74º aniversário da proclamação da Independência do Vietnã
Em 2 de setembro de 2019, comemora-se o 74º aniversário da proclamação da Independência da República Democrática do Vietnã (como foi chamada naquela data), ocorrida em 1945, e os 44 anos do final da Guerra do Vietnã, em 1975.
Por Walter Sorrentino*
A guerra e a revolução vietnamita representam um dos mais significativos processos históricos do século XX, pois se tratou de uma luta anticolonial a partir de um paciente trabalho de mobilização popular para a sucessiva resistência ao fascismo de Vichy (o dirigente do governo da França, na época), ao militarismo japonês, à potência colonial francesa, à superpotência neocolonial norte-americana e à construção do socialismo no país unificado.
Diante da crise internacional criada em função dos desgastes dos aliados na luta contra o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, as condições políticas e militares das jornadas pela libertação nacional nas colônias – e especialmente na península Indochinesa – abriram caminho para os levantes revolucionários de agosto de 1945, no Vietnã, em que foram vitoriosos os comandados pelos líderes do movimento denominado Viet Minh.
Ho Chi Minh, o principal dirigente do movimento, proclamou naquele mês de setembro, na praça Ba Dinh, no centro de Hanói: “Já faz mais de oitenta anos que os colonialistas franceses, sob as três cores que simbolizam, não obstante, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, apoderaram-se ilegitimamente de nosso país e oprimiram o nosso povo…Os franceses não nos deram nenhuma liberdade política, instituíram uma legislação bárbara, criaram mais cárceres que escolas, afogaram em sangue as nossas revoltas, amordaçaram a opinião pública e utilizaram o ópio e o álcool para embrutecer nossa raça…No terreno econômico, despojaram-nos até os ossos, apoderaram-se de nossos arrozais, de nossas terras, de nossos bosques e de nossas minas…Esgotaram-nos com impostos absurdos…Impediram que os nossos capitalistas se enriquecessem e exploraram nossos funcionários de maneira desumana”.
Apesar do tom violentamente anticolonial desse discurso, a maior preocupação de Ho Chi Minh, depois de proclamada a independência, será estabelecer relações amistosas com a França, pois Ho declarou logo em seguida que “não estimulamos ódio algum contra a França e o povo francês. Não devemos dar aos outros a ocasião de que nos digam o que devemos fazer. Queremos e devemos nos desenvolver sozinhos. Mas quero que saibam bem: estamos decididos a lutar até o fim, se a luta nos for imposta”.
Ho Chi Minh travou substancial debate sobre a necessidade de formação de Frentes políticas e sociais amplas nas colônias, que englobassem todos os setores e classes que se colocavam contra o colonialismo, isolando apenas as elites que haviam sido cooptadas pelas forças coloniais e que lhes davam suporte.
O tio Ho compreendeu que a revolução da independência só poderia ser liderada pelo povo, tendo por direção um Partido Comunista, capaz de unir as forças patrióticas e unir o povo. Defendia que depois de conquistada a independência se deveria tratar da organização e reconstrução nacional para o estabelecimento de regimes políticos condizentes com a relação de forças criada na luta pela independência. De acordo com sua concepção, a maior parte das forças vitais do capitalismo internacional provinha das colônias, nas quais esse sistema explorava matérias-primas para suas fábricas instaladas nas metrópoles, a partir de onde vendiam produtos industrializados e recrutavam a força de trabalho.
A capacidade de se movimentar politicamente diante de novos desenvolvimentos da luta pela libertação da pátria deu aos vietnamitas as condições de suas vitórias diante dos mais complexos problemas geopolíticos que se apresentaram desde sua libertação do jugo francês. Essa fortaleza de pensamento e prática, com a união do povo, levou o valente povo vietnamita a uma histórica vitória – uma das mais retumbantes do século 20 – contra a agressão norte-americana que dividiu o país. Na memória de toda uma geração de lutadores e lutadoras que se voltaram à luta pelo socialismo, está marcada a imagem da então Saigon sitiada pelos vietcongues e os americanos escapando da embaixada dos EUA como ratos de um navio.
O pensamento de Ho Chi Minh foi o guia que contribuiu decisivamente para essa trajetória. Esse rumo foi fruto de uma combinação entre a tradição cultural do Vietnã e a quintessência da cultura ocidental baseada no marxismo-leninismo, e sua visão de mundo. Foi também fundada no realismo e no princípio da unidade entre teoria e prática. Ho Chi Minh foi um estrategista sempre preocupado em visualizar o grande horizonte, elaborando uma análise que abarcava os aspectos políticos, econômicos, culturais e sociais da sociedade vietnamita, do presente e do futuro, das suas dimensões tradicionais e modernas do desenvolvimento.
Em síntese, Ho Chi Minh contribuiu com seu pensamento para a elaboração de uma teoria adaptada às condições asiáticas e particularmente vietnamitas da Questão Colonial e sobre a Revolução de Libertação Nacional. Para isso foi importante sua concepção de como deveriam ser as relações entre a luta da classe operária nas metrópoles coloniais e a luta dos camponeses em união com a incipiente classe operária das colônias na Ásia. Foi igualmente decisiva a sua abordagem de como poderia ser o dinamismo da Revolução anticolonialista, o trânsito ao socialismo no Vietnã, e as possibilidades dessa Revolução ser desencadeada antes da Revolução nas Metrópoles, o que se verificou naquela realidade concreta.
Por isso devemos considerar como contribuições respeitáveis as teorias desenvolvidas por Ho Chi Minh sobre as relações dialéticas entre a Revolução Nacional e a luta de classes nas colônias, entre a Independência Nacional e a Construção do Socialismo, entre as Frentes Amplas patrióticas e democráticas e a estratégia revolucionária, não como um modelo importado das outras experiências socialistas no Mundo, mas como elaborações próprias dos vietnamitas, vinculando o patriotismo com o internacionalismo. Estas concepções surgiram da necessidade de construção política e econômica de um país semifeudal e colonizado, com uma indústria subdesenvolvida e uma classe operária reduzida.
É com esse exemplo de dedicação e visão dialética que hoje a República Socialista do Vietnã constrói um país soberano, próspero e solidário, com um crescimento econômico significativo mesmo se levando em conta a crise atual do capitalismo mundial.
Viva os 74 anos da proclamação da Independência Nacional Vietnamita!
Longa vida ao valente povo vietnamita na luta da construção socialista!
* Vice-presidente Nacional e Secretário de Política e de Relações Internacionais do PCdoB