Súmula Internacional

Súmula Internacional 76 – Senador dos EUA pede recomposição dos laços com Cuba

Leia mais: Desindustrializar Alemanha e Taiwan, plano do império para seus “amigos” / Fentanil – Droga matou 325 mil nos EUA em 8 anos / Mulheres estão virando o jogo contra a direita estadunidense

A agência Prensa Latina informa que o senador democrata Peter Welch afirmou que retirar Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo é uma medida que os Estados Unidos podem e devem tomar para reconstruir sua relação com a ilha. Welch, que é membro do Senado dos Estados Unidos por Vermont, apresentou uma declaração ao registro do Congresso, delineando oportunidades para promover os laços bilaterais. Em sua proposta, o legislador alertou que as políticas vigentes pouco mais são do que a continuação da agenda fracassada do governo anterior. Estas políticas – enfatizou – estão contribuindo, direta e indiretamente, para as dificuldades e escassez em Cuba, o que em sua opinião foi um fator que desencadeou o aumento do fluxo migratório de cidadãos cubanos para os Estados Unidos em 2022. Welch ainda se referiu aos efeitos que, neste cenário, também tiveram os desastres naturais; no entanto, ele reconheceu que os cubanos “apesar de tudo, perseveraram, movidos por sua extraordinária engenhosidade, orgulho nacional e resistência inata“. Considerado uma figura importante em Vermont por mais de três décadas, o senador sugeriu a reversão de várias políticas dos EUA que “paralisaram a restauração de relações diplomáticas plenas entre as duas nações“. Junto com a retirada de Cuba da lista arbitrária de Estados patrocinadores do terrorismo, solicitou, entre outras coisas, “a renúncia às sanções extraterritoriais previstas no Título 3 da Lei Helms-Burton”. Para Welch, os Estados Unidos devem retomar o caminho de melhorar as relações diplomáticas com Cuba, inclusive enviando um embaixador a Havana. Embora o presidente Joe Biden tenha prometido mudar as políticas do republicano Donald Trump (2017-2021) na campanha para a Casa Branca, quase três anos depois de sua eleição, o democrata adotou algumas flexibilizações, mas no fundamental mantém a mesma linha de seu antecessor em relação a Cuba e o bloqueio permanece intacto.

Desindustrializar Alemanha e Taiwan, plano do império para seus “amigos”

O jornal Avante!, em sua edição desta quinta-feira (10), traz um muito interessante artigo escrito por Jorge Cadima, intitulado: “Amigo Fatal”. Vale a pena ler na íntegra. O jornal americano-alemão Politico fala da desindustrialização da Alemanha (politico.eu, 13.7.23): “As maiores empresas alemãs estão a abandonar a pátria”, “desde gigantes como a Volkswagen e Siemens até um grande número de empresas mais pequenas” que “procuram melhores paragens na América do Norte e Ásia”. Acrescenta: “é difícil evitar a conclusão que a Alemanha se encaminha para um declínio econômico muito mais profundo” e que “a erosão do núcleo industrial da Alemanha terá um impacto substancial no resto da União Europeia”. O processo tem uma clara marca de classe: “As grandes empresas alemãs podem sobreviver e prosperar com ou sem a Alemanha […] simplesmente transferir-se-ão para outras paragens. Mas para a Alemanha isso significará menos empregos com altos salários e uma menor base fiscal, para não falar da ameaça dum declínio econômico sustentado e instabilidade política”. O artigo adianta que “a população em geral parece estar alegremente inconsciente dos desafios econômicos que a esperam, mas quem está na primeira linha não tem quaisquer ilusões”. Por quê esta destruição econômica da Alemanha, de que o grande capital tem plena consciência mas a comunicação social de massas ao seu serviço ainda esconde? “Em palavras simples, a fórmula que tornou a Alemanha na locomotiva industrial da Europa – uma mão de obra altamente qualificada e empresas inovadoras alimentadas por energia barata – desfez-se”, diz o jornal. Fala no aumento dos custos energéticos na sequência do agravamento da guerra na Ucrânia, mas não diz que este aumento é fruto das sanções e mecanismos de preços de energia da UE.

