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A carta de Zyuganov (PC da Federação Russa) a Putin e Lukashenko

Nesta quarta-feira (2), Gennady Zyuganov, presidente do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), segundo partido mais importante da Rússia, enviou uma carta aos presidentes Vladimir Putin (Federação Russa) e Alexander Lukashenko (Bielorrússia). Nela, o dirigente comunista faz um apelo à união dos dois povos irmãos: “a dura questão que enfrentamos é a da sobrevivência, a preservação da paz civil e a salvação de nosso Estado, que está sendo ameaçado, cada vez mais abertamente, por inimigos externos liderados pelas elites políticas, financeiras e militares dos Estados Unidos”. Leia, abaixo, a íntegra da carta.

União fraterna entre a Rússia e a Bielorrússia: garantia de bem-estar e segurança de nossos povos

Apelo do Presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), Líder do PCFR na Duma Estatal, Gennady Zyuganov, ao Presidente da Federação Russa Vladimir Putin e ao Presidente da República da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.

Para: O Presidente Putin da Federação Russa

Para: O Presidente Lukashenko da República da Bielorrússia

A união dos povos da Rússia e da Bielorrússia vive um momento histórico. Nossa fraternidade centenária de lutas, vitórias e convivência está sofrendo engendrados ataques internos e externos. As mesmas forças que estão destruindo a unidade dos povos da Rússia e da Ucrânia agora também executam os seus maus desígnios nas relações entre a Rússia e a Bielorrússia.

Estamos convencidos de que uma união duradoura entre nossos países é a base da segurança econômica, política e militar, o elemento-chave da segurança dos membros da Comunidade de Estados Independentes e da União Econômica da Eurásia, o que nos impõe uma responsabilidade especial.

O ataque cínico contra a Bielorrússia está planejado há algum tempo. Hoje está ligado às eleições presidenciais de 9 de setembro de 2020. Seu objetivo estratégico é destruir a condição de Estado da Bielorrússia e nossa união e, assim, enfraquecer todos os países da CEI e cortar seus laços de integração.

Em maio deste ano, publiquei um artigo-manifesto: “O núcleo do poder russo”, dedicado à irmandade milenar dos povos que se tornou o núcleo do mundo russo, às suas realizações notáveis coroadas com a grande era soviética. Abrange também os difíceis desafios que enfrentamos hoje.

Este trabalho é dirigido tanto à liderança da Rússia quanto aos Chefes de Estado unidos por um destino histórico comum e uma aliança de longa data. A destruição da URSS, a maior catástrofe mundial, infligiu pesados danos aos povos eslavos, violando sua integridade territorial e ameaçando sua comunidade política, socioeconômica e cultural.

A dura questão que enfrentamos é a da sobrevivência, a preservação da paz civil e a salvação de nosso Estado, que está sendo ameaçado, cada vez mais abertamente, por inimigos externos liderados pelas elites políticas, financeiras e militares dos Estados Unidos. Isso acontece na forma de sanções econômicas, guerra de informação e forte pressão política ao longo das nossas fronteiras. O destino da Rússia e de todos os povos que vivem no antigo território soviético depende da solução deste problema.

As declarações e iniciativas dos líderes russos e bielorrussos demonstraram repetidamente que estão cientes da seriedade dos desafios modernos. Todas as pessoas com mentalidade patriótica compreendem que só podemos dar-lhes uma resposta adequada se confiarmos nas estreitas relações aliadas e defendermos os nossos interesses comuns. Essa aspiração formou a base do Estado União Rússia-Bielorrússia. Sua criação foi o passo fundamental para superar as consequências do desastroso conluio Belovezhskaya de 1991.

No caminho de nossas aspirações fraternas estão os interesses egoístas do capital transnacional sintetizados pelos EUA e seus aliados da OTAN. Na tentativa de evitar que o capitalismo global se afunde em uma crise em grande escala, utilizam-se de diversos mecanismos das guerras híbridas, ampliam sua expansão e fomentam o caos administrado. Os tentáculos deste polvo já dominaram a Ucrânia, a camarilha de Bandera assumiu o poder em Kiev a fim de impor a escravidão econômica ao país fraterno, fortalecer a aliança contra a Rússia na Europa Oriental e formar o “cordão sanitário Báltico-Mar Negro”.

