Súmula Internacional 21 – Iêmen: Exemplo de que, no tabuleiro internacional, o jogo é pesado
Mahadi al-Mashat, chefe do Conselho Político Supremo do Iêmen, liderado pelos hutis, afirmou que os EUA estão tentando atrapalhar as negociações de paz em curso entre hutis e Arábia Saudita visando pôr termo à guerra no Iêmen, que dura já há nove anos. Al-Mashat aconselhou as autoridades sauditas a acautelar-se com as intenções norte-americanas. O Irã é um dos envolvidos na questão, indiretamente, pois apoia os hutis, que são de orientação zaidista, uma variante xiita do islamismo. Assim, a paz no Iêmen, caso se concretize em bons termos, seria mais um passo para fortalecer a recente retomada de relações diplomáticas entre sauditas e iranianos.
Alguns movimentos no tabuleiro
O lançamento, em fevereiro de 2022, do documento sino-russo propondo ao mundo novas relações internacionais; o início da Operação Especial Militar da Rússia na Ucrânia, também em fevereiro de 2022; o anúncio feito pela Arábia Saudita em março de 2022 de que está estudando abrir mão do dólar nas vendas de petróleo para a China e em janeiro de 2023 de que pode estender esta medida a outros países; o restabelecimento das relações entre Arábia Saudita e Irã, mediado pela China; a recente decisão da Arábia Saudita, tomada em comum acordo com a Rússia, de reduzir a produção de petróleo; a possibilidade de paz no Iêmen; o início da distensão entre Turquia e Síria em ligação direta com Irã e Rússia (os chefes de inteligência da Turquia, Rússia, Irã e Síria se reuniram na última terça-feira, 25, em Moscou); esses são alguns movimentos de peças no tabuleiro internacional que podem colocar em xeque a hegemonia estadunidense. Os EUA, é claro, estão atentos.
O jogo pesado e o sangue inocente
O Iêmen é o país mais pobre da Ásia, mas tem importância estratégica. É pelo estreito de Bab al-Mandab que passa quase 40% de todo o comércio marítimo mundial, incluindo 30% de petróleo transportado por via marítima. Em artigo escrito em 2021, o professor António Gonçalves Alexandre, pesquisador do Centro de Investigação e Desenvolvimento do Instituto Universitário Militar de Portugal, constatava que estavam em curso, no Iêmen, disputas geopolíticas “particularmente entre os EUA e as potências emergentes, China e Rússia, que estão a posicionar-se”. O enviado especial da administração Biden para o Iêmen, Tim Lenderking, e o chefe da CIA, William Burns, visitaram Riad há duas semanas. Desde então, os progressos, que vinham se acelerando na busca pela paz no Iêmen, estão mais lentos. Segundo a Unicef, desde o início da guerra até setembro de 2022 mais de 11 mil crianças foram mortas ou mutiladas no conflito, mas este número macabro, segundo a própria Unicef, é subestimado: “são números que as Nações Unidas puderam verificar. Os números reais provavelmente serão muito maiores”. Como a guerra do Iêmen é movida pelos interesses dos “mocinhos”, ninguém coloca a bandeirinha iemenita no seu perfil das redes sociais em solidariedade às crianças do Iêmen que deram o azar de nascer sem o biotipo anglo-saxão, não merecendo, portanto, a piedade ocidental. O jogo do imperialismo é pesado e o cacife é pago com grande quantidade de sangue inocente e “humanismo” seletivo.
Paraguai elege novo presidente no domingo
O Paraguai realizará eleições gerais no domingo, 30 de abril, conforme já abordamos nesta Súmula. Algumas informações importantes: os resultados oficiais preliminares do tribunal eleitoral são esperados a partir das 19h, hora local, 20h, horário de Brasília; mais de 4,7 milhões de pessoas estão aptas a votar, incluindo 41.505 eleitores fora do país em 17 países como Estados Unidos, Espanha, Argentina e Brasil; serão renovados os cargos de presidente e vice-presidente, além de 45 senadores, 80 deputados, 17 governadores e 257 conselheiros (vereadores) de governos regionais para os próximos cinco anos; o candidato que obtiver o maior número de votos assumirá a presidência no dia 15 de agosto, já que o Paraguai não contempla a instância de segundo turno; os candidatos que lideram as pesquisas são Santiago Peña, um economista de 44 anos que representa o conservador Partido Colorado, e Efraín Alegre, um advogado de 60 anos que lidera a coalizão de oposição de centro, Concertação Nacional; a maior força de esquerda do Paraguai, a Frente Guasu, do ex-presidente Fernando Lugo, faz parte da coalizão de Efraín; corre por fora um “outsider” de extrema-direita (embora se declare “anarquista”) chamado Payo Cubas, ex-senador; o atual presidente, Mario Abdo, não pode ser reeleito; Paraguai é o único país da América Latina a reconhecer Taiwan e não ter relações com a China, o que mudará se Efraín for eleito, o candidato do partido colorado já avisou que manterá as relações com Taiwan.