Desindustrializar Alemanha e Taiwan, plano do império para seus “amigos” II

(continuação) Não refere o atentado terrorista ao gasoduto Nord Stream 2, gasoduto encomendado pela Alemanha para ter “energia barata”. Objetivo que sempre teve a oposição dos EUA. Já antes das sanções de Trump de 2019, “em 1982 Ronald Reagan impôs sanções às empresas internacionais que participavam na construção dum gasoduto Soviético para a Alemanha Ocidental” (politico.eu, 22.1.21) – curiosamente, o tema do trabalho de fim de curso de Blinken, atual MNE (Ministro dos Negócios Estrangeiros) dos EUA. Algo semelhante se passa com Taiwan. O jornal chinês Global Times escreve (5.8.23): “Sob pressão dos EUA, a TSMC [gigante da produção de semicondutores], tal como outros fabricantes de chips de Taiwan, foram obrigados a abrir fábricas nos EUA”. Um dirigente da oposição em Taiwan diz que “mais de 500 engenheiros de Taiwan e suas famílias foram relocalizados nos EUA […] e as chaves dos serviços de abastecimento, clientes e outra informação fulcral da TSMC serão provavelmente entregues ao Ministério do Comércio dos EUA”. O artigo afirma: “o objetivo último dos EUA é desenvolver a sua capacidade interna de produção e cadeias de abastecimento, reduzindo a sua dependência da produção de chips em Taiwan”. Também com um objetivo militar: “Logo que os EUA completem a relocalização do processo produtivo avançado da TSMC, a ilha de Taiwan terá maior probabilidade de se tornar uma verdadeira linha da frente militar”. Os EUA querem reindustrializar-se à custa dos seus vassalos. Tal como as pragas de gafanhotos, depois de destruírem a vegetação devoram-se uns aos outros. Já Henry Kissinger alegadamente disse que “ser-se inimigo da América é perigoso, mas ser-se amigo é fatal”. Por Jorge Cadima, no Avante!

Fentanil – Droga matou 325 mil nos EUA em 8 anos

O opioide sintético, 50 vezes mais viciante que a heroína e cem vezes mais forte do que a morfina, virou uma verdadeira epidemia nos EUA e matou 325 mil pessoas de 2015 até 2022. A agência Reuters, em matéria divulgada nesta quinta-feira, baseando-se em dados coletados pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) revela que as apreensões de fentanil mais do que triplicaram no último trimestre de 2022 em comparação com o ano anterior. A heroína agora representa menos de 7% das doses de opioides apreendidas. Há quatro anos, era 80%. O fentanil barato e fácil de produzir substituiu amplamente a heroína, e a mudança foi devastadora nos EUA. Diz a Reuters: “Para cada americano que teve uma overdose fatal de heroína, mais sete pessoas morreram de overdose envolvendo opioide sintético, quase a totalidade fentanil, desde 2015, um total de mais de 325.000, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças”. A matéria da Reuters é reveladora das dificuldades dos EUA de abordar o problema para além de uma questão moral e da “guerra contra as drogas”, que muitos especialistas consideram cara, sangrenta e ineficaz. A CBP se vangloria: “A CBP disse que o investimento em sistemas de inspeção, trabalho de inteligência e coordenação entre agências permitiu apreender mais fentanil e prender mais criminosos por crimes relacionados ao fentanil nos últimos dois anos do que nos cinco anos anteriores combinados. Esses esforços interrompem o tráfico de drogas, levam a luta aos contrabandistas e protegem nossas comunidades contra o flagelo do fentanil“, disse o comissário interino do CBP, Troy Miller, à Reuters em um comunicado. Porém, a própria matéria informa que as autoridades do governo estimam que “detêm apenas 5% a 10% da quantidade total de drogas ilícitas traficadas na fronteira”. Mais do que isso. Segundo Bryce Pardo, oficial de pesquisa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, “O potencial de produção global de fentanil é simplesmente astronômico, o suprimento da droga finalizada é praticamente infinito”.

Fentanil – A solução é invadir o México?    

