Solidariedade

Varsóvia, novembro de 1950 – nasce o Conselho Mundial da Paz

A construção de um movimento de caráter mundial para defender a paz, o desarmamento, a igualdade entre Estados e o direito dos povos ao desenvolvimento soberano teve no Segundo Congresso Mundial da Paz, realizado em Varsóvia entre 16 e 22 de novembro de 1950, um momento culminante. A criação do Conselho Mundial da Paz (1), aí consumada, dotou o movimento de uma estrutura permanente, geográfica e ideologicamente ampla e sustentada em organizações nacionais que, ao longo dos anos, revelaram uma notável capacidade de mobilização e convergência.

Por Gustavo Carneiro*

Socorro Gomes, atual presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP)

À capital polaca confluíram dois mil delegados, provenientes de oitenta países: conceituados intelectuais, trabalhadores, sindicalistas, governantes, deputados e ex-deputados, militares, religiosos de diversas confissões; comunistas, socialistas, democratas de várias tendências, homens e mulheres sem partido.

O Congresso esteve convocado para Sheffield – há até um cartaz com essa indicação, produzido por Pablo Picasso –, mas as autoridades britânicas proibiram a entrada à maioria dos participantes, incluindo ao próprio Frédéric Joliot-Curie (principal dirigente do movimento, galardoado em 1935 com o Prémio Nobel de Química), o que por si só revela a tensão internacional que então se vivia em pleno auge da chamada Guerra Fria.

De fato, o próprio movimento da paz começa a ganhar forma anos antes, como resposta – que se queria unificada, global – à ofensiva com que o imperialismo procurava travar a impetuosa avalanche libertadora resultante da vitória sobre o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, que levou à conquista e generalização de liberdades e direitos (inéditos para a maioria) e, em breve, ao desmembramento dos impérios coloniais.

Antes de Varsóvia, o movimento da paz tinha-se já reunido em Wroclaw, no Congresso Mundial dos Intelectuais pela Paz (agosto de 1948) e, simultaneamente em Paris e em Praga, no Primeiro Congresso Mundial dos Partidários da Paz (abril de 1949). Pelo meio são constituídas diversas organizações nacionais para a defesa da paz (incluindo em Portugal) e lançado o Apelo de Estocolmo, pela proibição das armas nucleares, que recolheu milhões de assinaturas.

Tensão e resposta

No Brasil, a entidade que representa o CMP é o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), presidido por Jamil Murad (centro)

Os documentos aprovados no Segundo Congresso Mundial da Paz revelam as principais ameaças à paz que marcavam aquele tenso período da história contemporânea. No Manifesto, os delegados exigiam a imediata cessação da agressão militar à Coreia e expressavam a veemente oposição aos que procuravam «semear novamente as sementes de guerra na Alemanha e no Japão». «Juntamente com os 500 milhões de homens e mulheres que subscreveram o Apelo de Estocolmo, exigimos a abolição das armas nucleares, o desarmamento geral e controlado», lia-se ainda no Manifesto. Outros documentos acrescentavam esta exigência às armas químicas e biológicas.

Na Mensagem às Nações Unidas, o Congresso exige o fim imediato da agressão à Coreia e das tropas estrangeiras aí estacionadas, a retirada norte-americana da Ilha de Formosa, a cessação das hostilidades contra o Vietnã e a redução drástica dos gastos militares.

Todas estas causas, e muitas outras, motivaram campanhas e ações de luta, unindo milhões em todo o mundo: o imperialismo foi, muitas vezes, obrigado a recuar ou a refrear os seus ímpetos mais agressivos. Fica o exemplo para os exigentes combates que temos pela frente – em defesa da paz, do progresso e da soberania os povos.

* Jornalista, membro do Comitê Central do Partido Comunista Português (PCP)

1 – O Conselho Mundial da Paz, emanado deste II Congresso, presidido pelo consagrado cientista francês Frédéric Joliot-Curie, incluía personalidades como o pintor Pablo Picasso, os escritores Louis Aragon, Pablo Neruda, Jorge Amado, Howard Fast, Alexander Fadeev e Ilya Ehrenburg; o cantor Paul Robeson; o futuro presidente da Guiné Conakri, Sekou Touré; o ex-presidente do México, Lázaro Cardenas; a viúva do líder da revolução chinesa de 1911 e proeminente figura no seu país, Sr.ª Sun Yat-Sen; o secretário-geral da CGT francesa; o físico português Manuel Valadares. Cf. World Peace Council, Second Congress of the Defenders of Peace, Warsaw 16-22 November 1950, Acts and Resolutions of the Congress, The World Peace Council elected by the Congress.

Fonte: Avante!

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