1949-2019: 70 anos de uma nova etapa da civilização chinesa
China é um país com raízes profundas e seiva própria. É um país que se sustenta e caminha com os seus próprios pés, procurando sempre soluções próprias para os seus mais diversos desafios. É uma civilização que vem sendo construída de maneira ininterrupta por mais de 5 mil anos pela força e sabedoria do seu povo.
Por José Medeiros da Silva*
Aliás, o que melhor explica a força dessa continuidade é a sua capacidade de se renovar, adaptar-se aos tempos e às circunstâncias, mas sem se desconectar dessa sua seiva ancestral, que não apenas a alimenta, mas que a projeta para um horizonte mais perene estampado em conceitos-chave da sua cultura como prosperidade, harmonia e paz.
Esses são elementos básicos para adentrarmos em uma China bem maior do que algumas grandezas ou apequenamentos superficiais e transitórios.
E agora, nessa primeira semana de outubro de 2019 a China está em festa, comemorando 70 anos de uma nova etapa nessa sua longa caminhada civilizacional. Uma comemoração, mais do que merecida, diga-se de passagem. Por que?
Ah, porque desde o dia primeiro de outubro de 1949 a chineses reencontraram, mais uma vez, uma maneira própria de sair de um período de caos que já durava mais de cem anos. “Cem anos de humilhação”, como costumam enfatizar ao se referirem a um período de invasões e guerras perpetradas por várias nações estrangeiras, como as humilhantes Guerras do Ópio (1839 – 1842 e 1856 -1860) travada em Hong Kong pelos ingleses.
Disso certamente lembrava Mao Zedong, principal líder da primeira etapa de restauração da dignidade chinesa, quando reafirmava diante de uma grande multidão naquele histórico 1º de Outubro de 1949: “De agora em diante o povo chinês está de pé”.
Verdade, a China estava novamente de pé, mas tinha diante de si uma nova longa marcha. O primeiro passo era a restauração física do país e para isso era necessário pensar uma industrialização voltada para o fortalecimento do estado. E apesar dos muitos percalços, esse objetivo central foi exitosamente atingido.
Sem esse passo em defesa da soberania não se poderia dar o passo seguinte, iniciado sob a liderança de Deng Xiaoping no início da década de 80. “Enriquecer é glorioso”, dizia Xiaoping, como que estimulando o povo para a grande tarefa de restauração material do país, onde questões básicas de alimentação e vestuários ainda precisavam ser resolvidas para uma parcela enorme da população. E resolveram. Hoje esse é um problema praticamente superado.
Agora, transcorridos 70 anos, sob a batuta do presidente Xi Jinping, o maior desafio da China não é o do crescimento material, mas o de revitalização desse seu legado civilizacional. E isso “é um desafio do tamanho da Montanha Tai” (uma das cinco montanhas sagradas da China), como o presidente Xi Jinping gosta de mencionar. Sim, realmente é um grande desafio, principalmente em um mundo tão complexo como o que vivemos. Mas a China aprendeu a caminhar… Vejo isso muito claramente no dia a dia do povo chinês e, especialmente, nas suaves pinceladas da minha esposa Ningning.
* José Medeiros da Silva é um potiguar que há 12 anos vive na China. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, na China