PCP: O “jeitinho” que os comunistas se negam a dar
Vocês podiam dar um jeitinho, dizem-nos alguns amigos bem intencionados, justamente preocupados com os resultados eleitorais do Partido Comunista Português (PCP) e da Coligação Democrática Unida (CDU), reconhecendo justamente que – em parte – eles se devem à violenta campanha midiática contra o Partido e de distorção da realidade.
Por Manuel Gouveia
Quando tentamos perceber o que seria esse jeitinho, dão exemplos como os da Venezuela e da Coreia. Em vez da frontal e clara solidariedade com a revolução bolivariana, podíamos dizer qualquer coisa do estilo “estamos solidários com todos os que na Venezuela lutam pela democracia e pelo direito à autodeterminação”, que é coisa que até estamos, e escusávamos de falar em “agressão imperialista” ou “forças revolucionárias” e principalmente, de expressar solidariedade com aqueles que são vítimas da agressão imperialista e das campanhas midiáticas de falsificação. Sobre a Coreia, sugerem-nos que reconheçamos que aquilo é uma ditadura, e até teríamos uma boa justificação, para enganarmo-nos a nós próprios, repetindo baixinho e para dentro, que afinal, para um marxista, todos os Estados são uma ditadura.
Com um jeitinho, saía alguma pressão de cima, e defendíamos uns votinhos. Nestas alturas é preciso ter alguma paciência e recordar que estes nossos amigos até são bem intencionados. E não responder logo à bruta, do tipo “os gajos da PIDE (1) também só queriam que déssemos um jeitinho, que confirmássemos o que eles já sabiam, e esse era o primeiro passo para borrar a pintura toda…” ou “para fazer essa figura já cá anda o Bloco (2)”.
E com calma e paciência explicar – novamente – a dimensão internacional do processo de emancipação do trabalho, bem como as tarefas, em cada país, daqueles que se propõem resistir ao imperialismo e superar o capitalismo, sendo que um é a fase final e última do outro.
Sem esquecer que mais vale perder uns votos que trair. Porque a traição é mais que uma derrota, é a aniquilação.
Notas da redação do i21
1 – Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), polícia política do governo fascista português, que torturava e assassinava opositores do salazarismo.
2 – Referência ao partido Bloco de Esquerda.
Fonte: Avante!