Súmula Internacional

Súmula Internacional 47 – Contraofensiva ucraniana: os sinais de um fracasso

Tanques das forças armadas ucranianas destruídos na direção de Zaporozhye / Foto: Ministério da Defesa da Rússia - TASS

Leia mais: Rafael Corrêa sobre as eleições no Equador – “Muita Esperança” / Lula e Von Der Leyen / Machismo – Pesquisa da ONU mostra que preconceito contra mulheres segue forte / A Força de Trabalho Pós-Pandemia nos EUA

Como se sabe, um dos fronts decisivos em uma guerra moderna é o front da comunicação. É uma batalha diária dos diversos lados envolvidos destinada principalmente a manter elevado o apoio ao prosseguimento da guerra, tanto entre a opinião pública interna quanto entre os aliados, além de estimular o moral de combate da tropa, se bem que esta última vive a realidade concreta do campo de batalha o que torna a propaganda menos eficaz. Neste “front” comunicacional, a tropa atlantista é superior em uma proporção avassaladora, ao menos no Ocidente, mas tem encontrado imensa dificuldade em oferecer uma narrativa coerente sobre a tal contraofensiva ucraniana, o que não é um bom sinal (para EUA/Otan/Zelensky). Tomemos como exemplo o jornal O Globo, na edição desta terça-feira (13). O diário carioca não enviou correspondentes à Ucrânia e apoia-se em informações repassadas por jornalistas do El Pais e “agências internacionais”. Logo no início, a matéria alega que a explosão da represa Nova Kakhovka, atrapalhou os planos da contraofensiva. Contudo, os redatores não têm segurança para afirmar se a tal contraofensiva começou ou não, pois segundo o jornal a explosão da represa ocorre “em meio ao que analistas internacionais apontam que pode ser o início da esperada contraofensiva ucraniana”. A mesma matéria, porém, diz mais adiante que a Rússia está deslocando suas melhores tropas para a região “onde estão acontecendo as principais operações contraofensivas da Ucrânia”. O Globo ainda reproduz, sempre baseado em fontes ucranianas ou atlantistas, que a destruição da represa prejudicou as forças de Kiev, obrigadas a prestar ajuda humanitária às populações locais, sem explicar como isso é possível quando a quase totalidade da área atingida está sob controle russo.

Contraofensiva ucraniana – Todos os sinais de um fracasso II

Por outro lado, analistas independentes, como o francês de origem argelina, Thierry Meyssan, concordam que não só a contraofensiva começou como já teria sido derrotada. Editor do site Red Voltaire, Meyssan publicou nesta terça-feira um artigo intitulado “O Colapso de Kiev” onde afirma peremptoriamente: “As armas falaram. Falou também o momento da verdade: a contraofensiva de Kiev falhou miseravelmente. Os enormes volumes de armas enviados pelos membros da OTAN provaram ser inúteis. O campo de batalha está repleto de cadáveres de soldados ucranianos enviados para morrer inutilmente. Os territórios cujas populações decidiram por referendo ingressar na Federação Russa permanecerão russos. Este ‘xeque-mate’ não marca apenas o fim da Ucrânia que conhecíamos. Significa igualmente o fim da dominação ocidental, de um Ocidente que optou pela mentira. O nascimento do mundo multipolar pode concretizar-se neste verão (verão europeu, junho a setembro, n. do e.), no quadro de várias cúpulas internacionais. Impõe-se uma forma de pensar que não reconheça a força como fonte do direito(click aqui e leia a íntegra do artigo em espanhol). Tudo indica que Meyssan tem razão. Uma análise dos informes da mídia atlantista sobre o desenvolvimento do conflito na Ucrânia revela uma total bateção de cabeça, com admissões veladas de “avanços tímidos” e anúncios de retomadas de vilarejos e aldeias pelas tropas ucranianas embrulhadas em muita informação contraditória. O que predomina é a confusão. Não sou um analista militar, mas sei o básico: quando reina a desordem no seu lado do campo de batalha (incluindo a batalha comunicacional), isso é um sinal alarmante de que o pânico e a derrota virão em seguida.

Rafael Corrêa sobre as eleições no Equador – “Muita Esperança”

A chapa da Revolução Cidadã, Luisa González e Andrés Arauz

A chapa presidencial da principal força de esquerda do Equador, a Revolução Cidadã (RC) já está definida, e o ex-presidente Rafael Corrêa, principal líder do movimento, está otimista para a disputa do dia 20 de agosto. Inicialmente, o presidenciável da RC seria Jorge Glas, que foi vice-presidente do país de 2012 a 2018 e ficou preso durante 5 anos, em um caso típico de lawfare. Apesar de ter seus direitos políticos restituídos, Glas considerou que sua candidatura poderia sofrer novos ataques judiciais e declinou diante de uma multidão reunida em comício. Assim, a candidata presidencial da RC será a advogada Luisa González e o vice será o ex-candidato presidencial em 2021, Andrés Arauz. Rafael Corrêa, ele também vítima de lawfare que o obrigou a sair do país (vive na Bélgica) saudou a escolha, disse que Jorge Glas seria o “candidato natural”, mas que agiu com responsabilidade e revelou “ter muita esperança na vitória”. Correa destacou que, se a chapa González-Arauz vencer, “será um governo de transição” para um país “destruído”. Nesse sentido, lembrou que o Equador passou de segundo país mais seguro da América Latina para uma das 15 nações mais violentas do mundo. “Isto não se vai resolver de um dia para o outro, mas pode resolver-se. Já o fizemos em 2007“, frisou, acrescentando que então a situação de segurança não era tão grave, mas havia outros problemas “tremendamente complexos” como a migração, a crise econômica e a corrupção. A candidata presidencial, Luisa González, prometeu “pegar o touro pela unha e enfrentar as causas que geram violência e criminalidade, como a fome, a pobreza, a falta de educação, a ausência de oportunidades“, disse González, que por enquanto é a única mulher a disputar o posto presidencial. Outros nomes já lançados são: Otto Sonnenholzner (ex-vice-presidente de Lenin Moreno), Daniel Noboa, Bolívar Armijos e Fernando Villavicencio.

