Putin, em Davos: “Globalização beneficiou 1% da população mundial”
O presidente russo Vladimir Putin afirmou, nesta quarta-feira (27), em sua participação no Fórum de Davos, que a pandemia de coronavírus acelerou mudanças estruturais na economia e política mundiais que começaram ainda antes dela e denunciou um processo de globalização que beneficia poucos: “A globalização levou a um aumento considerável do lucro das grandes transnacionais, antes de tudo, empresas americanas e europeias […] Se falarmos do lucro das empresas, quem ficou com os ganhos? A resposta é conhecida e óbvia – 1% da população [mundial]. E o que aconteceu na vida das outras pessoas?”.
Durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, realizado em formato de videoconferência, o presidente da Rússia destacou as mudanças econômicas e políticas que o mundo tem apresentando nos últimos tempos.
“É difícil não perceber as transformações profundas na economia e política global, na vida social e tecnologias. A pandemia do coronavírus, que se tornou um desafio sério a toda a humanidade, só aumentou e acelerou as mudanças estruturais, cujas premissas já se formaram há muito […] Esta pandemia agravou os problemas e desequilíbrios que já se tinham acumulando antes no mundo”, disse o presidente.
Putin também frisou a questão da desigualdade social no mundo.
“Nós vemos uma crise de modelos anteriores e dos instrumentos do desenvolvimento econômico, o fortalecimento da desigualdade social tanto a nível global quanto em determinados países. Nós falamos disso antes, mas hoje isso gera uma polarização repentina das visões sociais, provoca o crescimento do populismo, do radicalismo de direita e de esquerda e outros extremismos”, acrescentou.
Tendo em vista os problemas já citados, Putin acredita que o cenário mundial atual relembra os anos 30 do século passado.
“Obviamente que na história não há paralelos, mas, segundo alguns especialistas, e eu respeito a opinião deles, correlacionam a situação atual com os anos 30 do século passado. Pode-se concordar ou não com tal comparação, mas em muitos parâmetros, como a escala e o caráter sistêmico e integrado dos desafios, das ameaças potenciais, pode se estabelecer uma determinada analogia”, afirmou.
Para estimular o crescimento econômico global, a iniciativa estatal tem um papel importante. Putin acredita que isso será possível em grande parte tendo por base estímulos orçamentários estatais, assim como o apoio dos bancos centrais. Contudo o processo deverá ser feito com interação entre os Estados.
O aumento dos problemas sociais e econômicos fraturam a sociedade, criando tensões e intolerância, visto que esses problemas criam “tal insatisfação social, que isso exige uma atenção especial e que os problemas sejam resolvidos em sua essência”.
Companhias digitais versus Estado
Considerando o desenvolvimento tecnológico mundial e a presença de grandes empresas das tecnologias digitais, Putin disse:
“Os gigantes tecnológicos, sobretudo digitais, têm um papel cada vez mais importante na vida da sociedade. Hoje se fala muito sobre isso, especialmente em relação aos eventos que ocorreram na campanha pré-eleitoral nos EUA. E elas já não são simples gigantes econômicos, em diferentes áreas elas já são de fato concorrentes do Estado.”
“Mas do ponto de vista das próprias empresas sua posição monopolista é a ideal para a organização dos processos tecnológicos e comerciais. Talvez seja assim, mas na sociedade surge a questão de quanto tal monopolismo corresponde aos interesses sociais. Onde está o limite entre os negócios globais bem-sucedidos, os serviços necessários, a consolidação dos macroindicadores e as tentativas de controlar grosseiramente, usando seu arbítrio, a sociedade, de substituir os institutos democráticos legítimos e, em essência, usurpar ou limitar os direitos naturais da pessoa de decidir como viver, o que escolher, qual opinião expressar livremente”, acrescentou.
‘Globalização enriqueceu empresas dos EUA e Europa’
Analisando dados econômicos das últimas décadas, a globalização impulsionou os ganhos das empresas transnacionais, segundo o presidente russo.
“A globalização levou a um aumento considerável do lucro das grandes transnacionais, antes de tudo, empresas americanas e europeias […] Se falarmos do lucro das empresas, quem ficou com os ganhos? A resposta é conhecida e óbvia – 1% da população [mundial]. E o que aconteceu na vida das outras pessoas? Nos últimos 30 anos, em diversos países desenvolvidos a renda real de mais da metade dos cidadãos ficou estagnada, não cresceu, mas o custo dos serviços de educação e saúde cresceram, e sabem quantas vezes? Em três vezes”, afirmou.
Extensão do tratado Novo START
No mesmo dia (27), foi anunciada a prorrogação por cinco anos do tratado Novo START, o qual estabelece limites aos arsenais nucleares dos EUA e da Rússia.
O acordo, que vai vigorar até 5 de fevereiro de 2026, também foi sujeito a comentários do presidente.
“Sem dúvida, isso é um passo na direção correta, mas mesmo assim as contradições se desenrolam, como se diz, em espiral”, declarou.
Pandemia
Enquanto a Rússia foi o primeiro país a registrar uma vacina contra o coronavírus, a Sputnik V, Moscou tem defendido a cooperação mundial no combate à pandemia.
Para tanto, Putin defendeu maior cooperação no combate à COVID-19 em uma região em específico – a África.
“Deve-se prestar ajuda aos Estados que precisam de apoio, incluindo africanos […] Estou falando do aumento dos volumes de testes e de realização da vacinação. Nós vemos que a vacinação em massa está hoje disponível antes de tudo aos cidadãos dos países desenvolvidos, enquanto centenas de milhões de pessoas no planeta estão desprovidas até da esperança de [receberem] tal proteção.”
Fonte: Sputnik News