Notas internacionais (por Ana Prestes) 02/09/19
– Com sua cirurgia marcada para o próximo dia 8 de setembro, a ver se Bolsonaro estará recuperado a tempo de fazer o tradicional discurso de abertura da AGNU (Assembleia Geral da ONU) no próximo dia 24 de setembro. Inclusive, segundo o presidente a jornalistas no sábado (31), o nome de Eduardo Bolsonaro para Embaixador nos EUA só será apresentado ao Senado após o discurso presidencial na ONU, pois Bolsonaro não quer ir “para os EUA com uma derrota”, que ele considera possível.
– Por falar em Eduardo Bolsonaro e EUA, ele e Ernesto Araújo estiveram “de visita” à Casa Branca na sexta, 30. Em uma viagem sem pé nem cabeça montada para demonstrar algum tipo de reconhecimento do governo brasileiro e do próprio Eduardo em Washington. O encontro, praticamente informal, não chegou a constar nas agendas oficiais das autoridades como o próprio Trump e o Secretário de Estado Mike Pompeo. Os brasileiros voltaram sem nada nas mãos, nem mesmo uma foto posada ao lado de Trump. Nos dias posteriores à reunião, a Casa Branca divulgou fotos de uma reunião em que aparece Trump, no que parece ser sua escrivaninha presidencial e os demais presentes mal acomodados em torno da mesma. Segundo a comitiva, Trump se demonstrou bem disposto a defender o Brasil na questão ambiental e da Amazônia, assim como estreitar laços comerciais.
– Acontece ao longo de toda esta semana, em Montevidéu, no Uruguai, a 31ª Reunião da Comissão Florestal para a América Latina e o Caribe (Coflac). Trata-se de um evento bienal de uma das comissões da ONU para a FAO (Alimentação e Agricultura) e aborda “assuntos florestais de interesse regional” dos países participantes. O Brasil estará representado por Valdir Colatto, diretor-geral do SFB (Serviço Florestal Brasileiro), vinculado ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O encontro aborda o uso das florestas e como isso afeta diretamente na soberania alimentar do planeta. O evento é também parte da preparação para a COP 25 (Conferência Mundial do Clima) que ocorrerá em dezembro no Chile. O Brasil seria a sede do evento até a chegada de Bolsonaro que declinou de sediá-lo.
– O Reino Unido estará no foco mundial esta semana. Os parlamentares voltam das férias de verão e terão uma semana de atividade antes que inicie o recesso do parlamento imposto por Johnson em acordo com a coroa britânica e que levou milhares às ruas no final de semana. O recesso irá de 9 de setembro a 14 de outubro. Véspera do Brexit marcado para o dia 31 de outubro. A manobra antidemocrática visa tirar tempo hábil dos parlamentares para aprovar leis que impeçam o chamado “Brexit duro” (sem acordo). O líder da oposição, Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista disse que já amanha (3) os parlamentares da oposição vão agir para aprovar leis que bloqueiam o Brexit sem acordo. Não está descartada também a hipótese de que uma moção de desconfiança contra B. Johson seja apresentada esta semana. A via jurídica também não está descartada.
– O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier realizou evento ontem (1) em Wielun no qual pediu perdão às vítimas polonesas da agressão alemã de 1939. Nas palavras do presidente “Me inclino diante das vítimas do ataque de Wielun. Inclino-me diante das vítimas polonesas da tirania alemã. E peço perdão”. O evento serviu para dar uma alfinetada na extrema-direita alemã no mesmo dia em que saíram os resultados das eleições estaduais apontando seu crescimento no país. Na Saxônia e em Brandenburgo, por exemplo, territórios que já foram parte da RDA (República Democrática Alemã) antes da queda do muro o partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) duplicou seus resultados em relação às eleições de 2014. Quem surpreendeu por um resultado menor do que o esperado foram os Verdes que ficaram com cerca de 9% do votos. O partido comunista Die Linke perdeu oito pontos em relação a 2014. CDU continuou como o mais votado na Saxonia e o SPD em Brandemburgo.
