Eleições no Reino Unido – quatro ensinamentos
1 – Quem ganha as eleições foi quem protagonizou, mesmo que falsamente e de forma reacionária, o desejo de saída da União Europeia. A estratégia da UE de transformar uma decisão soberana num prolongado calvário de pressão e ingerência teve como único resultado alimentar o populismo de Boris e a sua abordagem reacionária. Não venham agora chorar “mais um Trump” na Europa.
Por Ângelo Alves
2 – Fica mais uma vez provado que a extrema-direita é um instrumento do grande capital que incha e desincha consoante as necessidades. O UKIP, de que tanto se falou, e que tanto foi utilizado para tentar colar a opção da saída à extrema direita desapareceu, assim como o Brexit, que tinha ganho as eleições para o Parlamento Europeu.
3 – A derrota do Labour deve-se essencialmente a dois fatores: Aos violentos ataques, externos e internos, à Direção de Jeremy Corbyn. E, simultaneamente à incapacidade de resistência a esses ataques, nomeadamente pela ausência de uma posição clara de defesa de uma saída da União Europeia, se não progressista, pelo menos democrática e não anti-social. Se é verdade que no seu programa eleitoral constavam medidas de caráter democrático e até progressista em alguns aspectos, também é igualmente verdade que as divisões no Labour desenharam quadratura do círculo com uma postura de equidistância relativamente ao tema central das eleições e uma colagem à estratégia de um novo referendo. O resultado será, como era de esperar, a “crucificação” de Corbyn e uma nova viragem à direita do Labour.
4 – Foi o sistema eleitoral que ofereceu aos conservadores a maioria absoluta. Em 47,5 milhões de votantes a diferença entre os conservadores e os trabalhistas é de 3,6 milhões de votos, e os conservadores apenas alcançam 43% dos votos. Se o Método de Hondt fosse aplicado nestes resultados os conservadores não teriam a maioria absoluta e a diferença de deputados para o Labour passara dos atuais 163 para 74.
Fonte: Avante!