“Pandemia expôs fracasso do neoliberalismo”, diz presidente mexicano
“Não é lícito nem ético defender a intervenção do Estado para resgatar empresas e instituições financeiras em falência e considerar um fardo promover o bem-estar dos mais desfavorecidos. Basta de hipocrisia”
O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador divulgou, no último domingo (03), um documento no qual comenta a pandemia de covid-19 em todo o mundo. No texto, ele elenca “oito lições básicas” da pandemia, com recomendações de mudanças estruturais para enfrentar o novo coronavírus e fazer com que “as ideias e ações dos governos dos países sejam guiadas por princípios humanitários, mais do que por interesses econômicos, pessoais, de grupos ou potências“.
O elemento central do texto do mandatário é fracasso do modelo neoliberal, implementado no México durante décadas.
Segundo López Obrador, isso se reflete não só na ausência de leitos, respiradores ou equipamentos de proteção para os trabalhadores da saúde no contexto da pandemia, mas também na falta de médicos e enfermeiros para atender a alta demanda gerada pela covid-19, devido à falta de investimentos e a privatização do ensino no país.
Em 4 de abril, o governo mexicano lançou um plano para contratar 6.600 médicos e 12.300 enfermeiras. Também nos primeiros dias de abril, o México recebeu uma equipe composta por 10 especialistas de saúde de Cuba, que viajaram ao país para fazer recomendações de políticas públicas.
No texto divulgado, intitulado Algumas lições da pandemia de covid-19, o presidente mexicano comenta as perdas econômicas em todo o mundo no marco da pandemia. Ele afirma que elas não são causadas pelo vírus, mas por um sistema econômico orientado apenas pelo lucro.
“Logicamente, o coronavírus não é responsável por esta catástrofe econômica. A pandemia só evidenciou o fracasso do modelo neoliberal no mundo. (…) Isto é, a vulnerabilidade da economia global está à mostra e qualquer fenômeno natural, epidemia ou conflito pode levar a um desastre. Enfim, a infecção mundial veio demonstrar que o modelo neoliberal está em sua fase terminal“, diz o documento presidencial.
Em contraposição aos governantes que defendem a preservação da economia em detrimento da saúde da população, o presidente afirma que é preciso construir um novo modelo econômico e social para combater a pandemia.
“É tempo de criarmos novas formas de convivência política, econômica e social, deixando de lado, definitivamente, o enfoque mercantilista, individualista e de pouca solidariedade que predominou nas últimas quatro décadas“.
Entre os pontos propostos por López Obrador estão o fortalecimento dos sistemas de saúde públicos, o tratamento das doenças crônicas, a solidariedade internacional – para evitar o controle dos preços de alimentos, medicamentos e insumos na área da saúde -, e maior intervenção do Estado.
Em relação a este último tópico, o mandatário critica os governos que, neste momento de emergência sanitária, utilizam recursos públicos para salvar as grandes empresas e bancos.
“Não é lícito nem ético defender a intervenção do Estado para resgatar empresas e instituições financeiras em falência e considerar um fardo promover o bem-estar dos mais desfavorecidos. Basta de hipocrisia“, escreveu.
O México tem 24.905 casos confirmados de covid-19, com 2.271 mortes e 15.938 pessoas recuperadas, segundo dados do Ministério da Saúde apresentados nessa segunda-feira (04).
Até o dia 3 maio, 661 mexicanos infectados com covid-19 faleceram nos Estados Unidos, país que concentra o maior número de casos no mundo, com mais de 1 milhão de casos confirmados.
Entre as propostas do presidente mexicano para diminuir os gastos do Estado como forma de ajudar a combater a crise sanitária gerada pelo novo coronavírus, está a redução do próprio salário e do alto escalão de seu governo em 25%.
Em um vídeo divulgado pelo governo do México também no último domingo (03), López Obrador comenta que seu texto está dedicado “aos doentes, aos heróis e heroínas, médicos e enfermeiras que estão salvando vidas no país e no mundo”.
No final do documento, o mandatário comenta que a prioridade dos governantes deve ser proteger as vidas de seus cidadãos.
“A pandemia em curso nos deixará centenas de milhares de ausências irreparáveis e uma economia deslocada e severamente diminuída. Em muitos sentidos, temos de que nos dar a tarefa de reconstruir o mundo“.
Nesse sentido, ele também reforça a necessidade de atuar em conjunto com os organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para encontrar uma vacina para o vírus. “Todas as pessoas e todos os povos pertencemos a uma mesma família: a humanidade“, conclui o presidente.
Fonte: Brasil de Fato