Trump na França: Os aliados cada vez mais longe
O presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou em sua visita à França o que várias fontes consideram como um isolamento cada vez mais pronunciado, e voltou a se colocar no centro das controvérsias.
Apesar de não ter um papel protagonista no ato realizado em Paris neste domingo pelo centenário do armistício que encerrou a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ele foi alvo de críticas de líderes europeus e condenado por comentários no Twitter e por seu comportamento em território gaulês.
Com seu discurso neste evento, o líder anfitrião, Emmanuel Macron, atacou o nacionalismo, a doutrina defendida por Trump com sua política de “Estados Unidos primeiro”.
“O nacionalismo é uma traição ao patriotismo. Ao dizer ‘primeiro os nossos interesses, o que importam os demais?’, apagamos o que uma nação aprecia mais, o que lhe dá vida, o que a torna excelente e essencial: seus valores morais, disse o presidente francês durante a cerimônia no Arco do Triunfo.
Precisamente Trump, para quem essas palavras pareciam mais dirigidas, foi a nota dissonante do ato, ao chegar atrasado, quando as dezenas de líderes internacionais convidados já estavam em seus postos.
De fato, o presidente dos EUA fez sua entrada separada de outros líderes estrangeiros, muitos dos quais, incluindo Macron; a chanceler federal alemã, Angela Merkel; e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, reuniram-se no Palácio do Eliseu antes de irem juntos para o Arco do Triunfo.
O chefe da Casa Branca esteve presente no almoço oferecido pelo anfitrião em homenagem às delegações presentes, embora ele também tenha chegado a essa reunião com um atraso de meia hora.
Depois disso, ele não participou do Fórum pela Paz, organizado pelo governo francês, uma reunião destinada a promover o multilateralismo e da qual participaram mais de 70 chefes de Estado e de governo.
Tal gesto do estadunidense foi visto por alguns meios de comunicação e analistas como um boicote das comemorações internacionais pelo fim da guerra, bem como uma atitude de desprezo em relação a um encontro onde temas de interesse global eram discutidos.
A chanceler federal alemã, convidada por Macron para fazer o discurso inaugural do Fórum, também alertou sobre o perigo de “um nacionalismo míope”.
Logo no início do Fórum, Trump chegou ao cemitério dos EUA em Suresnes, localizado a oeste de Paris, e lá fez um discurso de cerca de 10 minutos exaltando o desempenho dos americanos na Primeira Guerra Mundial.
Este ato veio um dia depois de ter recebido fortes críticas por cancelar uma visita ao cemitério de Bois Belleau, no norte da França, onde restos de americanos descansam, “devido às dificuldades logísticas e de programação causadas pelo clima”, segundo o que foi alegado.
A chuva de sábado não impediu o chefe de equipe de Trump, John Kelly; e o chefe do Estado-Maior Conjunto, Joseph Dunford, de fazer um tour pelo local; nem que Macron, Merkel e Trudeau participassem de atividades desse tipo.
Milhões de pessoas morreram para proteger o mundo livre durante a Primeira Guerra Mundial, e Trump não pode se incomodar para honrar suas memórias. Em vez disso, ele escolheu se sentar em um hotel e twittar ao vivo na Fox News, disse o congressista democrata Don Beyer.
A essas controvérsias se uniram aquelas geradas pelo presidente no Twitter tanto em questões internacionais quanto domésticas.
Na sexta-feira passada, poucos minutos depois de chegar a Paris para a viagem que terminou nesta último domingo, ele publicou um tweet no qual descreveu como “muito insultantes” as propostas de Macron sobre a criação de um exército europeu que garantiria maior soberania à região.
De solo europeu também provocou a ira de vários setores norte-americanos ao dizer que os incêndios devastadores na Califórnia são causados por um mau manejo florestal naquele estado; e alimentou as tensões eleitorais acusando os democratas de tentar cometer fraudes na Flórida.
Por outro lado, cerca de 1.500 franceses se reuniram na Praça da República de Paris para protestar contra sua presença naquela capital.
“Líderes mundiais desprezam Trump e sua visão nacionalista”, “Trump recebe frias boas-vindas dos residentes em Paris”, “Trump, o ‘nacionalista’, se afastou dos demais”, foram algumas das manchetes usadas na mídia dos EUA para falar sobre a visita.
De acordo com um artigo de opinião no The Washington Post, a conclusão geral que muitas pessoas fizeram sobre a viagem foi a de que se viu um presidente isolado do mundo, que parecia “aposentado e sem entusiasmo no cenário global”.
Ele estava muito sozinho em Paris neste fim de semana, isolado dos líderes europeus e aliados tradicionais do país, enquanto continuava com sua agenda “dos Estados Unidos primeiro”, disse o portal digital Político.
De Macron à chanceler Merkel e ao primeiro-ministro Trudeau, a mensagem parecia clara: Trump está levando os Estados Unidos a uma direção mais isolada, enquanto os aliados se reúnem para rejeitá-lo, estimou a publicação.
Fonte: Prensa Latina, tradução da redação do i21