Súmula Internacional

Súmula Internacional 108 – Venezuela: uma vitória incontestável sobre a extrema-direita

Comício de encerramento da campanha de Nicolás Maduro

Dois fatos que são escondidos pela narrativa dos órgãos da mídia hegemônica brasileira sobre a eleição venezuelana: 1 – Maduro venceu as eleições deste domingo (28) de forma incontestável; 2 – A vitória foi sobre a extrema-direita.

O voto na Venezuela não é obrigatório e, mesmo assim, a maioria dos eleitores registrados votou, tanto na situação, quanto na oposição. Durante todo o dia, eleitores de ambos os espectros políticos votaram em paz e tranquilidade. Esse fenômeno, em meio a um país polarizado, é possível também porque o sistema eleitoral é confiável e quem tem mais voto leva, uma consciência que todos compartilham, mas que a oposição de extrema-direita, oportunisticamente, nega.

E daí, entramos no segundo tema que é preciso necessariamente ser esclarecido: o que Maduro derrotou não foi uma direita “democrática”, movida por divergências de ideias, e sim uma direita abertamente terrorista, com tradição de promoção de golpes, subordinação extrema ao imperialismo, profundamente bandidesca e corrupta, exatamente da mesma matriz ideológica de Bolsonaro, Milei, Trump, etc.

Por duas vezes o campo da Revolução Bolivariana foi derrotado em eleições de âmbito nacional nos últimos 25 anos. Em dezembro de 2007, em um referendo em que Chávez propôs uma reforma da Constituição, resultado reconhecido e respeitado pelo governo. E em 2015, quando a oposição obteve uma grande vitória eleitoral, conquistando a maioria (56%) da Assembleia Nacional (o parlamento nacional venezuelano). Na ocasião, Maduro, que sucedeu a Chávez tendo sido eleito presidente em 2013, reconheceu a derrota assim que os resultados foram divulgados e chamou o parlamento eleito com maioria oposicionista a trabalhar em prol do país. A proposta foi rejeitada: “em menos de seis meses o governo Maduro será deposto”, prometeu o então presidente do parlamento.

Aliás, é bom lembrar que o golpe contra Chavez, em 2002, foi derrotado pela mobilização popular, e o saudoso presidente fez um chamamento à união nacional, dizendo que não haveria vingança, mas apuração dentro da lei sobre as responsabilidades de cada um que atentou contra a Constituição. No entanto, o promotor Danilo Anderson, responsável pela investigação, morreu em 2004, assassinado por um atentado à bomba no centro de Caracas. Pouco tempo antes, o ex-presidente de direita Carlos Andrés Péres havia dito o seguinte: “só resta a violência para derrubar Chávez. Ele deve morrer como um cachorro”. É disso que se trata, é esse tipo de enfrentamento que ocorre.

Por isso, é sem surpresa que assistimos a oposição anunciar que não reconhece a derrota, renovando as ameaças contra a estabilidade venezuelana. No entanto, essa extrema-direita venezuelana já não tem a mesma força de antes. O apoio a Nicolás Maduro e ao Grande Polo Patriótico é majoritário e a capacidade de mobilização da revolução bolivariana é superior ao da oposição, fatos reconhecidos por qualquer observador honesto. A Venezuela superou a crise de abastecimento, seu PIB registrou um aumento de 7% no primeiro trimestre deste ano, está com a menor inflação dos últimos 35 anos e segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) é a economia que mais vai crescer em 2024 na região. A alegação da extrema-direita de que venceu com 70% dos votos é alvo de discreto escárnio até mesmo de seus mais fiéis financiadores externos.

Um adendo: chega a ser constrangedor, se não fosse trágico, ver nossa mídia hegemônica indecisa em que tom adotar (mais ou menos virulento) sobre as eleições venezuelanas até que venha um sinal mais claro do centro do império.

Uma esquerda consequente não deve se alinhar apenas em torno de bandeiras “consensuais”. O caso da Venezuela é um divisor de águas entre os que de fato compreendem a importância vital da luta anti-imperialista e os que, conscientemente ou não, servem de linha auxiliar para outros interesses.

A democracia saí fortalecida com a reeleição de Nicolás Maduro e a defesa da Venezuela impõe-se como obrigação para todos e todas que empunham com sinceridade e coerência as bandeiras da luta contra a extrema-direita, pela soberania nacional e a integração solidária dos países latino-americanos.

Por Wevergton Brito Lima

 

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