Eleições venezuelanas: Vitória política do chavismo
O Grande Polo Patriótico Simón Bolívar, coalizão de partidos que apoia Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, ganhou a maioria no Parlamento do país nas eleições deste domingo (6). Com mais de 82% dos votos apurados o GPPSB tinha conquistado 67,6% dos votos, seguido pela aliança da oposição, Ação Democrática, com 17,95%, no entanto, projeções feitas pelo comando da campanha governista apontavam que ao final da apuração o índice do GPPSB chegará a cerca de 72% dos votos. A Alternativa Popular Revolucionária, coalizão de esquerda liderada pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV), alcançou quase 3% dos votos, sem que os números da totalização final estejam disponíveis, o que também pode alterar este índice.
Por Wevergton Brito Lima*
Dados atualizados no dia 9/12 pelo Conselho Nacional Eleitoral. O GPPSP elegeu 253 deputados (91,34% das cadeiras), a Ação Democrática elegeu 11 deputados, Avanzada Progressista 3, El Cambio 3, Primero Venezuela 2, Copei 1, Partido Comunista da Venezuela, que alcançou 2,73% dos votos, 1. Ainda restam 3 cadeiras destinadas aos povos originários, que tem eleições específicas.
O presidente Maduro escreveu em seu Twitter, na manhã desta segunda-feira (7): “Hoje a Venezuela desperta com um novo amanhecer de paz, alegria, reencontro e fortalecimento da institucionalidade democrática. Iniciou-se uma nova etapa para a reconstrução do parlamento e a recuperação do nosso país”.
De fato, é uma vitória política importante do chavismo, que retira a extrema-direita do controle da Assembleia Nacional, enfraquecendo ainda mais o autoproclamado “presidente” Juan Guaidó.
As reações do imperialismo não tardaram. Os EUA qualificaram a eleição como “uma farsa”, no que foram seguidos por outros países como o Brasil. De acordo com nota divulgada pelo Itamaraty de Bolsonaro, que como sabem todos é um ardoroso defensor da ditadura militar, as eleições de domingo na Venezuela “carecem de legalidade e legitimidade pois foram realizadas sem as garantias mínimas de um processo democrático, de liberdade, segurança e transparência”. Segundo o Itamaraty, outros 15 países assinam a nota: Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Santa Lúcia.
O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, ironizou o texto com um post nesta segunda-feira (07) publicado no Twitter, lembrando a crise institucional no Peru, a repressão aos protestos no Chile, o assassinato de opositores na Colômbia e a tragédia do coronavírus no Brasil: “Quem é o presidente do Peru? No Chile, quantos foram reprimidos hoje? Algum líder social assassinado hoje na Colômbia? A Gripezinha avança?”.
Uma eleição com números importantes e reconhecimento internacional
A eleição venezuelana envolveu mais de 14 mil candidatos de 107 partidos, sendo que a imensa maioria de oposição. A mídia hegemônica tenta distorcer os fatos ao afirmar que “a oposição boicotou” quando na verdade foi apenas uma parte da oposição, que caiu em total descrédito, que adotou a postura do boicote. Outro “gancho” para a manipulação midiática foi o alto índice de abstenção (apenas 31% do eleitorado compareceu), dado, sem dúvida, negativo, mas com fatores objetivos que em boa medida explicam o fenômeno, a começar pela própria pandemia de coronavírus aliada ao fato de que o voto na Venezuela não é obrigatório, sem contar à intensa campanha de parte da mídia comercial incutindo o medo de contágio e até de violência durante o processo eleitoral, violência que ao final não aconteceu, mas cuja propaganda ajudou a afastar muita gente.
Nas eleições legislativas de 2014 nos EUA (bem antes, portanto, da pandemia), apenas 37% dos eleitores compareceram às urnas. Nas eleições municipais francesas de julho de 2020, o índice de abstenção foi de 60%. Em nenhum destes casos usou-se a abstenção para deslegitimar o processo eleitoral e no caso da eleição francesa a mídia hegemônica dizia que o motivo principal da ausência de eleitores era claro: o surto de coronavírus. O que é claro, em um caso, deixa de ser em outro por questões de conveniências políticas.
A eleição na Venezuela foi acompanhada por mais de 300 observadores internacionais que atestaram a lisura do pleito. Em declaração divulgada nesta segunda-feira (7), a porta-voz da chancelaria russa, María Zajarova, citada pela agência Prensa Latina, declarou que “em muitos aspectos, o processo eleitoral na Venezuela foi organizado de forma mais responsável e transparente do que em alguns países, que costumavam ser apresentados como padrões de democracia” fazendo nítida alusão aos EUA e a sua caótica forma de organizar eleições. Os ex-presidentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Corrêa (Equador) também acompanharam as eleições venezuelanas, atestando sua lisura. Rafael Corrêa declarou ao site Opera Mundi que a vitória venezuelana serve para fortalecer a luta pela retomada do processo de integração regional:
“A saída é a integração. Temos que recuperar a Celac, a UNASUL, criar nossos próprios espaços para resolver conflitos”, disse.
O fato é que a direita golpista venezuelana, diante do resultado da eleição para a Assembleia Nacional, terá mais dificuldades para levar adiante seu projeto de tomada violenta do poder, o que já é reconhecido, a contragosto, até por setores da mídia hegemônica.
* Jornalista, editor do i21.