Por falar em Paraguai…
Na última quarta-feira (26), completou-se 50 anos do acordo bilateral de Itaipu, o chamado “Tratado de Itaipu”. Nele, Brasil e Paraguai firmaram o acordo para uma sociedade binacional em torno da Usina Hidrelétrica de Itaipu. A data marca o fim de uma obrigação imposta aos paraguaios: a venda do excedente energético a preço de custo ao Brasil, conforme previsto pelo chamado anexo C. A explicação para o “anexo C” é simples: a usina pertence aos dois países, igualmente. Já que o Paraguai não utiliza toda a parte que lhe cabe, e o Brasil necessita de muito mais energia, ficou acertado que o Paraguai não poderia vender seu excedente no mercado internacional, sendo obrigado a priorizar o Brasil a quem deve vender a energia, como já foi dito, pelo preço de custo. Mas agora, 50 anos depois, conforme previa o acordo, esse tratado será revisto. Porém, a Companhia Binacional já explicou que “a negociação sobre eventuais ajustes e renovação do acordo deve se iniciar depois de agosto, após a posse do novo presidente do Paraguai“. Santiago Peña, um dos candidatos favoritos no pleito de domingo, diz, sobre o tema, que as conversas serão amplas e sinceras e que o Paraguai tem a aspiração ao “desenvolvimento”, ressaltando também que “Lula tem demonstrado mais generosidade com o Paraguai”. Já Efraín Alegre, o outro favorito, aparenta adotar um tom mais duro. Em anos anteriores chegou a dizer que “não tem sentido o Paraguai doar energia ao Brasil” e em declaração à Folha de S. Paulo nesta última quarta-feira disse que “o modelo atual (do acordo) não interessa ao Paraguai”, mas afirmou estar otimista em negociar com o presidente Lula.
EUA não assinaram declaração de Bogotá, diz Venezuela
O Fórum Internacional sobre a Venezuela, promovido pelo governo colombiano e realizado na última terça-feira não teve a declaração final assinada pela delegação dos EUA, segundo o que informou nesta quinta-feira (27) o primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello. Cabello assinalou que “não foi produzido um documento de consenso” porque os americanos “não quiseram assinar, foram derrotados ali e por isso não quiseram assinar”, frisou. “Quero deixar claro ao imperialismo norte-americano, aos seus lacaios nacionais e europeus que esta Revolução veio para ficar”, sustentou, acrescentando ainda que o governo venezuelano “não vai ao diálogo para capitular”. Diosdado Cabello apontou ainda que a reunião de terça-feira “criou muitas expectativas de alto nível em algumas pessoas”, mas ponderou que o encontro “não deveria ter tratado do tema da democracia porque em nenhum dos países presentes há mais democracia do que na Venezuela, tenho certeza de que nenhum desses países tem um sistema mais democrático do que o dos venezuelanos, onde o povo tem o direito de se expressar e o faz”.
O golpe em curso em El Salvador e o nonsense da extrema-direita
O que está acontecendo em El Salvador desde a volta da direita ao poder em 2019 é muito grave. Nayib Bukele, atual presidente, é um típico representante da atual extrema-direita. Diz não ser político, mas governa com o apoio entusiástico dos neofascistas salvadorenhos. Tudo regrediu, inclusive em termos democráticos e os militantes e dirigentes da Frente Farabundo Marti para a Libertação Nacional (FMLN) são alvos de perseguições criminosas. As eleições gerais estão marcadas para 4 de fevereiro de 2024. A Constituição de El Salvador proíbe a reeleição presidencial. O mandato é de cinco anos e, portanto o atual presidente não poderia concorrer. A constituição não mudou, mas em 2021 a Assembleia Nacional, controlada por Bukele, destituiu os cinco membros da Câmara Constitucional e o presidente indicou cinco novos juízes, fiéis a ele. Esta nova Câmara decidiu que, apesar de a Constituição proibir a reeleição, Bukele poderia concorrer. Recentemente, ao perguntarem ao vice-presidente Félix Ulloa, como o presidente poderia concorrer à reeleição, se esta é vetada pela Constituição, “explicou” do seguinte modo: “ele não vai concorrer à reeleição, vai concorrer a um segundo mandato”. O deputado da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), Jaime Guevara, opinou que a frase “é um insulto à inteligência do povo salvadorenho, é uma zombaria da opinião da população salvadorenha”. O parlamentar René Portillo Cuadra, da Aliança Nacionalista Republicana (de direita), avaliou que as declarações de Ulloa buscam gerar confusão. “Ele não diz isso por ignorância, ele pretende confundir a população salvadorenha, a reeleição presidencial está proibida”, assinalou. Nayib Bukele, no entanto, está em plena campanha.
Cidade de Liège corta relações com Israel
O site abrilabril informa que o município de Liège (Bélgica) cortou relações com Israel até que as autoridades israelenses “ponham fim às violações dos direitos do povo palestino”. A moção, aprovada na última segunda-feira (24) pelo parlamento municipal foi apresentada pelo Partido do Trabalho da Bélgica. Na terça-feira, Raoul Hedebouw, presidente do PTB, de orientação comunista, aplaudiu a decisão tomada, sublinhando que se trata de uma “posição firme contra o apartheid israelense”. O município de Liège juntou-se a outras cidades europeias que cortaram relações com o Estado de Israel ou boicotaram as importações de bens e serviços israelenses produzidos nas colônias ilegais criadas em solo palestino.
Partidos comunistas expressam solidariedade ao povo sudanês
O Sudão vive há semanas uma batalha sangrenta entre camarilhas militares reacionárias que lutam pelo poder, enquanto as forças populares, lideradas pelo Partido Comunista Sudanês, defendem a revolução democrática. Partidos comunistas e operários divulgaram, nesta sexta-feira (28), uma declaração onde expressam “solidariedade com o povo sudanês e as forças democráticas, contra os governantes militares e sua guerra sangrenta”. Os partidos comunistas, diz a declaração, “apoiamos plenamente a demanda das forças democráticas sudanesas, à frente das quais está o fraternal Partido Comunista Sudanês, por um cessar-fogo imediato, a saída de exércitos e milícias das cidades e a prestação de assistência humanitária urgente sob a supervisão da ONU à população civil”. Até o momento 31 organizações assinaram a declaração (que continua aberta a adesões), dentre elas o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Leia a íntegra, em inglês, neste link.
Por Wevergton Brito Lima
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