Notas internacionais (por Ana Prestes) 17/01/19
– O governo Bolsonaro virou mesmo abrigo da oposição venezuelana. Estão no Brasil, Antonio Ledezma, que é ex-prefeito de Caracas, Julio Borges, ex-presidente da Assembleia Nacional venezuelana e Carlos Vecchio, representante do partido Voluntad Popular. Chegará ainda Miguel Ángel Martín, do Tribunal Supremo de Justiça. Vão se encontrar com o chanceler Ernesto Araújo para delinear um golpe contra Maduro. Se viessem conversar com partidos congêneres e tramar suas conspirações seria uma coisa, mas receber guarida e apoio nos palácios do governo brasileiro é realmente espantoso.
– O governo russo, através do seu chanceler Sergei Lavrov, disse ser alarmante o fato dos EUA não reconhecerem a posse de Maduro e a interinidade de Juan Guaidó. Ainda segundo o diplomata, os EUA continuam com sua linha orientada a impor suas políticas à comunidade internacional e atentar contra Governos que não comungam com elas.
– A Venezuela também foi assunto do encontro bilateral entre Maurício Macri, presidente da Argentina, e Bolsonaro ontem (16). A partir de uma política conjunta dos dois países pode sair um “reconhecimento oficial” de um “presidente encarregado” na Venezuela. Deve ser Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional e que já se arvorou presidente interino.
– Macri e Bolsonaro também falaram de Mercosul, mas os pronunciamentos não revelaram muito o que se avançou sobre o tema. Ambos foram críticos em seus pronunciamentos, Bolsonaro disse que é preciso um Mercosul enxuto e que tenha relevância, Macri criticou o bloco em sua origem e disse que “protegíamos o crescimento, mas isso não funcional. Aconteceu o contrário: nossos países ficaram atrasados”. Ambos concordaram, no entanto, em flexibilizar as regras do Mercosul que proíbem seus integrantes a negociar acordos bilaterais de livre comercio. Sobre o acordo Mercosul/UE, Bolsonaro ainda quer revisar os passos dados por Temer nas negociações e Macri defende o fechamento do acordo.
– Seguindo o exemplo dos EUA, países da União Europeia também vão impor barreiras tarifárias ao aço brasileiro. O Brasil exporta cerca de 15 milhões de toneladas de aço por ano, sendo que 18% vão para a UE.
– Pela primeira vez em três décadas, uma greve de professores em Los Angeles, nos EUA, mobilizou cerca de 30 mil profissionais e parou o segundo maior sistema escolar dos EUA esta semana. A greve foi puxada pelo United Teachers de Los Angeles (UTLA) e é fruto do fracasso de 20 meses de negociação com o governo distrital de LA. A greve é também pelo rebaixamento geral dos recursos destinados à educação, em 29 estados norte-americanos há menos investimento em educação do que havia há 10 anos. O movimento faz parte de contexto privatista da educação pública na Califórnia, em que grandes investidores dirigem as chamadas “Escolas Charter”, que são escolas públicas administradas por organismos privados. Personalidades como Bill Gates, da Microsoft, Michael Bloomberg, ex-prefeito de NY e Reed Hastings, chefe-executivo da Netflix, aparecem entre os que apostam nas escolas charter.
– Theresa May sobreviveu à “moção de desconfiança” apresentada contra ela pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, após a rejeição ao seu acordo do Brexit, construído com a UE. Ela tem até segunda-feira para apresentar um plano de saída do imbróglio em que se transformou o Brexit.
– Um movimento iniciado nos EUA tentará influenciar o voto dos cidadãos cubanos no referendo de aprovação da nova Constituição do país em 24 de fevereiro próximo. A campanha “YoVotoNo será impulsada pela internet e sinais de rádio e tentará atingir os cubanos. Segundo apuração de órgãos de imprensa cubana, a estratégia utilizada será a propagação de fakenews, através da criação de contas falsas no facebook, twitter e outros, para dar a impressão de volume e gerar um ambiente contrário à proposta da constituição nas redes sociais.
– Segue a tensão entre curdos e turcos no norte da Síria, na fronteira com a Turquia.
– Uma jornalista de descendência iraniana, mas nascida nos EUA, que já produziu diversas reportagens sobre a discriminação de mulheres, muçulmanos e afro-americanos nos EUA foi presa ontem em solo norte-americano. Ela se chama Marziyeh Hashemi e trabalha na emissora iraniana Press TV. Não existe nenhuma acusação formal contra ela no país.
– O tradicional “Discurso do Estado da União” proferido pelo presidente dos EUA todos os anos em uma sessão conjunta do Congresso Nacional pode ser adiado este ano. No discurso, habitualmente o presidente de turno esclarece parlamentares, militares, membros da Suprema Corte e do próprio governo sobre a atual situação do país e os planos para o ano que inicia. A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, enviou carta a Trump pedindo que adie o pronunciamento devido à paralisação parcial do governo que perdura há 26 dias. A paralisação é fruto do impasse entre Trump e o parlamento para a liberação de recursos destinados à construção de um muro na fronteira com o México.
– Neste momento há uma terceira caravana de centro-americanos migrantes rumo aos EUA avançando para a capital da Guatemala e uma quarta que acabou de sair de Honduras.
– Tsipiras segue sendo o primeiro-ministro grego. Ele mesmo havia solicitado a votação de uma moção de desconfiança após o rompimento da coalização governista com setores nacionalistas. O rompimento foi fruto da diferença sobre um acordo com a Macedônia em que esta passa a se chamar Macedônia do Norte. A Grécia possui uma província denominada Macedônia e há 27 anos não se chega a um acordo sobre o tema. Na Grécia, movimentos nacionalistas não concordam que outro país atribua a si a nomenclatura Macedônia que remete a dois grande reis da antiguidade, Filipe II e seu filho, Alexandre, o Grande.
– A França se prepara para a 10ª semana de protestos dos coletes amarelos. Eles saem às ruas sempre aos sábados.
– O governo do México se ofereceu para mediar as crises da Nicarágua e da Venezuela. Segundo o subsecretário de relações exteriores do México, Maximiliano Reyes Zúñiga: “a diplomacia mexicana terá um papel decisivo na América Latina e no Caribe. O México deve ser um líder na região, e estamos dispostos a assumir esta responsabilidade. É o momento em que o México volta a olhar para o Sul”.
Ana Maria Prestes
A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, é membro do Comitê Central e da Comissão de Política e Relações Internacionais.