Especial Revolução dos Cravos 45 anos: Ofensiva desde a primeira hora
O mês de abril de 2019 marca os 45 anos da insurreição que colocou fim ao regime fascista em Portugal, entrando para a história com o nome de “Revolução dos Cravos”. O i21 está publicando artigos sobre o heroico acontecimento, tendo como fonte o órgão central do Partido Comunista Português (PCP), o Avante!. Os dois primeiros textos foram “Em Portugal houve fascismo” (clique para ler) e “Da resistência à Revolução” (clique para ler).
Ofensiva desde a primeira hora
“O processo contrarrevolucionário viria a demorar mais de 20 anos para realizar os seus objetivos estratégicos fundamentais.” Álvaro Cunhal
Os ataques à Revolução de Abril começaram no próprio dia 25. Agrupadas em torno do general Spínola, as forças reacionárias e conservadoras esforçaram-se desde logo por conter o mais possível o rumo democrático e progressista da Revolução: ao mesmo tempo que tentavam conservar a PIDE e impedir a libertação de todos os presos políticos, o povo e os militares do MFA punham fim à sinistra polícia e devolviam à liberdade quem tanto tinha sacrificado por ela.
Perante o poderoso movimento de massas e os extraordinários avanços que este alcançava, a contrarrevolução – que agrupava, mais ou menos abertamente, setores econômicos e militares e, no plano político, o PS, PSD e CDS – a tudo recorreu para travar a democracia que nascia: golpes militares, sabotagem econômica, terrorismo, ameaça de intervenção externa (a Otan, é bom não esquecer, fez manobras militares intimidatórias ao largo da costa portuguesa em 1975). A Revolução, contudo, avançou e a 2 de abril de 1976 foi aprovada e promulgada a Constituição da República Portuguesa, consagrando as principais conquistas alcançadas pelo movimento operário e popular e o MFA.
Foi o primeiro governo constitucional, liderado por Mário Soares (PS), que iniciou decisivamente a ofensiva contra Abril e suas conquistas, institucionalizando a contrarrevolução. Seguiram-se outros – do PS-CDS, PSD-PS, PSD, PSD-CDS, PS – com objetivos semelhantes: retirar à jovem democracia portuguesa o seu caráter antimonopolista, anti-latifundista e profundamente popular: as nacionalizações, a Reforma Agrária, os direitos dos trabalhadores, as funções sociais do Estado e as mais vibrantes expressões da democracia participativa foram alvos privilegiados da política de direita ao longo destas mais de quatro décadas. Os meios de que a reação se serviu para concretizar os seus propósitos foram das revisões constitucionais à adesão à CEE/UE (Comunidade Econômica Europeia – antecessora da União Europeia, N.R.), da submissão ao FMI a cargas policiais contra trabalhadores em luta.
Décadas de política de direita dirigida contra o que de mais progressista Abril alcançou trouxe o País ao estado em que ele hoje se encontra, que os avanços alcançados nos últimos anos não inverte: dependência econômica, alimentar, energética e produtiva; submissão política; salários e rendimentos baixos; gritantes desigualdades; elevada precariedade; degradação dos serviços públicos. Longe, muito longe, do Portugal democrático que Abril gerou e mostrou ser possível.
O País a andar para trás
– Spínola não queria acabar com a PIDE e pretendia manter alguns presos políticos.
– PS, PSD e CDS estão unidos desde o início contra as conquistas de Abril.
– A deliberada liquidação do aparelho produtivo nacional conduziu à alienação da soberania do País.
– As privatizações resultaram no encerramento ou alienação para o grande capital nacional e estrangeiro de importantes empresas nacionais.
– O fim da Reforma Agrária trouxe de volta aos campos do Alentejo e Ribatejo o desemprego e o abandono.
– Sai do País em juros, lucros e dividendos muito mais do que entra em fundos da EU.
– O Estado português já afundou na banca privada muitos milhares de milhões de euros.
– Entre a entrada na União Europeia e 2014, desapareceram 400 mil explorações agrícolas em Portugal.
– Desde que está no euro a economia portuguesa estagnou.
Fonte: Avante!