– Na Polônia também houve um evento em Varsóvia pelos 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial. O presidente polonês Andrzej Duda aproveitou a presença de líderes de 40 países, Merkel e Pence entre eles, para alfinetar a Rússia ao dizer que “vemos, também na Europa, o retorno das tendências imperialistas, tentativas de modificar fronteiras à força e ataques contra os Estados”, referindo-se à anexação da Criméia.
– Moradores da costa dos estados da Flórida, Geórgia e Carolina do Sul estão deixando suas casas após o Furacão Dorian já ter passado pelas Bahamas e estar se aproximando. Segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA, o Dorian passará “perigosamente perto” da costa sudeste do país entre a noite de hoje (2) e a madrugada de amanhã (3).
– Segundo o chanceler boliviano, Diego Pary, o presidente Evo Morales vai propor à próxima COP 25, conferencia mundial do clima, a ser realizada no Chile em dezembro, um trabalho conjunto multilateral para o cuidado dos direitos da Madre Tierra (mãe Terra).
– A Arábia Saudita voltou a atacar o Iêmen e pelo menos 100 pessoas morreram esta noite dentro de um edifício que estava sendo usado como presídio controlado pelos Houthis em um bombardeio em Dhamar. Os encarcerados seriam dissidentes dos Houthis. Sauditas alegaram que o local abrigava drones e mísseis, algo que os rebeldes Houthis rechaçam. A guerra do Iêmen já entrou em seu quinto ano e é considerada pela ONU a maior crise humanitária em curso no mundo. No conflito, a Arábia Saudita conta com o apoio dos EUA e os rebeldes Houthis com o apoio do Irã.
– Segue em alta temperatura a tensão entre Israel e o Hezbollah no Líbano. Um comandante israelense morreu em um ataque realizado pelo Hezbollah a dois veículos do exercito de Israel na fronteira norte dos territórios ocupados da Palestina. Enquanto isso, tropas israelenses bombardearam Marun al-Ras na fronteira sul do Líbano.
– Bashar al-Assad, presidente da Síria, em aliança com os russos, comanda neste momento ofensiva terrestre em Idlib, região considerada como um dos últimos redutos dos jihadistas no país.
– Mais um líder das antigas FARC, Jesús Santrich, anunciou o começo da “Segunda Marquetalia” apoiando-se “no direito universal que assiste todos os povos do mundo a levantar-se em armas contra a opressão”. Marquetalia faz referencia ao lugar onde em 1964 Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas deram início à luta armada e fundaram as FARC. Santrich, assim como fez Iván Marquez em 29 de agosto, acusam o governo colombiano de Ivan Duque de trair o Acordo de Paz de Havana assinado com o então presidente Juan Manuel Santos. Partidos da esquerda colombiana, como o Partido Comunista e a União Patriótica, emitiram declaração que este retorno à luta armada, anunciada por dirigentes das já extintas FARC (se extinguiram no processo de paz e fundaram um partido com o mesmo nome), representará graves consequências para a implantação do acordo de paz. A declaração faz um chamado para o não desfalecimento da luta pela conquista da paz com justiça social.
– Aconteceu entre os dias 27 e 31 de agosto o Foro Patriótico do Haiti como um esforço para unificar organizações e partidos políticos na luta contra a miséira, a fome, a insegurança, o desemprego, a corrupção e a criminalidade. Foi decidido continuar a mobilização para forçar a saída de Jovenel Moise da presidencia, estabelecer um governo de transição por três anos, processar os responsáveis pelo desfalque ao fundo Petrocaribe, retomar o direito à autodeterminação e mais pontos em uma ampla plataforma.
– Na Venezuela, foi retomado o diálogo com a Noruega para prosseguirem as conversações entre governo e oposição.
– Faleceu o sociólogo Immanuel Wallerstein aos 89 anos. Estadunidense, crítico do capitalismo e autor de “O sistema mundial moderno” foi criador da teoria do sistema-mundo.
– Um novo ataque a tiros no Texas, EUA, no sábado (31) deixou 7 mortos e mais de 20 feridos.
– Manifestantes voltaram a ocupar o aeroporto de Hong Kong neste domingo (1).
Ana Maria Prestes
A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, é membro do Comitê Central e da Comissão de Política e Relações Internacionais.