Na França, manifestantes vão às ruas por direitos sociais e liberdade
Milhares de manifestantes, incluindo muitos “coletes amarelos”, ocupam as ruas de Paris neste sábado (5), pelos direitos sociais e pela liberdade e contra a Lei de Segurança Global, contestando as violências policiais. O movimento é extensivo a diversas cidades da França, onde são previstos cerca de 90 pontos de manifestação.
Em meio a balões de forças sindicais e à fumaça das bombas de gás, a passeata parisiense avança sob o barulho dos fogos de artifício e ao som da música “Tout le monde déteste la police (Todo mundo odeia polícia)”, de Punk Haine Roll.
Incidentes graves já eclodiram próximo à Place de la République, onde carros foram incendiados ao longo do trajeto da manifestação, registrou um jornalista da AFP. Diversas vitrines, incluindo as de um supermercado, uma imobiliária e um banco, também foram danificadas.
Um forte contingente policial foi acionado, prevendo esses transtornos, como aconteceu no último sábado 28, quando a manifestação foi marcada por confrontos violentos.
À manifestação, inicialmente planejada por sindicatos contra a precariedade das condições de trabalho na França, somaram-se protestos contra a violência policial e a Lei de Segurança Global, que mobiliza os defensores das liberdades há muitas semanas. O artigo 24 da nova lei prevê a proibição da divulgação de imagens de policiais em operação.
Sob um cartaz que clama pela “retirada da Lei de Segurança Global”, o secretário-geral do sindicato CGT, Philippe Martinez, concluiu que as causas das diferentes manifestações, ao final, se convergem: “Não há oposição entre as liberdades públicas e individuais e o fato de lutar contra a precariedade e o desemprego, principalmente agora”, declarou à AFP, denunciando “abusos dos empregadores” e “redução dos planos sociais” agravados pelo período da pandemia.
Dois episódios recentes inflamam ainda mais a polêmica em torno da violência policial e o texto da nova Lei de Segurança Global. Os manifestantes evocam os casos ocorridos no final de novembro, que causaram uma onda de choque na França: o espancamento do produtor musical negro Michel Zecler – em que quatro policiais foram acusados - e a evacuação brutal de um acampamento de migrantes no centro de Paris.
“É anormal que não possamos filmar”
“Há dois anos testemunho a violência, é anormal que não possamos filmar”, disse Nadine à AFP, uma “colete amarelo”, movimento de protesto social nascido no final de 2018, marcado por manifestações regulares por mais de um ano, algumas delas muito violentas.
Acusado de aumentar as medidas “liberticidas”, o presidente francês, Emmanuel Macron, realizou uma entrevista no canal Brut nesta sexta-feira 4, para se dirigir diretamente aos jovens, muito presentes durante as últimas manifestações.
“Não posso deixar que digam que estamos reduzindo as liberdades na França”, declarou o presidente. “É uma grande mentira. Não somos nem a Hungria nem a Turquia”, comparou. O chefe de Estado defendeu o apaziguamento, denunciando tanto a violência de alguns policiais quanto as cometidas contra a polícia.
Fonte: Carta Capital