Visão Global

Economia cubana enfrenta o desafio da inflação

Alejandro Gil, vice-primeiro-ministro e ministro da Economia e do Planejamento de Cuba

O complexo cenário da economia cubana hoje apresenta um enorme desafio nos processos inflacionários, principalmente por seu impacto negativo na população e as repercussões no panorama social.

Definida como uma das prioridades do vice-primeiro-ministro e ministro da Economia e do Planejamento, Alejandro Gil, o enfrentamento desse fenômeno que encarece a vida dos cubanos também está vinculado ao atendimento a pessoas vulneráveis, outra questão apontada pela direção do país.

É um assunto complexo que não tem solução única, insistiu Gil em entrevista coletiva nesta quinta-feira (15), acrescentando que estão em estudo todas as alternativas possíveis que não tenham um corte neoliberal, para o qual contribuem estudiosos da economia e da academia.

No entanto, destacou que sem aumentar a oferta não é possível aspirar a um controle efetivo dos processos inflacionários, algo que no contexto cubano, com o flagelo da Covid-19, o bloqueio econômico e as mais de 240 medidas unilaterais do Estados Unidos apertando a garganta da nação caribenha, é um desafio.

Apesar disso, a ilha atravessa atualmente um processo gradual de recuperação econômica e aspira concluir o ano com um crescimento do produto interno bruto (PIB) em torno de dois por cento, disse o vice-primeiro-ministro.

Ele alertou, no entanto, que demorará algum tempo para voltar aos níveis de atividade de 2019, já que primeiro é preciso superar a contração de 10,9%, experimentada em 2020.

A inflação é, para a população, a face mais visível dessa queda, tendo que pagar no mercado ilegal até sete vezes o valor de bens de primeira necessidade, como alimentos, devido ao abastecimento insuficiente do mercado formal.

Soma-se a isso o impacto do processo de ordenação monetária iniciado em 1º de janeiro de 2021, que implicou na desvalorização do peso cubano em relação ao dólar (1 para 24), no aumento dos preços e do poder de compra, ao aumentar também os salários e as pensões.

Tudo isso incide no fato de que, por enquanto, as autoridades econômicas não podem precisar a quanto corresponde a inflação.

Gil explicou que embora seja possível comparar os preços oficiais de 2021 com os de 2020, esse cálculo mostraria apenas parte da realidade, que inclui o impacto da desvalorização da moeda, mas não se pode eludir que muita gente não compra os produtos no mercado estabelecido, mas no ilegal.

“Não há dúvida de que a inflação é forte”, disse o ministro da Economia, mas afirmou que é objetivo da política do país enfrentá-la sem recorrer a soluções neoliberais.

Sobre as formas de fazê-lo, mencionou a eliminação de tarifas sobre a importação de alimentos e medicamentos, bem como sobre os insumos trazidos do exterior por gestores não estatais; um sacrifício fiscal que visa evitar a transferência desses custos para os preços finais.

Da mesma forma, foram autorizadas vendas de garagem, foram abertas cerca de 60 corretoras no país e foram removidos os entraves que existiam à comercialização de estoques ociosos, o que contribui para o aumento da oferta.

O vice-primeiro-ministro atribuiu um papel importante ao aumento da produção agrícola e referiu-se ao controle da liquidez nas mãos da população; mas isso significa que as medidas fiscais, monetárias e outras medidas administrativas terão apenas um efeito limitado.

Enquanto houver escassez de oferta e de pessoas que se dedicam à revenda, se houver demanda pela possibilidade de adquirir esses produtos pelos preços que têm hoje no mercado, os processos inflacionários continuarão”, disse.

O valor das moedas na economia subterrânea também impacta esse fenômeno, uma vez que possuí-las implica acesso a produtos em moeda livremente conversível; no entanto, explicou Gil, o país não tem condições de vendê-los e combater sua troca ilegal.

Acrescentou que a responsabilidade social e a ética contam também para enfrentar o problema, porque em um país como Cuba, que não cobra pelos serviços de saúde, educação e outros benefícios, o aumento excessivo dos preços é eticamente insustentável.

“Temos que convocar todos os atores para entender a situação e não tirar proveito das necessidades das pessoas”, disse ele.

Fonte: Prensa Latina, matéria de Karina Marrón González

 

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