Visão Global

Venezuela avança no calendário eleitoral e nas negociações entre governo e oposição

Depois de 20 anos, representantes do governo venezuelano participaram de uma assembleia da Federação de empresários do país

Guaidó perde força dentro da oposição, que se prepara para mesas de negociação em agosto no México.

Por Michele de Mello, de Caracas

Reencontro, diálogo e reconciliação são algumas das palavras mais presentes nos discursos de representantes do governo e da oposição na Venezuela. À medida que avança o calendário eleitoral, o país parece abandonar o passado de conflitos.

Apesar dos últimos planos desestabilizadores revelados pelo governo bolivariano, uma série de eventos comprovam que existe disposição da maioria do setor opositor em conversar e retomar a institucionalidade do país.

Na última quinta-feira (22), durante transmissão televisiva em cadeia nacional, o presidente Nicolás Maduro reiterou que está “pronto para iniciar as mesas de diálogo no México”. A previsão é que as rodadas de negociação comecem em agosto.

Também nesta semana, a vice-presidenta Delcy Rodríguez participou da 77ª assembleia nacional da Federação de Câmaras e Associação de Comércio e Produção Nacional (Fedecâmaras), depois de 20 anos sem um convite a representantes do governo bolivariano. A vice-presidenta também propôs uma mesa de negociação em defesa da produção nacional.

Este é o caminho: a participação de setores econômicos privados para desenvolver as potencialidades produtivas que a Venezuela possui. Sigamos juntos apostando pelo diálogo político para construir soluções a todos os venezuelanos“, declarou Rodríguez.

O recém-eleito presidente da Fedecâmaras, Carlos Fernández também discursou afirmando que a reaproximação é um meio para gerar soluções à crise.

Não vejo futuro para o país se não assumimos com seriedade um processo profundo de negociação entre todas as partes“, declarou durante a 77ª Assembleia.

De acordo com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), a economia venezuelana retraiu 18% em 2020. Segundo projeções da empresa Ecoanalítica, a inflação acumulada ao final de 2021 deve rondar 1.000%, apesar de continuar alta, seria metade do índice de 2020.

Apesar das críticas de grupos de extrema-direita da oposição venezuelana, o setor próximo ao ex-deputado Juan Guaidó parece cada vez mais isolado no cenário político nacional.

Com o boom de lojas de produtos importados, associação de empresários afirma que há concorrência desleal com produção nacional / Foto: Fedecamaras

Novas denúncias

O extremismo de Guaidó, somado às denúncias de corrupção do governo paralelo fazem com que até seus apoiadores exijam maior transparência sobre o uso do dinheiro venezuelano depositado em contas públicas no exterior.

Em abril, a equipe de Guaidó enviou um documento ao Departamento do Tesouro dos EUA pedindo os desbloqueio de US$ 53, 2 milhões (cerca de R$265 milhões) para financiar seus supostos funcionários. No entanto, o governo do autoproclamado não controla instituições ou território, tampouco possui algum tipo de sede física que justifique os gastos milionários.

Agora em julho, a Agência de Cooperação Internacional dos Estados Unidos (Usaid) publicou um relatório afirmando que não sabe qual foi a aplicação dada para 507 milhões de dólares enviados entre 2017 e 2019 para ONGs coordenadas por opositores venezuelanos – metade seria para ajuda humanitária e a outra metade para atender os imigrantes. No entanto, a Usaid indica que somente 2% do montante foi efetivamente aplicado.

O valor representa o dobro dos fundos que a Organização das Nações Unidas (ONU) solicita para realizar programas sociais com 2,6 milhões de venezuelanos em situação de vulnerabilidade social.

Além da nova polêmica, a comissão parlamentar de investigação de delitos denunciou que a gestão anterior da Assembleia, de maioria opositora, e presidida por Juan Guaidó, gerou um prejuízo estimado em US$ 90 bilhões à Venezuela, por meio da promoção de sanções econômicas contra o país.

Maduro assegurou estar pronto para dialogar com a oposição nas mesas de negociação que devem começar em agosto, no México / Foto: Prensa Presidencial

Eleições regionais

No aspecto eleitoral, a missão de verificação da União Europeia continua em Caracas, acompanhando as auditorias ao sistema eleitoral venezuelano e preparando uma série de sugestões para aperfeiçoar o processo. De acordo com o diretor do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Roberto Picón, ao finalizar a visita do grupo de especialistas, o poder eleitoral deve assinar um memorando de entendimento com a UE.

O CNE também presta apoio aos partidos que irão realizar eleições primárias. O opositor Ação Democrática, membro do G4, grupo dos quatro maiores partidos de oposição, foi um dos que já sinalizou que irá realizar primárias. Enquanto o governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) realizou uma primeira etapa de seleção interna e irá a primárias no dia 5 de agosto.

No dia 21 de novembro, a Venezuela deve eleger governadores, prefeitos e vereadores. O processo eleitoral é visto como mais um passo para a recuperação econômica do país.

Fonte: Brasil de Fato

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