba e tentam condicionar sua política externa em prol dos seus interesses geopolíticos.
Para Socorro, na entrevista e em seu discurso, fatos recentes como o destacamento da Quarta Frota da Marinha estadunidense na região, em conjunto com as medidas citadas, revelam o objetivo do imperialismo, que é o de intimidar e aterrorizar aqueles que se oponham aos seus ditames. Por isso, para impedir a confrontação na América Latina, “é preciso apelar à consciência dos povos, para que detenham essa política irracional e o domínio e saque dos nossos países.” E é assim que, passados 70 anos da sua fundação, o CMP continua vigente: “as causas que o originaram seguem presentes.”
Da mesma forma, Fernando González, presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), disse à televisão cubana que “Tudo o que se fizer pela paz no mundo é importante, há um compromisso da parte de Cuba e de todos os seres humanos conscientes no mundo com a manutenção da paz diante das reais ameaças que existem em diferentes partes do planeta, e bastante próximas de nós, para destruir essa paz”.
Segundo González, citado pela Sputnik, “o evento se realiza no lugar mais indicado do nosso país, aqui em Guantánamo, onde existe uma presença ilegal há mais de 100 anos, de uma base militar norte-americana, contra a vontade do nosso povo e do nosso governo”. Os EUA ocupam parte da província cubana desde 1903, em território onde mantêm uma base naval e um centro de detenção condenado mundialmente pelas violações dos direitos humanos e humanitários em que se sustenta.
Falando no evento, o presidente do Cebrapaz Antônio Barreto condenou a “doutrina neocolonial do imperialismo estadunidense”, com consequências evidentes. “Na América Latina e Caribe, até recentemente contávamos com diversos governos progressistas, que clamavam e desenvolveram ações pela unidade e pela soberania das nações (…), mas muitos governos regionais aliaram-se ao imperialismo e continuam a permitir a construção de mais bases militares nos seus territórios, a exemplo do Paraguai, Argentina e, se depender do presidente do Brasil, também lá,” continuou Barreto, denunciando a concessão da Base de Lançamento de Satélite de Alcântara pelo governo Bolsonaro aos EUA.
Leia a seguir a declaração final do evento.
Declaração Final – Por um mundo de paz, sem bases, instalações e enclaves militares estrangeiros
Sexto Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras – “Um mundo de paz é possível”
Guantánamo, 4, 5 e 6 de maio de 2019
O Sexto Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras realizou-se em Guantánamo, Cuba, entre os dias 4 e 6 de maio de 2019, com a presença de um total de 90 participantes estrangeiros vindos de 35 países, entre os quais estiveram os líderes do Conselho Mundial da Paz (CMP) e suas organizações membro, assim como personalidades, lutadores pela paz, anti-belicistas e amigos solidários de Cuba procedentes de Antígua e Barbuda, Brasil, Botswana, Canadá, Chile, Colômbia, Congo, Dominica, Egito, Estados Unidos, Espanha, Filipinas, França, Grécia, Guiana, Honduras, Irã, Itália, Inglaterra, Ilhas Comores, Jamaica, Japão, Nicarágua, Portugal, Porto Rico, Palestina, Paraguai, Perú, República Árabe Saarauí Democrática, República Dominicana, Rússia, Síria, Tanzânia, Venezuela e Zâmbia.
O Seminário, organizado pelo Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos (MOVPAZ), sob o auspício do Conselho Mundial da Paz (CMP), contou ainda com a decisiva contribuição do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) e a Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina (OSPAAAL), o co-auspício do Centro Martin Luther King Jr. E do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos.
O evento se desenvolveu no contexto de uma cada vez mais complexa situação internacional caracterizada pelo incremento da agressividade e da ingerência de todo o tipo por parte do imperialismo estadunidense, da União Europeia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em seus empenhos por impor seus ditames hegemônicos à custa da liberdade, da independência e da soberania dos povos do mundo.
Na consecução de tais propósitos nefastos, a ampliação, o fortalecimento e a modernização das bases militares estrangeiras e instalações agressivas de similar natureza, constituem um componente fundamental, pois são instrumentos de intervenção direta e indireta nos assuntos internos dos países onde estão encravadas, assim como de ameaça permanente contra as nações próximas.
Os Estados Unidos continuam sendo a nação com maior número de bases em todo o globo, com seus aliados da Otan, contam com o maior arsenal nuclear e a maior quantidade de forças militares convencionais na história da humanidade.
O imperialismo segue instigando guerras e conflitos bélicos de distintas intensidades em diversas partes do mundo, enquanto incremental a controvérsia, as tensões, o bloqueio genocida e a “diplomacia das sanções” contra os países que considera adversários, como a Rússia, a China, Irã, Coreia do Norte e, na América Latina, a República Bolivariana da Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Promove cenários de instabilidade política e social no Oriente Médio, com seu apoio irrestrito a Israel contra a causa do povo palestino, assim como na África, onde se continuam gerando ondas migratórias desproporcionadas e desorganizadas rumo aos países europeus, com um saldo grande de mortos e desaparecidos.
