Súmula Internacional 54 – Biden recebe Modi e propõe: “Vamos liderar o mundo”
Leia mais: Zyuganov – “Comemoramos 22 de junho enfrentando uma nova grande guerra” / Notícias da Guerra: A linha Surovikin / Lula denuncia incoerência da UE e insiste em nova moeda para o comércio internacional
O presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu em Washington, “com pompa e circunstância”, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Em cerimônia que o jornal Folha de S. Paulo descreve como “luxuosa”, Biden propôs sem rodeios: “Os desafios e oportunidades que o mundo enfrenta neste século requerem que a Índia e os EUA trabalhem e liderem juntos“, e afirmou ao importante convidado que a relação EUA-Índia “pode definir o século”. As palavras são grandiloquentes, mas correspondem ao ambicioso plano de Biden: atrair a Índia para seu arco de influência seria fraturar um Brics que cresce em força e prestígio e de quebra utilizar o gigantesco país como contraponto asiático à China. Ocorre que o correto diagnóstico de que o mundo multipolar permite maior margem de manobra às nações que buscam projetos próprios de desenvolvimento, encontra na Índia um modelo. Modi, que internamente é ultraconservador, usa habilmente as disputas geopolíticas em curso e evita compromissos definitivos, tendo sempre em conta o que julga ser o interesse do seu país. Mesmo com toda a lisonja de Biden, o primeiro-ministro indiano evitou ataques diretos a Moscou e voltará para casa carregado de tratados e concessões que não arrancaria do sovina anfitrião em ocasiões normais, inclusive uma rara transferência de tecnologia para fabricação de motores que permitirá à Índia produzir seus próprios aviões de combate, o que sem dúvida causará protestos de outro aliado estadunidense em tensão permanente com Nova Deli: o Paquistão. Um agradecido Modi declarou, segundo a Folha de S. Paulo, que “a visita traz uma ‘nova direção e uma nova energia’ para a ‘associação estratégica global’ com os EUA”. No entanto, é pouco provável que Narendra Modi abandone sua bem-sucedida estratégia de não alinhamento, até porque já sentiu na pele o que é o imperialismo. Antes de ser primeiro-ministro estava em uma lista de autoridades estrangeiras impedidas de pisar em solo estadunidense. E, além do mais, todos conhecem a noção de “liderança conjunta” dos EUA, que não passa do velho “eu mando e você obedece” embalado por música suave e um bom vinho à mesa.
Zyuganov: “Comemoramos 22 de junho enfrentando uma nova grande guerra”
Nesta quinta-feira (22) comemorou-se, na Rússia, o 82º aniversário do ataque da Alemanha nazista à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), marcando o início do que os russos chamam de “A Grande Guerra Patriótica” (1941-1945). Esta data é chamada de “Dia da Memória e da Dor pelos Defensores Caídos da Pátria”. Na ocasião, o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) – segundo maior partido russo -; a fração do PCFR na Duma Estatal (o Congresso Nacional da Rússia); o Comitê do PCFR da Cidade de Moscou; a União dos Oficiais Soviéticos; o Movimento de Apoio ao Exército; o Komsomol (Juventude Comunista); a Frente de Esquerda e outras organizações públicas do movimento patriótico da esquerda russa organizaram uma solenidade na Praça Vermelha depositando coroas e buquês de flores no Memorial ao Soldado Desconhecido e no monumento ao Marechal Zhukov. Na ocasião, o presidente do Comitê Central do PCFR, Gennady Zyuganov, proferiu importante discurso onde aborda, à luz das lições da luta soviética antifascista, o atual conflito na Ucrânia. Leia alguns trechos selecionados.
Zyuganov: Unir civilizações que trilhem caminhos soberanos
“Boa tarde, caros camaradas (…) devemos perceber que estamos comemorando este memorável triste dia nas condições de uma nova grande guerra. Hitler veio para nos matar. O capital o levantou para que ele pudesse reprimir o poder soviético, limpar e subjugar as vastas extensões da URSS. Hoje os anglo-saxões e a OTAN declararam guerra a todo o mundo russo. Quero lembrar que a civilização russa reuniu 190 povos e nacionalidades sem destruir uma única fé, uma única língua, uma única cultura. Hoje, a civilização russa está sob terrível pressão. Os anglo-saxões atacam os legados de Lenin e Stálin, diminuem ou distorcem nossa vitória em 1945, caluniam líderes militares e escritores russos. Nada menos do que 20 monumentos a Pushkin (famoso poeta, escritor e dramaturgo russo, falecido em 1837, n. do e.) foram recentemente demolidos por esses canalhas. Agora eles têm o poder, na Ucrânia (…) Naquela época (em 1941) tínhamos cerca de 20% do potencial mundial. Hoje a Rússia produz menos de 3% da economia mundial. E nossos adversários produzem quase 40%. A saída, portanto, é reunir uma coalizão de outras civilizações que se desenvolvam em seu próprio caminho histórico. Estas são as civilizações chinesa, indiana e persa”.
Zyuganov: Temos que vencer novamente!
