Porque o mercado teme a recuperação da economia global
A pandemia está trazendo mais estragos ao mundo do que supõe a mera disputa por vacinas. É impressionante como a financeirização da economia mundial criou paradoxos insanáveis.
Por Luis Nassif
Tipo: a recuperação da economia mundial deveria ser saudada mundialmente. É pré-condição para a geração de emprego, melhoria da renda, desenvolvimento e redução da pobreza. Mas é vista como ameaça pelos detentores de títulos mobiliários.
Entenda.
Desde 2008, a expansão monetária tem provocado bolhas especulativas. Ao contrário do que imaginava a ortodoxia, não houve efeito inflacionário nos preços ao consumidor, mas bolhas em mercados específicos, como da criptomoedas, obras de arte.
Emitiu-se muita moeda. Houve entesouramento da poupança mundial. Com a economia real andando de lado, os recursos não serviram para financiamento do crescimento. Com os excedentes em caixa, por falta de demanda, os recursos foram canalizados para mercados especulativos, criando bolhas. É o que ocorre especialmente com as ações de empresas de tecnologia, mas não apenas. Há bolha irracionais com criptomoedas, obras de arte, em uma repetição enfadonha das ondas cíclicas de bolhas, desde a desregulamentação cambial dos anos 70.
O jogo funciona assim:
1. Se a vacinação tiver efeito, haverá uma recuperação na economia mundial.
2. Com a recuperação, o excesso de liquidez começará a se refletir na inflação.
3. Aumentando a inflação, haverá um aumento nas taxas de juros dos títulos americanos. Haverá impacto em toda a estrutura de juros da economia.
4. A expectativa de inflação maior impacta as taxas de juros médias e longas.
5. Por sua vez, o aumento dos juros derruba os preços dos ativos e dos títulos públicos. Como o papel tem um preço fixo de resgate, aumentando os juros haverá uma queda no preço à vista para que haja aumento na diferença entre os preços atuais e os de vencimento.
Nos últimos dias, pequenos movimentos nas taxas de juros de títulos do governo dos EUA impactaram as ações de tecnologia. Os títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA foram para quase 1,5% ao ano. Depois, assentou-se em 1,47%.
Por outro lado, o pacote de estimulo à economia, pelo governo Biden, provocou movimentos de alta nos títulos de médio prazo, que chegaram a 2,5% na 4a feira, o maior valor desde 2008. Na 4a feira, a alta das taxas, na semana passada, provocou uma queda de 2,7% no Índice Nasdaq Composite, de empresas de tecnologia. No dia anterior, já haviam caído 2,8%.
A volatilidade é alimentada pelas incertezas em relação ao controle da pandemia.
Ontem, o presidente do FED, Jerome H. Powell, adiantou cenários de elevação das taxas de juros. Haveria reajuste nos juros se houver recuperação no emprego, a inflação bater em 2% ao ano por algum temop.
A taxa de desemprego está em 6,3%, bem acima dos 3,5% do ano passado. Como muitas pessoas desistiram de buscar emprego, há uma subestimação do desemprego.
Fonte: Jornal GGN