A arte, da Reuters, mostra a quantidade de fentanil apreendida em 2022 em comparação com 2015

No entanto, lembrando a velha piada sobre “tirar o sofá da sala”, existem os que colocam a culpa no México, de onde saí boa parte dos opioides e a solução seria então expandir a repressão. A matéria da Reuters é finalizada com a declaração de um especialista que aponta a necessidade de aumentar o financiamento dos órgãos de repressão para combater o fentanil. Em março, o ex-procurador-geral dos Estados Unidos no governo Donald Trump (2017-2021), William Barr, em parceria com o deputado republicano Dan Crenshaw, publicou no The Wall Street Journal, um artigo defendendo a incursão das forças armadas dos EUA no México para combater o tráfico de fentanil, o que motivou uma resposta dura do presidente mexicano, Manuel López Obrador: “Sobre o que foi expresso pelo ex-procurador e pelo representante na Câmara Federal de invadir outro país com a desculpa de que visam terroristas do narcotráfico, devemos rechaçar tudo isso. Se ele se preocupa com o fentanil, como nós nos preocupamos, devemos buscar as causas no México e nos EUA. Existe o tráfico, mas por que existe o consumo? Por que existe o vício? O que está sendo feito nos EUA para dar outras opções aos jovens?”. De fato, estas parecem perguntas que os EUA se recusam a enfrentar, pois tratam de dilemas internos talvez insuperáveis pelo modelo político e econômico adotado pela plutocracia estadunidense. Em uma vídeo reportagem, feita em 2018, intitulada “Skid Row: Por dentro da maior Cracolândia dos EUA” (clique no link e assista no youtube) a BBC diz que Los Angeles tem 60 mil pessoas vivendo na rua, boa parte viciada em fentanil. Dados de 2023 mostram que este número já está próximo de 80 mil. No final do vídeo o repórter anuncia um investimento bilionário para a construção de 10 mil lares e abrigos em 10 anos. Mas logo em seguida, ele entrevista um cético policial que opina: “em 10 anos eu não vejo isso melhorando. Com os números crescendo do jeito que estão, não haverá abrigo suficiente”. A opinião do policial é corroborada pela professora de arquitetura e planejamento urbano da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Dana Cuff. Ouvida pelo jornal Brasil de Fato em julho de 2022 ela conta: “Fizemos um levantamento e descobrimos que, anualmente, conseguimos transferir 20 mil pessoas das ruas para projetos habitacionais. Porém, neste mesmo espaço de tempo, 25 mil pessoas entram em condição de vulnerabilidade financeira e social, e acabam nas ruas“. A polícia brasileira apreendeu pela primeira vez no país um carregamento de fentanil, em março passado.

Mulheres estão virando o jogo contra a direita estadunidense

A ofensiva da extrema-direita estadunidense contra as mulheres obteve um triunfo significativo em junho de 2022, quando a Suprema Corte, de maioria reacionária, derrubou o direito nacional ao aborto, remetendo a decisão para a esfera de cada estado. Desde então as mulheres mobilizaram-se amplamente e, para a surpresa de muita gente, desde então conquistam vitória após vitória. No mesmo ano de 2022 cinco estados americanos realizaram referendos sobre o tema e em todos as mulheres venceram. Em agosto, Kansas, de tradicional maioria republicana, rejeitou a proibição do procedimento por 59% a 41%. Em novembro foi a vez da Califórnia, Michigan, Vermont e Kentucky (outro estado conhecido por seu conservadorismo) votarem contra a proibição. Diante de tantas derrotas os direitistas mudaram de tática. Resolveram dificultar a inclusão do direito ao aborto nas Constituições Estaduais, através do aumento do quórum nas votações de 50% para 60% nos referendos. A alegação oficial para a mudança era o de dar “estabilidade” às Constituições Estaduais. O ponto falho do plano era que a proposta de aumento do quórum igualmente teria que passar por um referendo. O laboratório da tática foi o estado de Ohio, onde em novembro o tema do aborto irá ser votado. A reforma foi levada à votação nesta terça-feira (8) e a maioria dos eleitores (56%) rejeitou a manobra, em um duro golpe para a direita religiosa e consagrando mais uma vitória da mobilização das mulheres e setores progressistas dos EUA.

Por Wevergton Brito Lima

Encontre os números anteriores da Súmula Internacional na editoria Visão Global

 

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