Súmula Internacional 30 – Turquia: Segundo turno e embate geopolítico
Leia também: A contraofensiva ucraniana e a guerra de versões / Afeganistão adere à Iniciativa Um cinturão e uma Rota (Nova Rota da Seda) e 75 anos da al-Nakba: “A Grande Catástrofe”.
O atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, 69 anos, que obteve 49,4% dos votos nas eleições presidenciais deste domingo (14), irá enfrentar o opositor Kemal Kilicdaroglu, 74 anos, (44,96%), no segundo turno a se realizar no dia 28 de maio. Erdogan, um político conservador, está há duas décadas no poder. Nos últimos anos Erdogan vem se afastando da postura de alinhamento automático com Washington, aproximando-se da Rússia e recentemente restabeleceu relações diplomáticas com a Síria. Não por coincidência, desde então o aparelho midiático pró-imperialista propagandeia que Erdogan fez – usando as palavras do jornal carioca O Globo, na edição desta segunda-feira (15) – “uma guinada autoritária e conservadora”. Já seu oponente, Kilicdaroglu, é apresentado como um político moderno, defensor das pautas democráticas e da aproximação com o Ocidente. Em recente declaração, Kilicdaroglu prometeu, caso seja eleito, que lembrará a Rússia de que a Turquia é parte da Otan, em uma clara mensagem de que irá se alinhar com a frente anti-Rússia. O mercado financeiro reagiu mal à vantagem de Erdogan no 1º turno, “esta é uma grande decepção para os investidores que esperam uma vitória do candidato da oposição Kilicdaroglu (…) As próximas duas semanas serão caracterizadas por um alto nível de incerteza”, declarou um importante investidor turco, à Reuters.
Turquia: Segundo turno e embate geopolítico II
Entre os setores da oposição o resultado do 1º turno foi uma ducha de água fria, já que praticamente todas as pesquisas apontavam para a vitória de Kemal Kilicdaroglu, algumas inclusive aventando a possiblidade de o candidato opositor vencer sem necessidade de segundo turno. No entanto, a ida da disputa para o segundo turno não deixa de representar uma oportunidade para EUA e União Europeia, que irão sem dúvida tentar garantir a vitória de Kilicdaroglu, exigindo deste compromissos ainda mais explícitos, ou, na pior das hipóteses, tentarão pressionar um Erdogan ameaçado a retomar um maior engajamento com as pautas atlantistas. Porém, as feridas estão abertas e talvez demorem a cicatrizar. Na sexta-feira (12) o ministro do Interior da Turquia, Suleyman Soylu, declarou à rede CNN Turk que “os EUA estão interferindo nesta eleição contra Erdogan […]. Todos já sabem disso neste país, o próprio presidente dos Estados Unidos está declarando isso. O sr. Biden ativou seu pessoal na Turquia nos últimos dias“. No dia seguinte, no sábado anterior ao pleito, o próprio presidente turco endossou a acusação. Nas eleições parlamentares, a coalizão de Erdogan, Aliança do Povo (compreende seu “Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK)”, de raízes islâmicas, e parceiros nacionalistas) tem boas chances de conquistar, segundo as projeções, 321 cadeiras no parlamento, conseguindo maioria absoluta (são 600 lugares), o que é mais um sinal claro de favoritismo para o segundo turno contra o Partido Republicano do Povo e seus aliados, apoiadores de Kemal Kilicdaroglu.
A contraofensiva ucraniana e a guerra de versões
A tão aguardada ofensiva ucraniana desencadeia uma guerra de versões, como é natural em todo conflito desta dimensão. Como então, se manter informado sem se deixar envolver pela propaganda de nenhum dos lados? Missão difícil, mas possível até determinado ponto. Em relação à mídia hegemônica brasileira e ocidental, inegáveis porta-vozes das posições atlantistas (EUA/União Europeia/Otan) temos um componente facilitador: como o discurso é unificado, não é preciso muita pesquisa para descobrir os elementos principais da propaganda russófoba. Não faz muito tempo coloquei no google a pesquisa: “contraofensiva ucraniana”, os três primeiros resultados traziam informações da agência de notícias DW (estatal alemã), do site UOL e do site Terra. Vejam abaixo:
A contraofensiva ucraniana e a guerra de versões II
Pois é, não mudam sequer o título. No início, o objetivo da contraofensiva ucraniana era muito ambicioso: não só ocupar a região de Donbass, como recuperar a Criméia, incorporada à Rússia em 2014. Depois, vieram “alertas” avisando que talvez, quem sabe, a contraofensiva não fosse esse sucesso todo de uma só vez. Nos últimos dias pouca informação você encontra com dados objetivos sobre avanços ou recuos russos ou ucranianos. Os russos afirmam que repeliram com êxito 26 ataques na direção de Soledar, sendo que “nenhum avanço” foi permitido. Por outro lado, o jornal O Globo, na edição desta segunda-feira, alega que o comando das forças armadas russas confirmou no domingo a morte de dois de seus comandantes militares na área de Bakhmut informando ainda que a Rússia admitiu que “ao largo do último dia, o inimigo rompeu a defesa de nossas tropas, ao norte e ao sul de Bakhmut”. A estranhar, apenas, nesta informação, que os russos não se referem a Bakhmut por este nome, que é usado apenas pelos ucranianos. Para os russos, Bakhmut é Artyomovsk.