A Bielorrússia é o novo alvo da globalização. Os adversários do poder legitimamente eleito devem desempenhar o mesmo papel que a “lepra laranja” na Ucrânia. Não é por acaso que foram levados a erguer a bandeira que as autoridades nazistas já reconheciam como a bandeira oficial no território da Bielorrússia, ocupado em 1942. Hoje vemos tentativas de conduzir o povo que desafiou os invasores nazistas pelo caminho da colonização e destruição da economia e da cultura. Como de costume, isso está sendo feito sob o pretexto de tornar o país parte do “mundo livre”.

A Bielorrússia teve sucesso não apenas em preservar, mas também em aproveitar o melhor da experiência soviética. Ao longo do último quarto de século, tem aumentado constantemente seu potencial econômico. Se as forças antinacionais, seguindo o exemplo dos “mentores” em Washington, Varsóvia e Vilnius, conseguirem destruir essas conquistas únicas, será o fim do jovem estado da Bielorrússia. Seria também um duro golpe aos interesses da Rússia, privando-a de um aliado muito importante e confiável no continente, o que ameaçaria a segurança e a estabilidade em todo o espaço eurasiano.

Se quisermos evitar que esses planos destrutivos se tornem realidade, cabe-nos passar das declarações e protocolos às medidas concretas, às ações decisivas urgentes. Devem ter por objetivo o fortalecimento da União Rússia-Bielorrússia, tanto quanto possível. É urgente intensificar as atividades das instituições em todos os campos. Estou convencido de que esta é a tarefa prioritária das autoridades russas. As formas de cumprir esta tarefa devem ser buscadas em conjunto com a liderança da Bielorrússia. A questão deve ser discutida nas primeiras sessões do Conselho de Segurança da Rússia, da Duma e do Conselho da Federação. Deve ser elaborado um programa bem definido de interação política, econômica, social, científica e cultural dos Estados irmãos, em face de uma ameaça histórica.

O PCFR e as forças patrióticas populares na Rússia estão convencidas de que o programa de ação deve incluir as seguintes medidas:

– Tornar prática regular as sessões conjuntas dos governos russo e bielorrusso. Garantir o funcionamento eficaz do parlamento da União Rússia-Bielorrússia, colocando seu trabalho em uma base permanente. Criação de um fundo comum para o desenvolvimento do Estado da União. Todos os órgãos governamentais dos dois países são chamados a elaborar e implementar decisões estratégicas e táticas comuns em tempo hábil. Estamos convencidos de que os órgãos parlamentares de nossos países podem ser mais ativos.

– Ampliação da cooperação econômica mutuamente benéfica. Esta deve ser a base de relações duradouras. É necessária uma análise calma e objetiva de toda a gama de nossos vínculos comerciais e econômicos. Já é tempo de resolver os problemas nesta esfera.

– Fortalecimento máximo da interação entre as regiões da Rússia e da Bielorrússia e cidades irmãs com a criação de uma ampla rede de empresas mistas. Isso se aplica, acima de tudo, a áreas como eletrônica, agricultura, indústria têxtil, esferas nas quais tivemos muito sucesso nos anos soviéticos. A experiência acumulada deve ser revivida e desenvolvida. Um exemplo convincente é a empresa russa-bielorrussa Belkommash-Sibir, para a produção de bondes, criada pelo prefeito comunista de Novosibirsk, Anatoly Lokot.

– Aumento significativo de vagas em estabelecimentos de ensino superior russos para alunos da fraterna Bielorrússia. Não podemos permitir que a iniciativa neste domínio escape das nossas mãos, enquanto a Polônia ativamente tem jovens bielorrussos matriculados em suas universidades. Ações agressivas dos campeões da “liberdade”, sob a bandeira dos ocupantes nazistas, são uma indicação eloquente do que as universidades de Varsóvia e Cracóvia ensinam. O núcleo dos ativistas são formados por aqueles que assistiram ao “curso de palestras” dos nacionalistas que acalentam os sonhos imperiais de reviver a Rzeczpospolita, cujos nobres não consideravam os bielorrussos seres humanos e os tratavam como escravos sem direitos.

– Organizar estágios regulares para jovens cientistas talentosos na Academia Russa de Ciências nos principais centros de ciência em Moscou, Akademgorodok de Novosibirsk (Cidade das Ciências) e outras regiões do nosso país. Treinamento no local de trabalho para especialistas russos em empresas líderes da Bielorrússia, cuja produção bem-sucedida e experiência social merecem ser utilizadas na Rússia. Basta mencionar a Fábrica de Trator de Minsk, que monta um em cada três tratores na Europa e um em cada dois tratores na Rússia.

