Visão Global

Súmula Internacional 03 – 31/03/2023

União Europeia – “Uma desconexão da China não é viável”

O Jornal O Globo reproduz, na edição desta sexta-feira (31), duras declarações da presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre a China. Segundo ela, o país socialista viola os direitos humanos, endurece sua posição militar (engraçado ouvir esta acusação vinda da boca de uma defensora da Otan), promove campanhas de desinformação e coerção por todo o mundo etc. Mas em determinado momento, diz ela, segundo O Globo: “nossas relações (com a China) não são só preto ou branco. E nossas respostas tampouco. Temos que nos concentrar em eliminar os riscos da relação, não em desconectar. Uma desconexão da China não é viável, nem do interesse da Europa. A China é um sócio comercial fundamental”. O jornal informa ainda que o premier espanhol Pedro Sánchez está na China e terá uma reunião com Xi Jinping. A própria Ursula von der Leyen estará em Pequim na semana que vem, acompanhada do presidente francês, Emmanuel Macron. Interessante notar um aspecto: nunca se ouve, da boca de Xi Jinping, um ataque duro, público e direto a qualquer país, nem mesmo aos Estados Unidos, diferente do que se escuta cotidianamente dos líderes ocidentais, pródigos em usar dos mais ofensivos adjetivos em relação à China. Suspeita-se, entretanto, que a portas fechadas, diante do “sócio fundamental”, o tom seja diferente. De ambos os lados.

Cuba: Vitória da Democracia Popular

A presidenta do Conselho Nacional Eleitoral de Cuba (CEN), Alina Balseiro, informou, nesta quinta-feira (30), os números finais da eleição para a Assembleia Nacional do Poder Popular, realizada no último domingo (26). Balseiro explicou que seis milhões 164 mil 876 eleitores compareceram às urnas naquele dia, o que representa 75,87% de um cadastro atualizado de oito milhões 129 mil 321 cubanos. A aparente frieza dos números pode deixar passar despercebida o que foi uma grande vitória política da revolução. A mídia hegemônica brasileira faz, em coro, as mesmas acusações: “são 470 candidatos para 470 vagas”, “só o partido comunista participa”, etc. Em relação à primeira acusação, o fato é que a votação final nos candidatos é o ápice de um longo e livre processo de discussão onde o povo debate exaustivamente até aprovar o nome que irá representar a região (bairro, distrito, cidade) no parlamento. Nesta etapa existe disputa e muitos candidatos são descartados pelos critérios soberanos do povo. O Partido Comunista de Cuba não é um partido eleitoral, não participa nem indica candidatos. Qualquer cidadão ou cidadã, com a idade mínima exigida, filiado ou não ao partido, é habilitado para ser candidato. Mas com base nas distorções e falsas acusações, a contrarrevolução, financiada a peso de ouro por Washington e tentando explorar as dificuldades que a população enfrenta por conta do bloqueio, promoveu uma milionária campanha nas redes incentivando a abstenção. Como o voto em Cuba não é obrigatório, o ato de ir votar é um inequívoco gesto de apoio à democracia socialista, e nada menos do que 75,87% dos eleitores inscritos compareceram. O voto é secreto e se um candidato da lista dos 470 não alcançar mais de 50%, não é eleito. Contudo, 61% dos eleitores votaram por toda a lista e mais de 500 mil votaram seletivamente em nomes de sua preferência, o que revela a legitimidade e solidez da democracia popular nesse país caribenho. O processo eleitoral cubano será concluído em 19 de abril com a posse do novo parlamento e a eleição de sua liderança, do Conselho de Estado, do Presidente e do Vice-Presidente da República.

Trump é primeiro ex-presidente dos EUA a ser indiciado criminalmente

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump (2017-2021) foi, nesta quinta-feira (30) formalmente acusado pelo suposto pagamento de suborno à atriz pornô Stormy Daniels. O caso ocorreu na reta final da última campanha presidencial, quando o então advogado de Trump, Michael Cohen, pagou US$ 130 mil dólares a Stormy para silenciá-la em relação a seu caso amoroso com Trump. Ficou provado que Trump, com verba de campanha, ressarciu Cohen. Michael Cohen confessou o suborno, disse que o fez a mando de Trump, foi preso e expulso da Ordem dos Advogados. Trump, em plena campanha para a voltar à Casa Branca, tendo para isso que enfrentar as primárias no partido republicano, declarou que o promotor responsável pela proposta de indiciamento é democrata e que o processo faz parte de perseguição política “no nível mais alto da história”.

Trump réu – Próximos passos

O grande júri é um instrumento legal que existe em 47 dos 50 estados americanos. Ele não decide que um réu é culpado ou inocente, apenas se existem motivos suficientes para se iniciar um processo. No grande júri de Nova Iorque, que decidiu pelo indiciamento de Trump, quem tomou a decisão foram 23 jurados escolhidos aleatoriamente e que decidem por maioria simples. O próximo passo é o que se chama de “rendição”, quando o acusado se apresenta à Corte (no caso de Trump a Suprema Corte de Manhattan) para ter conhecimento da acusação, ser fotografado e ter as digitais colhidas.