A contraofensiva ucraniana e a guerra de versões III
Segundo a mídia britânica, a inteligência do país estima que a contraofensiva ucraniana recuperou 1 km de território em Bakhmut. Já a agência russa, Sputnik News garante, em notícia veiculada nesta segunda-feira, que o “regime de Kiev perdeu mais de 350 combatentes em ofensiva frustrada contra forças russas”. Especificamente sobre Artyomovsk, a Sputnik News cita uma entrevista divulgada neste sábado (13) no New York Times, com o comandante da 24ª Brigada de Infantaria Motorizada da Ucrânia, que atende pelo nome de guerra “Prince”, informando que Moscou estava atacando furiosamente a cidade novamente. “Os tanques russos estão nos dando pesadelos. Fogo de artilharia, foguetes e ataques aéreos não param por um minuto”, disse ele. “Cada metro da cidade está agora sendo bombardeado“. A Sputnik News acrescenta que no mesmo dia em que saiu a matéria no NYT o “Ministério da Defesa da Rússia havia informado que unidades de assalto, apoiadas por tropas aerotransportadas, libertaram mais um quarteirão na parte noroeste de Artyomovsk”. Em meio à fumaça deste tiroteio de informações podemos notar que, mesmo com as mortes de dois comandantes russos e o possível avanço de um 1km em Bakhmut, os sucessivos recuos na expectativa sobre o que antes era previsto como um sucesso avassalador da contraofensiva ucraniana parecem apontar para cenário desfavorável à Kiev. Além disso pode-se observar, soltas aqui e ali, inicialmente como simples notas periféricas, notícias dando conta de que a preocupação da Otan agora é menos com o sucesso da contraofensiva ucraniana e mais com uma nova ofensiva russa. Saindo do campo das especulações, vamos a fatos: a Rússia mobilizou apenas entre 10% e 15% de suas forças armadas para a operação militar especial, não instituiu um alistamento militar de tempo de guerra e nem usou ainda todas as armas mais potentes (não nucleares) do seu arsenal, opções que podem ser ativadas a qualquer momento diante do que parece ser uma inevitável escalada do conflito.
Afeganistão adere à Iniciativa Um cinturão e uma Rota (Nova Rota da Seda)
Na 5ª rodada do Diálogo de chanceleres do Afeganistão, do Paquistão e da China, realizada no dia 6/5, foi acordado que o Afeganistão se somará à Nova Rota da Seda, integrando o Corredor Econômico China-Paquistão que prevê investimentos de R$ 295 bilhões no Afeganistão, que enfrenta uma grave crise humanitária após duas décadas de invasão dos EUA. China e Paquistão se comprometem a trabalhar juntos na reconstrução do país. Em comunicado conjunto, os três países também concordaram em não permitir ações terroristas em seus territórios. “É a primeira vez que a autoridade do Afeganistão, governada pelo Talibã, afirma explicitamente em um documento multilateral formal que o TTP (Paquistão Tehreek-e-Taliban ou simplesmente Talibã Paquistanês) e o ETIM (Movimento Islâmico do Turquestão Oriental), duas organizações terroristas de grave preocupação para a China, não estão autorizadas a usar o território do Afeganistão para realizar ataques terroristas”, declarou Zhu Yongbiao, Diretor do Centro de Estudos do Afeganistão da Universidade de Lanzhou em declaração ao jornal Global Times.
75 anos da al-Nakba: “A Grande Catástrofe”
O dia 15 de maio de 1948 é considerado pelo povo palestino o al-Nakba, o dia da “Grande Catástrofe”, quando 750 mil palestinos foram expulsos de suas casas, 15 mil foram assassinados e 531 cidades palestinas destruídas para dar lugar aos ocupantes sionistas. Depois de 7 décadas este valente povo continua ostentando as “chaves do retorno” com a convicção de que um dia retornarão à terra natal. A Federação Árabe Palestina (Fepal) preparou uma publicação no Instagram que, com fotos e texto, conta de forma resumida este crime, que continua produzindo trágicos efeitos contra a Palestina. Veja clicando aqui.
Por Wevergton Brito Lima
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