“(…) Quero agradecer aos nossos lutadores que conquistaram uma vitória muito importante. Eles destruíram 250 tanques e quase 400 veículos blindados. Eles não permitiram que o inimigo chegasse nem à primeira linha de defesa. Para vencermos sempre, precisamos de um novo rumo, uma nova política, novos recursos financeiros, uma nova educação e a união de todas as forças que existem na sociedade. Recentemente, no fórum econômico internacional em São Petersburgo, vários fragmentos da era Yeltsin foram divulgados. Eles venderam nossa propriedade estatal nos anos 90 por menos de 3% do valor real. Agora eles se ofereceram para vender o que resta. Não podemos concordar com isso. Nossa equipe propõe uma política financeira e econômica diferente e um projeto de orçamento voltado para o desenvolvimento (…) Todos na minha família lutaram. O irmão mais velho do meu pai participou da Operação Bagration (grande ofensiva do Exército Vermelho na Bielorússia que marcou uma das maiores derrotas dos nazistas, n. do e.). Ele está enterrado em solo bielorrusso. Outro irmão de meu pai está enterrado na Ucrânia. Nós definitivamente venceremos se construirmos nossas vitórias. Acredito que Putin e Shoigu (ministro da Defesa russo, n. do e.) tenham no máximo 3 a 4 meses para mobilizar todos os recursos, unir a sociedade e impedir essa invasão. Caso contrário, a guerra pode demorar mais para se desenvolver. E então as tropas da OTAN entrarão. Isso pode interromper nosso desenvolvimento por muito tempo e sangrar a Rússia. Em 1943, houve uma virada na Grande Guerra Patriótica. Em seguida, conquistamos grandes vitórias (…) Estamos todos trabalhando para a vitória. Nosso trabalho com certeza será coroado de êxito. Temos que vencer novamente. Estou certo de que os comunistas, os únicos na história que derrotaram o fascismo, voltarão a dar o exemplo. Viva o nosso povo, que sempre derrotou com honra o fascismo e o nazismo e se mobilizou nos momentos mais difíceis!”.
Notícias da Guerra: A linha Surovikin
Muitos analistas atribuem o fracasso (ao menos inicial) da contraofensiva ucraniana à chamada linha defensiva Surovikin. O site MPR21 entrevistou o general libanês aposentado, Amin Hteyt, sobre o assunto. Segundo o general os assaltos ucranianos falharam devido a este sistema sem precedentes, que combina posições fortificadas e defesas móveis. A linha é composta por pontos de defesa e de ataque, que pegaram os atacantes ucranianos de surpresa e “semearam pânico” em suas fileiras, explica o especialista militar. “Essa linha tem um método de defesa inédito e único na história; é baseada em um plano sequencial que leva em consideração todos os ataques e ações possíveis do inimigo […] A linha é baseada em uma defesa constante e móvel ao mesmo tempo. É eficaz não apenas em áreas fortificadas, mas também oferece vantagens em termos de tiro e apoio às tropas quando elas se movem em profundidade”, diz Hteyt. O sistema Surovikin permite a implantação de uma intensidade constante de fogo que impede o avanço do adversário. A mobilidade e adaptabilidade das diferentes linhas igualmente são uma vantagem significativa. “A linha é caracterizada por um nível sem precedentes de intensidade de fogo e a capacidade de se mover em três direções ao mesmo tempo. Isso permitiu que as forças ucranianas fossem destruídas em vários pontos. Não há possibilidade de quebra, já que todas as linhas existentes se adaptam à ofensiva e a contêm de forma extremamente eficaz”, explica Hteyt.
Lula denuncia incoerência da UE e insiste em nova moeda para o comércio internacional
A viagem do presidente Lula à Europa, que começou com sua chegada à Itália nesta terça-feira (20) está sendo repleta de momentos significativos e abordagens corajosas por parte do presidente brasileiro, solidificando o papel de liderança internacional de Lula e mais do que isso, reconstruindo em pouco tempo todo o estrago que o desastroso governo Bolsonaro provocou na imagem do país. Nesta sexta-feira (23) Lula fez mais um importante discurso. Ao falar na Cúpula do Novo Pacto Global de Financiamento, abordou as negociações para o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). O presidente rejeitou os adendos propostos pela UE. Recapitulando: em 2019, depois de dez anos de debate, encerraram-se as negociações comerciais e em 2019 finalizaram-se as tratativas relacionadas a aspectos políticos e de cooperação. Ou seja, o acordo UE-Mercosul estaria pronto, em tese, para ser ratificado pelos respectivos parlamentos nacionais. Ocorre que a UE posteriormente enviou ao Mercosul um documento com “instrumentos adicionais” a serem acrescentados ao acordo. Esses aditivos, que revelam uma mentalidade colonial, preveem sansões contra (e apenas contra) os países da América do Sul que não cumpram determinadas metas ambientais. Sobre isso, disse Lula em seu discurso, mais uma vez pondo o dedo na ferida: “Estou louco para chegar a um acordo com a União Europeia. Mas não é possível, a carta complementar feita pela União Europeia não permite que seja feito um acordo. Faremos a resposta e enviaremos a resposta, mas precisamos começar a discutir (…) não é possível que tenhamos uma associação estratégica, e há uma carta adicional que ameaça um parceiro estratégico”. Também em seu discurso, no qual abordou a desigualdade e a fome, Lula voltou a defender a criação de uma moeda alternativa para que os países envolvidos em uma transação comercial sem a participação dos Estados Unidos não precisem depender do dólar. “Algumas pessoas ficam assustadas quando falo em criar novas moedas em novos negócios. Não sei por que Brasil e Argentina têm que negociar em dólares, porque as pessoas não podem fazer isso em nossas moedas? Não sei por que Brasil e China não podem fazer comércio em nossas moedas, por que tenho que comprar dólares?“, questionou. Com informações da Prensa Latina.
Por Wevergton Brito Lima
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