Lula e Von Der Leyen

Foi uma aula de diplomacia e correta defesa dos interesses nacionais que Lula proporcionou à nação em seu encontro, nesta segunda-feira (12) com a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Não se enganem com o sorriso simpático de Ursula. Ela tem se destacado na arena internacional pelo tom belicista e pró-guerra em relação ao conflito na Ucrânia e de subordinação canina aos EUA, o que parece ser um requisito para ocupar o principal cargo político da UE. Na pauta com Lula o acordo Mercosul-União Europeia, meio-ambiente, Ucrânia, parceria tecnológica, entre outros. Em todos esses assuntos Lula, com habilidade e sem queimar pontes, defendeu os interesses nacionais de forma clara. Lula criticou leis recentemente aprovadas pela UE que podem dificultar as exportações brasileiras para o continente. Problematizou a proposta de que se permita a participação em igualdade de condições de empresas europeias em relação a empresas brasileiras nas licitações das compras governamentais. Segundo reporta o jornal O Globo, “na visão do governo Lula, antes de beneficiar empresas de países desenvolvidos nas compras governamentais, é preciso atender a firmas nacionais, sobretudo as de micro, médio e pequeno porte”. Lula voltou a defender a necessidade de um cessar fogo sem pré-condições e o início de negociações de paz na Ucrânia, enquanto a dirigente da UE reafirmou que negociações de paz devem partir da irrealista “fórmula Zelensky”. Sobre a Amazônia, Von der Leyen anunciou um aporte de 20 milhões de euros (pouco mais de 104 milhões de reais) para o Fundo Amazônia enquanto Lula deixou claro que não aceita imposições ou sanções relativas a metas ligadas ao meio-ambiente, que não devem ser ditadas do exterior e sim emanadas de forma soberana por cada povo, o que entra em contradição com a mentalidade colonial que marca mesmo as supostas boas intenções da União Europeia e resiste à passagem do tempo, como velhos hábitos que demoram a morrer.

Machismo – Pesquisa da ONU mostra que preconceito contra mulheres segue forte

O site das Nações Unidas em português divulgou, nesta segunda-feira que o preconceito contra as mulheres não diminuiu desde a última década. As informações constam do Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e revela que, globalmente, 25% dos entrevistados acreditam que é justificável agredir a parceira; metade prefere homens liderando na política. O levantamento mostra que 90% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito contra as mulheres. O estudo, que cobre 85% da população mundial, ainda aponta que quase metade das pessoas acredita que os homens são melhores como líderes políticos do que as mulheres. Duas em cada cinco pessoas acreditam que eles também se saem melhor como executivos. O Brasil foi o único país de língua portuguesa no estudo. Segundo o levantamento, 84,5% dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres. O estudo analisou quatro dimensões: integridade física, educação, política e econômica. A pior avaliação foi no quesito físico. Em média, mais de 75% dos brasileiros entrevistados têm preconceitos em questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos. E sobre a participação feminina na política, a pesquisa aponta que mais de 39% dos entrevistados acreditam que mulheres não desempenham este papel tão bem quanto os homens. Além disso, 31% dos brasileiros acham que homens têm mais direito a vagas de trabalho ou são melhores em cargos executivos. No geral, apenas 15,5% da população do Brasil afirma não ter preconceito contra as mulheres. O resultado representa um avanço de 5% desde 2012.

A Força de Trabalho Pós-Pandemia nos EUA

A agência Reuters publicou nesta terça-feira uma matéria, assinada por Howard Schneider e Sarah Slobin, revelando novos dados sobre o mercado de trabalho dos EUA que emergiu depois da pandemia e foram coletados pelo Birô de Estatísticas do Trabalho. Analisando o amplo estudo, os autores dizem que “no geral, os EUA se tornaram uma economia em que uma parcela maior de pessoas ganha a vida gerenciando, organizando e movimentando coisas, em vez de fabricando mercadorias ou fornecendo serviços”. Os dados apontam um rápido crescimento de oferta de trabalho para instaladores de painéis solares, conselheiros, terapeutas e recursos humanos. “Algumas das mudanças, como o declínio dos trabalhadores do varejo, podem envolver uma realocação de mão de obra de longo prazo. Outros, como a queda de comissários de bordo, podem ser uma interrupção pandêmica de curto prazo (…) O impacto da tecnologia na economia dos EUA, agora incluindo o uso crescente de inteligência artificial, também pode influenciar quantos trabalhadores serão necessários em todas as ocupações no futuro”, informa a matéria da Reuters que pode ser lida na íntegra (em inglês) neste link.

Por Wevergton Brito Lima

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