Acenos de Washington a Cuba e Venezuela: Insuficientes mas significativos
Nos últimos dias, o governo de Joe Biden anunciou pequenas concessões no apertado bloqueio econômico que os EUA mantêm há quase seis décadas contra Cuba: eliminou o limite de remessas trimestral de mil dólares, restabeleceu voos comerciais do território dos Estados Unidos para várias cidades da ilha e se ofereceu para agilizar o processamento de vistos para fins de reagrupamento familiar.
Para retornar a situação ao ponto em que estava quando Donald Trump chegou à Casa Branca – que seria o ponto a partir do qual a normalização das relações bilaterais poderia avançar – Washington teria que reverter a inclusão de Havana na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo.
De resto, são medidas insuficientes para aliviar o cerco econômico imoral e prolongado, mas na situação atual são significativas.
Poucas horas depois se soube que os Estados Unidos vão autorizar o início das negociações entre a petrolífera Chevron e a estatal venezuelana PDVSA, como forma de promover o retomada do diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e as formações da oposição.
Outro elemento neste contexto é a proliferação no continente de vozes discordantes com a determinação de Washington de excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua da cúpula hemisférica convocada por Biden e que deve ser realizada em Los Angeles no próximo mês.
Embora por outros motivos que não os do presidente do México Andrés Manuel López Obrador, que condicionou sua participação na Cúpula das América a não exclusão de qualquer país, seu homólogo guatemalteco, Alejandro Giammatei, também anunciou nesta terça-feira (17) que não comparecerá à reunião, após críticas norte-americanas à nomeação de Consuelo Porras como procuradora-geral do país centro-americano, acusada de corrupção pela casa Branca.
Honduras e os 14 membros da Comunidade do Caribe decidiram não participar da reunião em solidariedade a Havana e Caracas. Por sua vez, o presidente chileno, Gabriel Boric, conhecido por suas posições críticas em relação aos governos de Cuba e Venezuela, defendeu a necessidade da inclusão de ambos os países na cúpula de Los Angeles.
Posição semelhante foi adotada nos últimos dias pelo presidente argentino, Alberto Fernández, enquanto o brasileiro Jair Bolsonaro ainda não decidiu se vai ou não.
Apesar de os pequenos gestos de Biden para Cuba e Venezuela obedecerem a lógicas diferentes e únicas, é impossível não ver a coincidência entre a crescente rejeição das políticas arbitrárias de Washington no continente e as súbitas concessões feitas pelos Estados Unidos a essas nações, concessões que, é preciso reiterar, são completamente insuficientes.
As sanções econômicas devem ser suspensas em sua totalidade porque são imorais e injustas, causam crises econômicas permanentes nas nações que delas são vítimas, geram sofrimento e privação nas respectivas populações e, em última análise, são completamente ineficazes, como evidenciado pelo prolongado bloqueio contra a revolução cubana, que durante 60 anos não conseguiu induzir mudanças significativas na ilha.
Diante desses fatos, é desejável que os países localizados no sul dos Estados Unidos intensifiquem a exigência de que a superpotência abandone sua política excludente e ilegal, concorde em conviver e dialogar com governos de diferentes orientações e abandone de uma vez por todas suas pretensão de ditar a outros países a forma como devem ser governados.
Fonte: Editorial do site La Jornada