O governo do presidente Trump é a continuidade dos governos anteriores dos Estados Unidos, que recrudesce as posições mais conservadoras e de confrontação na política externa que caracterizam seu atual período de mandato, o que aumenta a possibilidade de maiores e novos conflitos à escala planetária.
A revitalização da Doutrina Monroe como essência da política dos Estados Unidos para a América Latina e o Caribe tem como objetivo principal a recomposição de suas teias de dominação, centrando sua atenção nos governos progressistas, populares e democráticos de Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua e, com isso, desferir um duro golpe contra o processo de integração solidária e soberana, empreendido há 20 anos e que hoje se encontra ameaçado.
Para tal, o império e seus lacaios oligárquicos nacionais e entreguistas desenvolvem uma guerra de quarta geração que combina grosseiramente a guerra e a chantagem econômica, com fortes campanhas midiáticas para desprestigiar os líderes e forças políticas progressistas, com o emprego de notícias falsas (fake news).
Esta realidade que hoje aflora em diferentes nações da região representa uma séria ameaça à paz e à estabilidade política e social à escala regional; por isso, em tais circunstâncias, tem hoje ainda maior vigor a Proclamação da América Latina e o Caribe como Zona de Paz, aprovada pela II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) realizada em Havana, em janeiro de 2014.
Considerando todo o exposto acima, este Sexto Seminário Internacional convoca todas as forças pacifistas e progressistas a multiplicar as ações e iniciativas contra o imperialismo e suas políticas beligerantes e ingerencistas, que seguem colocando em grave perigo os destinos e futuros de toda a humanidade.
Com esta perspectiva, e em consonância com o acordado na Reunião Regional do CMP, os participantes do Seminário ratificam seu apoio mais resoluto à Campanha Global contra as bases militares estrangeiras dos EUA e da Otan e se comprometem a multiplicar ações em apoio ao 23 de fevereiro, data em que os EUA impuseram sua primeira base, em Cuba, declarada Dia Mundial contra as Bases Militares Estrangeiras.
Da mesma forma, lutadores pela paz reunidos em Guantánamo também nos
Comprometemos a:
Redobrar a denúncia contra a agressão e a ingerência econômica, política e militar do imperialismo estadunidense, da União Europeia e da OTAN.
Continuar alertando os povos do mundo sobre os perigos de uma conflagração nuclear global de consequências incalculáveis para a Humanidade, convocando-os a se mobilizar de forma permanente.
Fortalecer a demanda pelo fim das bases, instalações e enclaves militares forâneos e a retirada imediata das tropas estrangeiras de ocupação dos países onde se encontrem destacadas.
Continuar reivindicando que os Estados Unidos devolvam a Cuba e ao seu povo o território ilegalmente ocupado pela Base Naval de Guantánamo e demandar o fim do bloqueio criminoso e genocida em suas formas econômica, comercial e financeira, rechaçando categoricamente a aplicação do título III da Lei Helms-Burton, que pretende asfixiar o heroico povo cubano.
Exigir o fechamento das bases militares dos Estados Unidos no território livre e independente da Síria.
Ampliar muito mais a divulgação do conteúdo da Proclamação da América Latina e o Caribe como Zona de Paz, dada a sua atualidade e vigência no contexto político regional atual.
Fortalecer a luta contra o terrorismo sob quaisquer formas e seguir denunciando o vínculo desse flagelo com o imperialismo.
Reforçar as denúncias das ações contra o meio-ambiente e a saúde das populações nas regiões em que se encontrem encravadas as bases militares estrangeiras.
Continuar expressando a mais ampla solidariedade com os países e povos sob ocupação e domínio colonial no Caribe, na América do Sul, na África e no Oriente Médio, onde haja presença militar estrangeira, como em Porto Rico, nas Ilhas Malvinas, Geórgia e Sandwich do Sul e a Palestina.
Manter e ampliar a denúncia das ações intervencionistas do imperialismo dos Estados Unidos e da União Europeia e a oligarquia contrarrevolucionária na Venezuela, dirigidas a frear e destruir o processo bolivariano, o que representa, aliás, uma clara ameaça à paz na região. Condenar qualquer tentativa de agressão militar contra a Venezuela, nos incorporando em uma ativa campanha para denunciar o criminoso bloqueio contra o país.
Da mesma forma, denunciar as ações imperiais contra a Nicarágua e reforçar a solidariedade com seu povo.
Apoiar a campanha internacional Lula Livre e realizar ações nacionais e internacionais para denunciar a grande injustiça que se comete com seu encarceramento, ressaltando os logros alcançados pelo Brasil durante a sua presidência.
Os participantes do Sexto Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras concordaram em transmitir fraternal saudação e reconhecimento ao povo de Guantánamo e suas autoridades pela cálida acolhida dispensada e as facilidades estendidas para a exitosa conclusão do evento.
Também estenderam sua solidariedade ao povo cubano, que leva adiante seu grande esforço por alcançar uma sociedade socialista mais justa, próspera, democrática e sustentável, rendendo homenagem à memória do indiscutível líder da Revolução Cubana, o Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz.
Guantánamo, Cuba, 6 de maio de 2019.
Fonte: Cebrapaz