– Criação de equipes de construção estudantil russo-bielorrussa para fomentar o vínculo entre as jovens gerações dos dois povos irmãos. Um excelente exemplo é o dos membros da Liga dos Jovens Comunistas da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, que têm experiência em projetos conjuntos de construção.

– Expansão significativa das atividades de diplomacia entre os povos. É preciso atrair um amplo espectro de forças sociais em nossos países para os processos de integração de acordo com o princípio: “Quanto mais forte a base, mais forte é a construção”. O governo russo deve valorizar o papel do Rossotrudnivhestvo (Agência Federal para Assuntos da Comunidade de Estados Independentes – NT) e contribuir ativamente para a implementação de seus programas.

– Trabalho concertado da Rússia e da Bielorrússia para combater o Covid-19. A coordenação das medidas preventivas deve ser combinada com o fornecimento de vacinas antivírus de fabricação russa a todos os cidadãos do Estado da União.

– Aprofundamento da cooperação em defesa. O Exército da República da Bielorrússia é uma confiável proteção para as próprias fronteiras e as da Rússia. E esta é a área mais perigosa. A Rússia poderia fazer uso mais ativo do potencial da indústria de defesa de alta tecnologia da Bielorrússia. Ao apoiar o andamento da substituição de importações, devemos estar cientes de que os complexos da indústria de defesa da Rússia e da Bielorrússia estão há muito profundamente integrados.

– Amplo uso de nosso potencial cultural, linguagem comum, tradições, conquistas históricas. Apoio aos meios de comunicação que contribuam para o fortalecimento dos vínculos entre os nossos povos e a interação entre os dois países. Acreditamos que a Rússia deve articular sua posição em relação aos meios de comunicação que têm o apoio do Estado e das corporações estatais e estão do lado das forças anti-russas. Acreditamos que também a Bielorrússia precisa examinar mais de perto as atividades provocativas de alguns veículos de comunicação que assumem uma posição russofóbica.

Exorto vocês, queridos Vladimir Vladimirovich (Putin) e Alexander Grigoryevich (Lukashenko), a tomarem as medidas adequadas para remover quaisquer obstáculos no caminho das nossas relações. Para garantir que o enorme potencial da nossa cooperação seja totalmente utilizado. Não há dúvida de que essa medida contaria com o sólido apoio dos nossos povos, os patriotas da Rússia e da Bielorrússia.

Permitam-me enfatizar novamente: a amizade entre a Rússia e a Bielorrússia, o fortalecimento do jovem Estado da Bielorrússia e do Estado da União como um todo são as garantias de nossa sobrevivência comum e de um desenvolvimento bem-sucedido.

Devemos estar cientes de que o mundo está entrando em um período de convulsões políticas e socioeconômicas, desencadeadas pela crise irreversível do projeto estadunidense de expansão global neoliberal. Com os Estados Unidos à beira de uma verdadeira guerra civil, a turbulência está se tornando ainda mais perigosa. As eleições presidenciais nos EUA podem desencadear uma nova espiral. A perspectiva de colapso das bases políticas, financeiras e econômicas do capitalismo global está emergindo na agenda mundial. Para nos mantermos firmes no ponto de inflexão histórico, para não sermos enterrados sob os escombros de um sistema decrépito, para garantir nossa independência e desenvolvimento – nossos povos devem estar em estreita aliança um com o outro.

Gostaria de lembrar àqueles que empurram a Bielorrússia para o caos e ensaiam o cenário de um Maidan russo em suas cidades, humilham nossa pátria, difamam nosso passado comum, zombam de nossos feitos heroicos e insultam o mundo russo que estão brincando com fogo! Os russos e os bielorrussos acalentam os ideais de justiça, detestam os princípios da ganância e do oportunismo. Enquanto o grande espírito da Vitória estiver vivo em nós, seremos capazes de fugir de qualquer inferno e escuridão, superar qualquer crise e alcançar novas vitórias históricas.

Nós – bielorrussos, ucranianos e russos – temos raízes comuns e alcançamos grandes sucessos juntos. Se mantivermos nossa razão e alma, nenhum inimigo será capaz de enterrar nossa antiga irmandade, a unidade inquebrantável e um futuro digno!

Gennady Zyuganov

Presidente do CC do PCFR

Líder do PCFR na Duma de Estado

Tradução: Redação do i21

 
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