Luta dos povos

Venezuela: Eleições parlamentares isolam direita golpista

No próximo domingo (6), os venezuelanos irão às urnas para as eleições parlamentares, quando elegerão os 277 deputados da Assembleia Nacional para o quinquênio 2021/2026.

Por Wevergton Brito Lima*

Os deputados eleitos irão assumir suas cadeiras em 5 de janeiro do próximo ano. Os EUA, seguidos pela União Europeia e demais satélites da política externa imperialista, não reconhecem as eleições parlamentares venezuelanas que, no entanto, contam com o respaldo da maioria dos países que integram a Organização das Nações Unidas e da totalidade das 120 nações que conformam o Movimento de Países Não Alinhados.

Uma estranha ditadura

De fato, é preciso um forte malabarismo retórico e uma disposição para distorcer a realidade alcunhar de “pouco democrático” um processo eleitoral no qual participarão 107 partidos, sendo 30 organizações nacionais, 53 regionais, 06 organizações indígenas nacionais e 18 organizações indígenas regionais. Estranha ditadura essa em que, destes 107 partidos, cerca de 90 são de oposição, que contam em seu favor com uma mídia comercial cuja maioria faz cerrada campanha contra o governo.

Um sistema seguro contra a fraude reconhecido até pela oposição

Segundo informações do jornal Brasil de Fato uma missão de verificação do Conselho de Especialistas da América Latina (Ceela) confirmou a eficiência do sistema eleitoral venezuelano. No dia 12 de novembro, o organismo e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) assinaram um acordo. Desde então, ex-funcionários e magistrados do poder eleitoral de distintos países latino-americanos estão em Caracas acompanhando cada etapa do calendário eleitoral venezuelano. Gaston Soto Vallenas é ex-diretor do Jurado Nacional Eleitoral do Peru e destaca que o trabalho que realizam no território venezuelano é “eminentemente técnico” e lembra que nos últimos 15 anos o Ceela acompanhou processos eleitorais em 120 países da América Latina e do mundo. “Não há a menor dúvida de que o voto não será manipulado pelas máquinas que estão sendo adotadas. Também há uma disposição do poder eleitoral em garantir a presença dos distintos atores políticos nesse processo eleitoral”, explicou Soto. Isso é reconhecido até pela oposição. De acordo com o site Prensa Latina, um dos líderes do partido oposicionista “Soluções para a Venezuela”, Claudio Fermín, candidato a uma cadeira na Assembleia Nacional, reconheceu nesta terça-feira (1°) que as eleições parlamentares têm todas as garantias para que os cidadãos possam exercer o direito de voto. “Nós, venezuelanos, temos que chegar a um entendimento (…) Vale a pena sentar-se para legislar, e isso significa responder às necessidades do povo”, destacou o líder oposicionista, lembrando que foram realizadas diversas reuniões com integrantes das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, responsáveis pelo Plano da República, os reitores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e os partidos políticos, nas quais foram discutidos diversos impasses que foram superados por consenso.

O “X” da questão

Em 2015, quando os resultados divulgados pelo CNE apontavam para uma contundente vitória oposicionista nas eleições da AN, Nicolás Maduro fez imediatamente um pronunciamento reconhecendo a derrota do governo e colocando-se à disposição para “trabalhar em conjunto com a Assembleia Nacional” em favor do povo venezuelano. Como resposta, os líderes da oposição diziam que o “governo Maduro acabou” e em seu primeiro discurso como presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup prometeu derrubar o governo legitimamente eleito da Venezuela em seis meses. Promessa que a maioria direitista da Assembleia Nacional perseguiu incansavelmente, inclusive usurpando poderes, visando mergulhar o país no caos de uma crise política e institucional que justificasse a intervenção estadunidense.

Em 5 de janeiro de 2019 Juan Guaidó assume a presidência da AN e poucos dias depois se autoproclama “presidente interino”. É este setor, abertamente golpista e cada vez mais ridicularizado e isolado, que está boicotando as eleições com as bênçãos de seus amos imperialistas.

A imensa maioria da oposição participa e desafiou o presidente Nicolás Maduro a renunciar, caso vença as eleições. Nesta terça-feira (1°), Maduro declarou que “se a oposição ganhar as eleições, eu não continuarei aqui. Deixo meu destino nas mãos do povo da Venezuela”, sem esclarecer, no entanto, como sairia, se renunciaria, se convocaria eleições antecipadas, etc.

O “X” da questão é que o governo bolivariano já mostrou que sabe se defender em diversos campos de luta. Venceu a imensa maioria das disputas eleitorais, tem um forte trabalho de base, reformou e aproximou do povo as Forças Armadas, cujo comando tem sólidos compromissos com a defesa da soberania, e se existe uma mídia comercial oposicionista, também existem canais públicos de comunicação e uma extensa rede de mídia comunitária que faz o contraponto.

O critério do que é ou não é democracia

Nesta quarta-feira (2) uma grande marcha em apoio às candidaturas defensoras da Revolução Bolivariana ocupou as ruas de Caracas. Depois de derrotar provocações de todo o tipo, resistir a sanções, bloqueios e mesmo a tentativas de invasões armadas, todas as pesquisas apontam para a vitória do governo nas eleições de domingo, e este é o critério número um da direita para definir o que é democracia: só existe democracia se a maioria do povo escolhe para o governo os que não têm qualquer compromisso com o próprio povo. Se o povo ousar escolher diferente, não importa de que forma, mesmo as mais “democráticas” segundo os próprios métodos apregoados pela direita, uma torrente de calúnias, sabotagens e agressões irá, mais cedo ou mais tarde, desabar sobre as cabeças de quem busca caminhos alternativos para um desenvolvimento soberano. No Brasil, aliás, sabemos bem o que é isso.

As eleições deste domingo serão acompanhadas por observadores ligados aos mais diversos organismos internacionais e partidos políticos, entre eles o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que estará representado pela camarada Beatriz Araújo Lopes Durval (Bia Lopes).

* Jornalista, editor do i21

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