Trump réu – A possibilidade de um impasse

Sobre a presença de Donald Trump na audiência de acusação especula-se muita coisa: que a audiência seria virtual, para evitar constrangimentos e tumultos, que Trump, por motivos publicitários preferia comparecer pessoalmente e até ser algemado, ou que simplesmente não compareceria na próxima terça-feira (4), data inicialmente prevista. Neste caso, Nova Iorque teria que solicitar a extradição de Trump ao estado da Flórida, governado pelo republicano Ron DeSantis, principal rival de Trump à indicação para concorrer à presidência nas primárias do partido republicano. DeSantis, no entanto, afinado com o sentimento da maioria dos eleitores republicanos, que considera o processo uma vingança dos democratas, já adiantou que não extraditará o correligionário, o que pode gerar um impasse crítico: “A Flórida não ajudará em um pedido de extradição, dadas as circunstâncias questionáveis em relação a esse promotor de Manhattan apoiado por Soros e sua agenda política”, afirmou o governador.

Brasil não assinou

Sem enviar representantes para a “Cúpula pela Democracia” promovida por Biden (dias 29 e 30), o Brasil foi convidado a assinar a declaração final do evento e declinou. Em carta enviada pelo presidente Lula aos organizadores, a qual o jornal O Globo teve acesso, o presidente brasileiro diz que “a bandeira da defesa da democracia não pode ser utilizada para erguer muros nem criar divisões. Defender a democracia é lutar pela paz. O diálogo é o melhor caminho para a construção de consensos”. O governo do Brasil também discordou do uso da declaração final para atacar a Rússia.

Último passo: Parlamento turco aprova entrada da Finlândia na Otan

O último passo para formalizar a entrada da Finlândia na Otan foi dado nesta quinta-feira, quando o parlamento turco aprovou por unanimidade (276 votos) a candidatura de Helsinque. Era o único  obstáculo que restava para a nação nórdica se tornar oficialmente um membro de pleno direito do bloco militar liderado pelos Estados Unidos. A Turquia foi o último dos 30 membros da Otan a endossar a candidatura. O governo de Recep Erdogan basicamente exigiu que a Finlândia reprimisse grupos curdos que atuam em seu território e que a Turquia classifica como terroristas, mesma exigência que está fazendo em relação a Suécia, que também está enfrentando dificuldades em conseguir o aval da Turquia para sua entrada no bloco militar imperialista. Recentemente, Erdogan declarou que Estocolmo abriga “terroristas” curdos e não cumpre suas promessas.

Reino Unido: prateleiras vazias

A agência de notícias Reuters, citada pela RT, informa que os consumidores do Reino Unido podem ter que se acostumar com prateleiras vazias nos supermercados devido à escassez sem precedentes de vegetais frescos em meio à inflação recorde dos preços dos alimentos e aos custos de energia disparados. Os compradores britânicos estão enfrentando escassez de alimentos frescos há meses, já que as vendas de tomates, pepinos, pimentas e algumas frutas foram limitadas pela maioria dos maiores supermercados do país devido à deficiência de abastecimento. As más condições climáticas interromperam as colheitas na Europa e no norte da África, enquanto a inflação levou a custos mais altos para a produção dos principais mercados do Reino Unido, como a Espanha, segundo a Reuters.

Correspondente preso – A versão russa

Tem sido amplamente divulgada a prisão do correspondente do Wall Street Journal, Evan Gershkovich pelo governo russo, que acusa o jornalista de espionagem. A mídia estadunidense tem exigido uma dura resposta de Biden, inclusive a expulsão de todos os jornalistas russos sediados nos EUA. Já as forças de segurança da Federação Russa alegam que Evan foi preso em flagrante colhendo dados de inteligência com segredos do estado. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou: “o que quer que Gershkovich estivesse fazendo quando foi detido, não tinha nada a ver com jornalismo“. Ela argumentou que o status de correspondente já havia sido usado como disfarce por outros cidadãos ocidentais que tentavam obter informações secretas russas.

Papa Francisco melhora e igreja pede perdão por colonialismo

E o colonialismo no Século XXI?

O Vaticano informou nesta quinta-feira que a saúde do Papa Francisco melhora progressivamente. Segundo a assessoria de imprensa da Santa Sé, o Papa “leu alguns jornais e voltou ao trabalho”. Talvez por conta de que o Papa retomou o batente, neste mesmo dia o Vaticano fez mea-culpa do passado colonial da Igreja na América, revogando as bulas papais que autorizavam as potências europeias a colonizarem povos não cristãos, incluindo a permissão para a escravidão dos indígenas. É um gesto importante pois fortalece a luta anticolonial, ainda que com 6 séculos de atraso. Porém, como não existe máquina do tempo para desfazer os erros do passado, um conselho despretensioso para dar efetividade a este reconhecimento tardio seria que a Santa Sé fosse mais assertiva nos casos coloniais que permanecem atualmente e envergonham a humanidade, com por exemplo, a ocupação da Palestina por Israel, de Porto Rico pelos EUA, das Malvinas pelo Reino Unido e do Saara Ocidental por Marrocos, sem falar nas atitudes neocolonialistas que movem o imperialismo dos EUA e da União Europeia.

Por Wevergton Brito Lima

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